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28 de outubro de 2020, 3:45pm

FERNANDO

Saímos do hotel em direção ao táxi que pedimos pelo interfone. Aproveitamos mais essa tarde para tomarmos o último café da manhã aqui, nunca comi croissants tão maravilhosos iguais aos que Gustavo achou numa padaria no quarteirão da rua de trás.

- Você pode ir pondo as malas no porta-malas, meu lindo?

- Ah, claro, aonde você vai?

- Preciso me despedir de Zach – um, dois, três e..

- Ain, o Zach vai ficar triste, não sei o que você vê tanto nele – sabia hahaha

- Gustavo, ele é meu amigo

- E eu sou seu namorado!

Ouvir isso ainda é meio assustador, mas é um assombro bom. Cara, ele é meu namorado, sabe?

- Para de ser ciumento, seu tóxico – digo dando um soquinho em seu ombro

Ele bufa pegando as malas do chão. Eu não sei de onde veio todo esse receio, como se em algum dia eu fosse capaz de largá-lo. Mas acho fofo que ele se importe tanto com nós assim, porém vamos com calma.

Entro de volta e vou até o guichê seis. Ainda me lembro da primeira vez que entrei aqui. De como Zach me recepcionou, tão alegre, tão receptivo. Nesse guichê, pude ver que ainda existe pureza no meio de tanto caos.

Só que dessa vez, ele está vazio. Limpo. Como se ninguém nunca tivesse trabalhado ali antes.

Sinto ao arrepio passear pelo meu pescoço. Olho para a divisória ao lado e a uma moça, está vestida com o mesmo uniforme que todos os outros funcionários. Uma coisa que Zach não fazia fez.

- Com licença, a senhorita poderia me dizer se o Senhor Sobiech, o funcionário deste guichê – bato com o indicador repetidamente na mesa – veio trabalhar hoje?

Ela puxa as duas sobrancelhas para o centro da face, como se não tivesse entendido muito bem a minha pergunta

- Bem, não vi ninguém bater o cartão nessa mesa, senhor. Nenhum funcionário trabalhou aí hoje.

- Mas existe algum colega seu que trabalha aqui? Certo? Ou, ou ela n-nunca foi usada

- Para ser sincera, eu nunca vi se quer um cliente sentado nesta cadeira. Mas as vezes o Zach, certo? Deve trabalhar num turno diferente do meu.

- O-obrigado

Não moça, ele trabalhava aqui, ele, ele trabalhava no período da tarde. Eu tenho certeza.

Espero que isso não seja uma brincadeira, pois não estou gostando nada dela.

- Tudo bem, amor?

Gustavo aparece atrás de mim.

- AH – dou uma contraída nos braços com o susto – VOCÊ VAI ME MATAR COM ESSAS CHEGADAS DO NADA, HOUDINI.

- Eiei, calma – ele passa a mão por cima de meu ombro – achei errado também não vir me despedir de Zach, não cheguei a conhecê-lo, mas se é seu amigo só pode ser gente boa.

- E eu acho que você nem vai, ele não está aqui. Ele desapareceu, como se nunca tivesse existido.

- Efeito Mandela?

- Deixa de ser besta, só queria poder me despedir dele.

Gustavo começa a apalmar os bolsos um por um, até que encontra um pedaço de papel com uma caneta.

I'll see u againOnde histórias criam vida. Descubra agora