Aaron Monthorn
As meninas chegavam hoje. Mas do jeito que o Palácio andava agitado você poderia dizer que elas já tinham ocupado todo o lugar, mesmo sem estarem lá, ainda. Não importava o horário, se eu estivesse saindo de uma reunião tarde da noite sempre tinha um grupo de criadas correndo com algo em mãos para a chegada das selecionadas. Ninguém havia me consultado para absolutamente nada, e eu estava bem com aquilo. Amélia havia assumido a liderança de preparar tudo para a chegada e estadia das meninas, e eu estava tremendamente grato por aquilo.
Eu havia feito uma entrevista antes da hora com todas por telefone. Em uma tentativa de ter uma desculpa para acabar com aquilo antes de começar. Mas surpreendentemente, algumas conversas haviam sido até agradáveis, e eu me vi desejoso para conhecer algumas delas. Embora também tivesse tido as conversas em que eu mal poderia esperar para acabar logo, e me sentia tentado a fazer um corte antes mesmo do início. Mas eu já havia quebrado diversos protocolos ao entrar em contato com elas antes da hora. Eu não poderia apenas eliminar algumas sem conhecê-las de fato, era o que a equipe de conselheiros dizia. Mas eu estava tão farto deles também...
— Aaron.
Meu tio chamou, e desviei minha atenção da janela que mostrava a visão do jardim, os últimos preparativos sendo feitos, funcionários se alinhando sob o comando de Amélia para receber as selecionadas. Me voltei para ele, que estava sentado me olhando com a sobrancelha arqueada inquisitivamente.
— Você não pode mais evitar isso.
Ele alertou, quase como se pudesse ler meus pensamentos. Dei um sorriso amargo.
— Eu não vou.
Garanti me afastando de vez da janela e me sentando na cadeira em frente a ele. Meu tio era duque, mas na realidade ele deveria ter sido rei. Ele tinha aberto a mão de seu direito por algo que sequer valia a pena lembrar. Já que ele nunca disse o motivo. Me perguntava se tinha valido a pena. Mas considerando onde meu pai estava agora, consequência de ser rei, e onde meu tio estava agora, consequência de não ter sido um. Imaginava que tivesse. Ele era incrivelmente parecido com o meu pai, e nas últimas vezes que o vi não consegui disfarçar meu incômodo. Como um bom observado, ele sabia disso. Olhando para o lado, cerrando a mandíbula, repeti mais uma vez o que tinha falado diversas vezes nos últimos dias:
— Eu estou de coração aberto para a seleção.
Mentira, pura mentira.
Não olhei para ele, mas podia sentir que ele também sabia que minhas palavras não enganavam ninguém. Pelo o canto de olho consegui ver ele ajeitar o terno e se levantar.
— Quer um conselho?
Não, respondi mentalmente. Mas ele prosseguiu diante do meu silêncio.
— Repita isso para si mesmo até se tornar verdade.
E com a sua droga de conselho motivacional, ele se foi.
O som de carros atraiu minha atenção, e me levantei mais uma vez indo até a janela novamente. E consegui ver o vislumbre de cabelos tão escuros quanto a noite. Luna Campbell, reconheci.
Pegando a garrafa de whisky, enchi o copo e virei de uma só vez.
[...]
Pelo o resto do dia, tudo que ouvi foram vozes femininas, independentemente de onde estivesse. Aparentemente, elas estavam em todos os lugares. Tomando conta do lugar. Apenas pela noite, que os murmúrios animados se tornaram distantes. Privilégios de ter pelo menos algo intocado por elas, a ala da família real. Mas conforme eu desci as escadas para o jantar, isso se manteve. Vozes ao longe, e agora o lugar tinha sido preenchido por uma animação que eu quase podia tocar se quisesse. Era uma energia que elas haviam trago para o ambiente. E parecia estranho dado que eu tinha vivido ali a minha vida toda, e tudo que eu conhecia era o silêncio.
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A Seleção, Aaron Monthorn
FanfictionEm uma noite de inverno, o rei e a rainha foram a um evento que ocorria fora do Palácio, onde todos os anos eles frequentavam e eram os convidados de honra. Mas naquela noite fria e gelada, o evento não teve a ilustre presença dos líderes da nação...