Amabel
EU ESTAVA num misto de ansiedade e nervosismo. Faltavam apenas meia hora para a hora da minha entrevista de emprego e minha barriga resolveu começar a doer.
Sério, era uma reação comum quando eu estava nervosa com alguma coisa.
Mentalmente, comecei a me pedir foco. Eu sou uma pessoa interativa, que ama conversar e aprender coisas novas. O que mais uma empresa poderia pedir de uma funcionária?
Talvez experiência, no entanto, é uma editora e, pelo que eu li, não precisava de faculdades, nem experiência para a vaga.
Menos mal.
Como cheguei muito cedo, resolvi me sentar em um café que fica em frente ao prédio onde se localiza a editora e esperar dar a hora. Não pedi nada para não acelerar o processo do meu sistema digestivo.
Enquanto estava checando a maquiagem pela décima vez na câmera frontal do meu celular, uma garçonete depositou uma xícara com café sobre a mesa. Bloqueei o celular e olhei para ela:
— Desculpe, mas não pedi nada.
— Cortesía de la casa. — disse ela com um sorriso simpático.
Quê?
A mulher fala espanhol.
Sem saber falar e percebendo que ela pode não ter me entendido também, começo a tentar explicar.
— No quiero! — gesticulei para o café. — Sorry, mas no pedi isso.
Ela franziu o cenho. Compreensível, já que nem eu fazia ideia do que estava falando.
— Quieres leche o algo más?
Minha nossa senhora!
— No! Please, descuelpe-me! No quiero café! No... — tento lembrar de alguma palavra em espanhol. Sem sucesso. — fiz este... pedido!
— Puedes hacer cualquier pedido. Estaré encantada de ayudarte!
Oh, meu Jesus!
A dor de barriga apertou ainda mais. Podia sentir que ia explodir a qualquer momento, era um fato. Uma gota de suor escorreu pela minha espinha quando o nervosismo aumentou. Eu estava prestes a abrir a boca e jogar um "Fala feito gente!" quando uma voz masculina interrompeu, falando alguma coisa para a mulher, que apenas sorriu, acenou para mim e levou o café.