Ele.

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Eu não podia acreditar no que meus olhos estavam vendo. Aqui, bem aqui na minha frente. Aqueles mesmos olhos cor-de-mel me observando com bastante dúvida.
Era a porra daquele garoto que eu envenenei o coração. Mas como podia ser ele? E por que ele está na casa do Lucas?

"Me desculpe, mas já não nos conhecemos?" Pergunta o garoto a quem eu enfiei uma faca no coração, não, não nos conhecemos, é claro.
"Ahm.. É.. Não" Digo um pouco confusa e até atordoada com toda a situação. Ele não se lembra de mim?
"Tudo bem. Veio a procura do Lucas? Ele saiu faz poucas horas, mas acredito que já esteja voltando. Vai querer esperá-lo?" Ele diz abrindo um pouco mais a porta e se afastando para o lado, abrindo passagem.

Não. Não, Drizella, nem por um segundo pense em ficar no mesmo recinto que ele, não com ele. Se bem que, Lucas provavelmente já deve estar chegando, e eu tenho que resolver toda essa história louca.

"Ok, tudo bem" Digo quebrando o silêncio que se acomodou por conta de meus pensamentos.

A casa de Lucas, e desse estranho, era bem organizada e limpa. Havia uma estante cheia de livros a mostra, que me chamava bastante atenção, deve ser pelo meu amor incubado por livros. Me aproximei mais da estante para observar mais de perto, e notei uma das minhas sequências preferidas de livro: After.
Lucas lia? Ele não parece ser o tipo de cara que curte livros.

"Já li até o três. É realmente bom. Não me arrependi de ter comprado." Diz o garoto a qual não sei o nome.

Então os livros são dele? Então, além de ter olhos super cativantes, uma boa aparência, ele ainda gosta de livros? O garoto que eu enfiei a porra de uma faca bem no coração e que não se lembra de mim? Tudo bem.

Me sentei no sofá, já impaciente pela demora torturante de Lucas, e pelo desconforto explícito em estar diante desse menino misterioso.

"Qual o seu nome?" Quebrei o silêncio, observando-o.
"O meu? É.. bom, Harvey" Respondeu aparentemente nervoso.
"Harvey, certo." Mordi o lábio inferior um pouco mais nervosa.

Por que eu me sinto nervosa assim? E por que me sinto tão curiosa por querer conhecer um pouco mais dele? E a pergunta mais importante: Como ele está vivo?

"Parece que ele chegou" Apontou Harvey enquanto colocava as duas mãos no bolso e caminhava até a porta.

"Sinto muito pela demora, Dri" Lucas adentrou a casa, limpando os sapatos no tapete.
"Tudo bem, não demorou tanto assim." Menti.
"Bom, já que ele chegou, vou deixá-los a sós. Aproveitem" Harvey piscou para Lucas, o que claramente o deixou bem desconfortável pela cor vermelha em suas bochechas.

"Precisamos conversar, Lucas."
"Acho que não temos muito o que conversar. E aliás, por que está falando comigo?" Ele enrolava uma mecha de seu cabelo entre os dedos.
"Porque eu sou sua amiga, e não acredito no que aquela vac.." Dei uma pausa após notar as palavras que quase saíram. "As palavras que aquela garota disse a seu respeito."

Lucas pareceu notar o que eu ia falar, já que levou sua mão até a boca e deu uma risadinha leve.
Ele fica um fofo quando sorri, suas covinhas são marcantes e suas bochechas sorriem juntos com seus olhos meigos.

"A verdade é que talvez, bem lá no fundo, eu realmente seja um mentiroso." Admitiu Lucas, um pouco sem graça.
"Mentiroso? Não, Lucas, você pode ser tudo, menos mentiro..."
"Eu gosto dela." Revelou antes mesmo de me deixar concluir.

O silêncio pareou sobre nós por curtos segundos. Um silêncio desconfortável.

"E por que isso te torna mentiroso?"
"Porque eu nunca contei isso a ela, e.."
"Há quanto tempo?"
"Desde que eu a vi pela primeira vez, quando tínhamos apenas 11 anos, ela foi a única garota que quis brincar comigo no recreio da escola e ainda dividiu seu sanduíche comigo" Lucas conta, viajando sobre suas lembranças.

"E por quê não conta a ela?"
"Ah, Dri, você acha mesmo que uma garota tão incrível quanto ela, sentiria o mesmo por mim?" Ele morde o lábio inferior e abaixa a cabeça.
"Sim. Você é tão incrível quanto ela, e vocês ficam bem juntos." Levo uma mão até seu ombro.
"Jura?" Ele sorri, feliz com a minha resposta.
"Juro. E vocês precisam se resolver. Precisamos mostrar a ela que aquela vaca idiota estava mentindo."
"Tudo bem, e obrigado por ter me procurado e me incentivado." Ele olha em meus olhos e posso até notar a sua gratidão através de seu olhar.

Lucas é uma pessoa boa, diferentemente de mim, que sou totalmente o contrário, mas aqui estou eu ajudando esse garoto inocentemente bom a recuperar a sua "amiga".

"Lucas, posso lhe perguntar algo? Espero que não seja estranho." Mordo minha bochecha.
"Claro que sim"
"Quem é aquele garoto.. Harvey, acho que é esse o seu nome" Sinto minhas bochechas corarem.
"Ah, o meu irmão?" Ele ri e balança a cabeça. "Somos irmãos, ele é bem diferente de mim, por isso nunca acham que temos o mesmo sangue."

Sangue. Sangue...

"Irmãos? Jura? Meu Deus! Vocês são realmente bem diferentes."
"Sim. Realmente somos" Ele diz e mostra aqueles lindos dentes brancos e simétricos. Mas, de repente, sua expressão parece mudar para uma tensa.
"Ei, tá tudo bem? Falei algo errado?"
"É que.. Harvey está.." Ele não termina a frase e lágrimas tomam conta de seu rosto preocupado.
Eu o tomo em um abraço, deixando que desabe sobre mim.

Harvey está...?

A EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora