Montanha de sacos de lixo

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Kyle

– É o último. – Anunciava aliviado em relação ao grande saco de lixo que ele jogava junto dos trinta formando um montinho do lado de fora, na parede do salão. Mais um pouco e seria possível fazer um forte. 

– Como é possível fazer tanta sujeira em apenas algumas horas? – Cale se perguntava enquanto terminava de jogar alguns baldes de água na grama. 

Ele era a única pessoa me ajudando naquele momento. Elliot, Noah e a banda voltaram à cidade para levar os instrumentos de volta. E eu havia insistido para que Rodrick fosse dormir, pois sua exaustão estava quase criando vida enquanto o mesmo dormia encostado na vassoura.

"Rod…?"

"NÃO TO DORMINDO!", era o que ele dizia, acordando de seu cochilo no paraíso.

Esclareci para os outros cinco monitores que eu gostaria de limpar toda a bagunça sozinho, por sentir que a culpa de toda aquela baderna era única e exclusivamente minha, que eles focassem nas atividades do acampamento pro dia de hoje e todo o resto de seus afazeres, muito mais importantes. Aquilo era minha responsabilidade.

E Lynch. Bom… Eu sabia que ambos Vincent, Noah e eu ouviríamos uma bela comida de rabo dele daqui há algumas horas. 

– Bem vindo a uma festa de adolescentes. – Me deito na grama seca, expirando e soltando um suspiro exausto. 

Ouço apenas um grunhido de Cale em resposta, não sabendo muito bem o que aquilo significava. 

– Se você quiser, pode ir dormir. – Digo. 

– É a quarta vez que você diz isso e mais uma vez eu te respondo que tá tudo bem. Eu me comprometi a te ajudar. – Dizia ele enquanto espalhava a água pela grama com um rodo. – E a gente já terminou, eu acho.

– Terminamos? – Levantava minha cabeça, olhando em volta e então pegando o meu celular para observar o horário. Já eram quase seis da manhã e o tempo parecia não ter passado nem um pouco, mas já estávamos lá fazia umas duas horas arrumando tudo. E tudo parecia estar nos conformes. Ou no limite do mesmo.

Prestando atenção agora, era possível notar o céu clareando. E até aquele momento, não tinha nem se tocado do frio que estava fazendo, mas ainda assim não me incomodava. 

Cale se deita ao meu lado, afastado a alguns centímetros de mim. Ele faz o mesmo suspiro exausto que eu havia feito ao me jogar na grama e começa a olhar pro céu, talvez apenas observando o nada, preso dentro de seus pensamentos assim como eu.

– Você passou mal? – Pergunto repentinamente lembrando de ter recebido a informação em algum momento de alguém na festa sobre isso.

– O que?

– Com a bebida. Soube que não virou muito bem pra você. 

Um momento de silêncio me permitia ouvir os pássaros cantando em uma árvore próxima.

– É o que eu devia esperar não tendo bebido desse jeito desde… nunca. 

Eu devia ter me policiado sobre Cale ter bebido. Deveria saber que não ia virar nada bem pra ele de nenhuma forma possível. Na verdade, me arrependia cada vez mais dessa ideia de ter trazido álcool pra festa. Vendo agora, era completamente improvável de dar certo. 

A noite inteira e todas as minhas decisões sobre agora pareciam completamente egoístas e irresponsáveis. Uma onda gigantesca de culpa me invadia, mas tentava despistá-la, não tentando pensar nisso naquele momento. De qualquer forma, as consequências disso iam continuar acontecendo assim que o dia aparecesse completamente.

– Meu deus – Coloco minhas mãos no meu rosto. – Eu ainda tenho tanta coisa pra fazer e tudo que eu queria era deitar e apagar por horas.

Cale permanece em silêncio. Mas eu sabia que era porque ele só não sabia o que falar, não porque não se importava com o que eu dizia.

Mais um momento em silêncio me faz aguçar os meus sentidos um pouco mais sobre o que estava ao meu redor. O ar estava extremamente agradável, junto dos sons que a natureza fazia, criando vida sem a barulheira de vários adolescentes. O lago estava na nossa frente, se expandindo pelo horizonte onde o sol começava a nascer e expandir a luz em nossos rostos. 

– Uau. – Cale dizia impressionado, possivelmente reparando nisso também.

Olho para ele, que agora tinha apoiado seus braços no chão, observando o pôr do sol. Os olhos dele brilhavam com a luz em seu rosto, tornando o castanho em uma cor caramelo que era muito bonita de se apreciar. 

– Pois é. – Abro um leve sorriso, observando novamente o mesmo que ele. – Essa vista não cansa nunca.

Cale

Eu deveria me importar mais com paisagens como a que eu via. O acampamento sob o amanhecer parecia uma floresta de uma obra de fantasia, das que eu tanto costumo ver nos meus filmes favoritos. 

Uma epifania me abatia ao lembrar que paisagens como aquela eram muito mais comuns na minha vida do que eu pensava. Eu, assim como todo mundo, só não fazia questão de reparar nelas ao meu redor a todo tempo. Parecia que nas vezes que eu saia de casa, não fazia questão nenhuma de reparar nisso tudo. No mundo.

Cara, em que mundo eu estava vivendo esse tempo todo?

Em um instante, a euforia me dominava me fazendo sentir que podia fazer qualquer coisa. Eu queria fazer todas as atividades que eu pudesse no acampamento, aproveitar o verão inteiro e tudo aquilo ao meu redor. A natureza. Os ambientes que nunca aproveitei direito na minha vida.  Parecia que tudo aquilo me transmitia essa sensação, me reabastecendo.

Tanto que meu sono era completamente inexistente naquele momento, assim como qualquer sinal de dor de cabeça ou qualquer sintoma de ressaca. Eu estava me sentindo bem, em vários sentidos.

– E quais são as atividades pra ho… – Olhava para Jones, vendo a sua situação. Seus braços cruzados em seu peito como se estivesse morto. E de alguma forma, ele realmente estava. 

Ele parecia… bonito naquela vista. Finalmente tranquilo depois de tanto stress em suas costas. Era como se eu fosse uma câmera prestes a tirar uma foto perfeita daquele momento. 

Resolvi fazê-lo, pegando meu celular e o recordando.

Jones solta um ronco ao meu lado. Sabia que tinha que acordá-lo uma hora. Mas eu sem sombra de dúvidas não o faria naquele momento.

Camp JonesOnde histórias criam vida. Descubra agora