capítulo nove.

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— Minha mãe quer conhecer você.

Era domingo de manhã, pouco mais de sete horas e Johnny parecia desperto demais. Ele havia, simplesmente, aparecido ali e quase arrancado o botão da companhia com os dedos. Depois dos beijos que trocaram no sábado e das mensagens engraçadinhas de Johnny no domingo, ele tinha simplesmente desaparecido do mapa por uma semana inteira. Yua não ligara e Johnny também não o tinha feito, parecia algo que o moreno fazia com frequência, sumir e reaparecer quando Nakamoto menos esperava.

Yuta franziu o cenho, coçando seus olhos. Tinha tido uma noite péssima, resultado de uma semana longa demais.

— Você não dorme?

Johnny sorriu, curvando-se para depositar um selinho em seus lábios, antes de passar por ele e entrar no apartamento. O beijo roubado foi suficiente para despertar Yuta, que abriu os olhos em choque. Era a primeira vez que Johnny entrava ali, e era a primeira vez que o cumprimentava daquele jeito.

— Isso é um convite? — Seo murmurou, encostando-se contra o balcão que dividia a cozinha da sala. Yuta revirou os olhos, fechando a porta. — Estou sendo evasivo?

Yuta passou por ele, dando a volta no balcão. Precisava de um café e quem sabe assim, entenderia um pouco o que Johnny falava.

— Está. — murmurou, ligando a cafeteira. Virou-se para o moreno, vendo-o se virar e apoiar os cotovelos sobre o mármore. O queixo apoiado sobre as mãos e um sorriso descarado entre os lábios. — Onde esteve?

Johnny aumentou o sorriso, provavelmente maquinando uma resposta que não responderia nada.

— Ficou preocupado?

Yuta voltou sua atenção para a cafeteira, bufando. Não tinha como não se preocupar, Johnny parecia ignorar todos os sinais de avisos e limites.

— Não precisa ficar preocupado. — o moreno voltou a murmurou, erguendo seu torso do balcão, adentrando a cozinha. Yuta sentiu suas mãos circularem sua cintura e o nariz de Johnny deslizar por sua nuca. Apertou os olhos, sentindo toda sua pele se arrepiar. — Rápido demais? — acenou em negação, virando seu corpo, ficando de frente com o moreno. Yuta não era um homem pequeno, mas se parecia com um quando Johnny se aproximava daquela maneira. — Estive em uma das filiais, fora de Chicago. — Johnny sussurrou, aproximando seu rosto do de Yuta. Era difícil raciocinar, quando ele ficava tão perto. Yuta fechou os olhos. — Sentiu saudades?

Saudades. Parecia uma palavra tão forte e ainda assim, a única que conseguia explicar seu sentimento durante toda a semana. Não conseguia disfarçar seu mal humor e tinha dito à si mesmo — dezenas de vezes — que não era por conta do sumiço do moreno.

Negou com a cabeça, ouvindo o riso baixo de Johnny. Seo firmou as mãos, apertando-o contra o armário. O corpo duro e firme, pressionando-o contra a superfície de madeira.

— Tem certeza?

Yuta voltou a negar, erguendo seus braços para tocar os ombros de Johnny, antes de encaminhar suas mãos para a nuca do mesmo e trazer seu rosto para mais perto. Beijar Johnny era como mergulhar em um mar turbulento e escuro, ao mesmo tempo que parecia-se com o ato de se agarrar à um bote salva-vidas. Era confuso e aliviador, e Yuta não conseguia se manter afastado.

Deixou que a língua de Johnny encontrasse a dele e aprofundasse o beijo, mantendo suas mãos firmes para não despencar. Os dedos de Johnny apertando a pele de seu quadril por cima da camiseta fina, esquentando todo seu corpo. Nada de bom poderia sair daquilo, mas seria delicioso errar.

Permitiu que as mãos do moreno se tornassem mais ousadas e ajudou-o nos movimentos para senta-lo sobre o armário. As mãos firmes contra suas coxas, curiosas e famintas, enquanto seus lábios pareciam desesperados por mais. Johnny o beijava com a mesma intensidade de antes, mas à cada toque, ele desfazia os nós que existiam em Yuta e tornava tudo novo, como se jamais tivesse sido sentido.

Yuta suspirou contra seus lábios, antes de afastar sua boca da dele. Johnny permaneceu com os olhos fechados, mesmo quando as pontas dos dedos do ruivo traçaram sua pele. Ele continuava com a fisionomia exausta, como se não dormisse há séculos, como se nunca descansasse. Seus ferimentos já tinham desaparecido, mas Yuta tinha certeza que encontraria novos, se procurasse por eles.

— Você precisa dormir. — soprou, deslizando seus dedos pelos lábios do outro. Finos e ressecados, deixando óbvio o quanto o cansaço o abalava.

— Está falando como médico? — Johnny riu, abrindo suas pálpebras. Suas mãos ainda descansavam sobre as coxas de Yuta, mas ele parecia ter recobrado o controle sobre si mesmo.

— Estou falando como quem se preocupa com você. — respondeu, segurando o rosto de Johnny entre suas mãos. Aproximou novamente seus rostos, deixando um beijo em seus lábios antes de se afastar. — Meu sofá está livre essa noite.

Johnny soltou um muxoxo, escondendo um sorriso em sua careta.

— Nada de cama? — perguntou, vendo Yuta negar com uma risada. Ajudou o ruivo a descer do armário, dando-lhe espaço para sair e encostando seu próprio corpo por lá. — Eu daria minha cama para você.

Yuta riu, quebrando dois ovos na frigideira. Johnny podia imaginar seu rosto, sem nem ao menos vê-lo.

Adorava os momentos com Yuta, por parecerem simples, por se sentir vivo de uma forma pacífica. Jamais imaginou que seria daquela forma, quando o viu no bar em seu primeiro dia na cidade. O ruivo, sentado ao lado de Tom, parecendo delicioso em suas roupas claras, parecia muito mais apetitoso agora que o conhecia. A inocência contida em olhos que já pareciam ter sofrido demais por uma vida inteira. Johnny queria compartilhar com ele a paz que Yuta dava-lhe, queria que ele se sentisse daquela forma. Leve e livre.

— Com você nela? — Yuta perguntou, sua voz saindo brincalhona em palavras tão ousadas. Johnny jamais podaria suas assas.

— Você adoraria. — resmungou, incapaz de barrar seus pensamentos, entrando na brincadeira. Estalou a língua, descendo seus olhos pelo corpo de Yuta. A curva perfeita de sua bunda. Johnny lambeu os lábios, antes de suspirar e desviar o olhar. — Então...

— Então... — Yuta repetiu mecanicamente, fazendo Johnny rir.

— Quando pode jantar com a gente? — perguntou, sendo rápido e direto. Yuta virou o rosto para ele, apertando seus olhos. — Hoje?

Nakamoto voltou sua atenção para o que fazia. Johnny parecia não ter medo de pisar no acelerador, mas ele tinha.

— Não acha cedo demais?

O moreno conteve o riso, desligando a cafeteira. Yuta voltou a olha-lo, indicando a mesa com a cabeça. Johnny se sentou, levando a jarra de café consigo.

— É um jantar de amigos, doutor, não de noivado.

Yuta não respondeu imediatamente, demorando-se em colocar os ovos com o bacon em seus pratos. Soltou o suspiro, se sentando.

— Parece importante.

Johnny deu de ombros, partindo o omelete com a faca. Estava faminto, não conseguira se sentar para comer com calma nos últimos dias.

— É porque você ainda não conhece minha família. — murmurou, ainda com a boca cheia. Yuta quis rir. Mesmo que aquele ato fosse contra todas as regras de etiqueta que aprendera durante toda sua vida, não pudera deixar de achar adorável. E um pouco nojento. — Além do mais, Lucas e os garotos vão estar lá.

Lucas e os garotos. Johnny falava com ele, como se Yuta estivesse totalmente por dentro de tudo. Mas tudo bem, seria mais fácil se tivesse um rosto conhecido por lá.

— Como está Sérgio? — perguntou, tentando ganhar tempo enquanto mastigava.

— Dramatizando. — Johnny respondeu, rindo baixo. — Isso é um "sim, Johnny, irei"?

Yuta revirou os olhos. Johnny não desistiria — ele, não queria que Johnny desistisse. Apertou os lábios; assentindo.

— É, é um sim.

Dogs of War {Johnyu ver.}Onde histórias criam vida. Descubra agora