Capítulo 2: Joshua

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Sabrina está esticada no sofá verde oliva, com suas costas apoiadas nas minhas pernas. Seus cabelos loiros estão presos num coque bagunçado, o que a deixa ainda mais bonita. Sorrio. Gosto de ficar observando seus traços. Ela parece uma bonequinha.

"O que foi?", ela ri. Está segurando um livro. Ainda estou tentando descobrir qual é.

"Nada... Só estou pensando".

Ela retorna sua atenção para as páginas amareladas. O calor é insuportável, mas mesmo assim gosto da sensação de tê-la junto a mim. Puxo Brina para mais perto, para poder ler a página e descobrir de que romance se trata.

Ela resmunga baixinho, já que eu atrapalhei sua leitura. Mas eu não ligo e me esticando, descubro que ela está lendo Hamlet.

Elas são tão parecidas.

Ela ama Hamlet.

Liv ama Hamlet.

Fico triste por lembrar dela, mas ao mesmo tempo sinto um quentinho no coração por conta dos ótimos momentos que tivemos. Gostava de pensar que era para sempre. Queria saber se ela ainda se lembra de mim como o Josh que foi seu melhor amigo e não como o babaca que partiu seu coração.

"Você me ouviu?", Brina cutuca minhas cochas.

"Ah... desculpa, amor, eu estava distraído", eu sorrio amarelo. Amor. Deveria soar estranho assim?

"Tudo bem, Josh. Eu perguntei se você já leu", ela diz apontando com a cabeça para o livro. "Eu sempre choro quando Ofélia se suicida".

Gosto do jeito como ela sempre é calma e não se importa de me explicar o que for que seja mil vezes.

"Você acha que ela se suicidou?", eu pergunto.

Odeio pensar na Liv quando estou com a Brina. É como um deja vu... Mas elas são tão opostas de vez em quando. Olivia sempre achou que Ofélia morrera por um acidente, fazendo com que Hamlet sentisse a dor da perda de quem ele mais amava e visse que estava fora de si.

Já Sabrina acabara de me dizer que ela se matara.

Okay. Eu tenho que parar de pensar sobre Hamlet.

Sobre Brina.

Mas principalmente, eu deveria parar de pensar na Olivia.

Olivia é minha Ofélia. Quando nós terminamos, foi como  a morte da personagem. Eu seria Hamlet, e percebi que estava louco. Não sei exatamente o porquê da loucura. Mas estava ou estou fora de mim.

Porém, se for pensar como Brina, eu deduzo que eu e Olivia estávamos destinados a não ficarmos juntos. Nós sabíamos que nosso amor acabaria se suicidando. Nos matando por dentro.

Okay, Joshua. Hora de dormir. De repente meus pensamentos se voltaram para mortes, Hamlet, Ofélia, Brina... Liv.

Dou um beijo na testa de Sabrina e subo as escadas até o quarto. Visto um pijama e vou fechar as cortinas da sacadinha. Quando olho para a rua deserta, sinto os braços de Brina ao redor da minha cintura. Seu cheirinho de baunilha é tão bom. A sensação de seus pés serem tão delicados ao ponto de não ouvir seus passos me faz imaginá-la como uma figura angelical, como se suas asinhas a tivessem trazido até mim.

Nosso relacionamento é ótimo, mas nem sempre parece real. Ergo as sobrancelhas e beijo sua bochecha corada pelo calor. Enchê-la de beijos nunca vai perder a graça.

Quando olho para fora, vejo um carro familiar passando devagar. 

Puta merda.

É o carro da mãe da Liv.

É a Liv.

O garoto que me ensinou a dirigirOnde histórias criam vida. Descubra agora