Capítulo Único

1.1K 122 131
                                    

Jirou olhou no relógio de seu celular. 02:06 da madrugada. Os grilos cantavam uma sintonia doce, enquanto uma brisa fresca entrava pela porta da sala, quebrando o calor que os corpos reunidos naquela festa do pijama exalavam. Ela ainda não conseguira dormir, e o motivo estava bem ao seu lado: Kaminari. Ela não iria admitir, mas inconscientemente planejou tudo para que as camas dos dois estivessem uma ao lado da outra. Sem um pingo de sono, Jirou se sentou, respirando fundo, e olhou para Kaminari.

Ele dormia todo encolhidinho, mas tranquilamente. A boca entreaberta soltando leves suspiros, o cabelo compridinho caindo sobre seus olhos, o pescoço macio exposto, a mão calejada dos treinos, as unhas curtas pintadas de preto... absolutamente lindo. Pitico. Tudinho para ela. Seu coração doía de tanto ela que o queria e lhe queria, nos dois sentidos do verbo. Ela se aproximou dele, ficando na divisão entre os dois colchões.

─ Ei, Kaminari — chamou suavemente, cutucando-o. Ela insistiu mais um pouco, até ele resmungar um pouco e abrir os olhos, confuso.

— Jirou? O que foi?

— Posso te beijar?

Agora sim ele estava confuso.

— Uai, assim do nada? Por que agora?

— Porque, se você disser não ou se for uma bosta, amanhã eu posso fingir que você sonhou tudo.

Ele piscou algumas vezes. Por ainda estar grogue de sono, aquela explicação lhe parece bem razoável, e aquele cenário, nem tão adverso quanto realmente era.

— Hmm, faz sentido. É um ótimo plano. — Ele sussurrou, o sono o fazendo esquecer de que ele estava inserido na situação, e que tinha uma pergunta a responder. Só lembrou desse fato ao reparar na expressão ansiosa de Jirou.

Ele pensou um pouco. Na verdade, talvez pensar fosse uma palavra muito forte; metade de seu cérebro ainda estava dormindo. Mas ele ficou observando-a até seus olhos se fixarem em seus lábios, e ele responder:

— Bom, se é assim, eu posso fingir que isso é um sonho agora e responder sim, tipo, sem pensar em como vou te encarar amanhã?

Jirou abriu um sorriso ladino e carinhoso ao mesmo tempo, passando para o colchão dele, os olhos alternando entre observar os olhos e os lábios de Kaminari.

— Acredito que eu não teria problemas com isso. É bem crível, na verdade, — ela sussurrou brincalhona, agora com os lábios a milímetros dos do outro. — levando em consideração que você é o meu sonho.

E o espaço foi cessado. Os lábios começaram a fazer movimentos preguiçosos, sonolentos, sem pressa alguma. Kaminari segurava o pescoço dela, fazendo carinho nos cabelos de sua nuca, enquanto Jirou com uma mão acariciava ternamente uma das bochechas dele, e com o outra abraçava sua cintura, puxando-o cada vez mais para perto. Os atos de ambos causavam arrepios deliciosos em suas espinhas, incentivando-os a continuar e intensificar as trocas de carinho.

Os movimentos eram feitos de maneira lenta e preguiçosa, por conta de Kaminari ainda estar sonolento, mas vocês querem saber a verdade? Isso só deixava tudo mais excitante. E até, por outro lado, confortável. Eles não tinham pressa ou desespero para se sentirem, eles apenas queriam aproveitar aquele momento tão naturalmente quando a brisa daquele noite calma.

Jirou transferiu seus beijos agora na pele de Kami. Fez uma trilha passando pelo maxilar, queixo, pomo de adão e pescoço, enquanto o garoto erguia a cabeça para dar-lhe acesso, soltando suspiros. Ela colocou seu nariz na curva do pescoço e inspirou o cheiro da pele de Kaminari: sabonete Dove de baunilha somado com o cheiro característico dele, que transmitia à garota, mais que tudo, conforto.

Ela parou com os beijos, comprimiu os lábios e apertou seus braços em volta da cintura dele, em um abraço forte, permanecendo com o nariz em seu pescoço. Kaminari não se assustou, pelo contrário: retribuiu o abraço envolvendo seus braços nos ombros dela, fazendo carinho com o polegar, com os olhos sonolentos fechados e um sorriso suave nos lábios.

Kyoka o amava romanticamente, e isso era claro. Mas mais do que isso, tinha medo de perder a conexão que os dois já tinham criado durante a amizade, e é esse era, entre tantos outros, o sentimento que ela tentou expressar com aquele abraço. Ajeitou sua posição, ficando com o peito em frente ao peito dele, e apertou mais forte ainda. Kaminari retribuiu igualmente, e não poderia ter dado maior comprovação de que estava tudo bem. Jirou suspirou aliviada algumas vezes, sentindo o peso em seu peito saindo, como palavras ditas sem precisarem ser pronunciadas.

E foi assim que pegaram no sono. Na manhã seguinte, Jirou acordou mais cedo que todos. Ela tinha esse estranho mecanismo biológico de que, quanto mais tarde dormia, mais cedo acordava. Ela sentiu o desconforto da falta de um travesseiro, o frio matinal em seu rosto, que era aplacada pelo calor do cobertor macio e também pelo calor de outra coisa...

Foi então que notou que ainda estava abraçada com Denki, apesar de mais fracamente que na noite anterior. Observou o rosto do mesmo com a luz do sol que entrava nas frestas da cortina cinza. Dessa vez ele tinha a boca aberta, babando um pouco. Ela riu e suspirou, grata pelo que aconteceu. Deu um beijo singelo na testa dele, se enrolou no cobertor que estava sobrando na sua cama e levantou.

Ela foi à cozinha, fez um copo de nescau, colocou sucrilhos em uma vasilha, pegou ambos, andou até a varanda da casa e se deitou na rede que já estava lá. E ficou lá, observando o céu, escutando os passarinhos, sentindo o cheiro característico da manhã daquela cidade enquanto tomava seu café da manhã digno de uma criança de 5 anos.

Ela escutou alguém abrindo a porta, se virou e viu Kami. Ela ficou insegura, pensando em como estaria a relação deles depois da noite passada, mas assim que percebeu que ele mal conseguia manter os olhos abertos de sono, soltou uma risada. Ele se arrastou até a rede, jogou-se ao lado dela, de barriga para baixo e cabeça apoiada acima dos ombros alheios, se aconchegando debaixo do cobertor ao lado dela.

─ Bom dia. ─ Jirou disse, e ele respondeu com um resmungo incompreensível e sonolento, tirando mais risadas baixas da outra. ─ Por que acordou tão cedo? Vai voltar a dormir.

─ Culpa tua. A falta do seu calor me acordou. ─ Ele respondeu emburrado. Jirou sorriu junto ao seu peito que aquecia.

─ Ah é?

─ Sim. ─ Ele respondeu sério, finalmente abrindo (minimamente) os olhos para encará-la preguiçosamente e abrir um bico birrento. Jirou encarou de volta e roubou um selinho daquele bico.

─ Ei. Você me roubou um beijo.

─ É, eu roubei. Vai fazer o que?

─ Eu vou pegar de volta.

E assim o fez.

***

Então é isso, espero que tenham gostado dessa oneshot tanto quanto eu gostei de escrever ela, porque a Jirou atrevidinha e com atitude vive na minha cabeça rent free 24/7 KKKKKKKKKKKKKKKKK

E não esqueçam de votar no capítulo se gostaram, ajuda muito!

Posso te beijar? - kamijirouOnde histórias criam vida. Descubra agora