Pesada sempre se encontra a fronte coroada

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Dentre os passadiços, jazz suave resplandecia, harmonizado ao som de murmúrios distantes e simultâneos e até mesmo o espectro de risos, conduzindo passos do hall ao persuasivo salão de baile. O hall a ser dito, esculpia somente uma amostra do luxo legítimo presente no núcleo de tal lugar, ainda sim, uma fronte pomposa e digna, a moldura de uma obra-prima, pilastras maciças e rebuscadas de contorno, o conjunto paredes e teto revestido pelo papel de parede dourado, caracterizado por incontáveis ornamentos floridos, e claro, aquelas que presenteavam matiz ao ambiente não podiam faltar, as luminárias. Tudo isso para mascarar que havia algo de podre na família Ohara.

"Mari!" Clamou uma voz de timbre ligeiramente irritadiço, a aludida de prontidão capturou o vislumbre de olhos de coloração magenta pertencentes a certo anjo caído em carcaça de humana.

"Buonasera, Yohane." Mari demorou um bocado para replicar ao chamado, visto que ainda se perdia nos arredores da majestosa casa, embora fosse uma postura ilógica, pois, literalmente, era proprietária de cada metro quadrado ali.

"Por um momento, comecei a suspeitar que não viria mais!"

"Atrasar faz parte do charme." Formulou um sorriso sucinto, mas cheio de graça "Onde está Riri?"

A herdeira da família Ohara contornou as vistas pela cercania entre as duas, estranhando não ter deparado Tsushima Yohane com sua habitual companhia.

"Já está lá dentro, à nossa espera."

"Você está sendo séria demais para meu gosto hoje." Apontou, embalando uma mão amistosa nas costas da sua comparsa, e engrandecendo o sorriso, em uma quase risada. "Há alguma surpresinha para mim?"

"Oh," a Tsushima retribuiu o riso, tentando desanuviar do semblante um crescente desespero "Você nem faz ideia."

Abriram-se as portas. E tão cedo, passam a se revelar as iluminações tênues, os adornos exorbitando aresta por aresta, muitos deles cobertos com joias, um bufê variado, e as mesas postas com um tecido alabastrino que por pouco não se resvala no piso, nestas sentavam-se distintas pessoas, que dispunham de duas particularidades em comum, são da alta classe, e nenhuma ciente do fato de que herdeira da aplaudida rede de hotelaria Ohara é corrupta, no sentido mais absoluto da palavra. Sob o sousplat, rodavam conversas ora sobre o monopólio de suas corporações, ora sobre a prosperidade de suas famílias, e por falar em família: a filha única dos Ohara era realmente ao cargo em suas mãos, ou ela só serviria para enterrar o nome da família?

Era uma parte dos cochichos que cessavam conforme se aproximava a sombra do foco destes. A estrela da noite dirigiu-lhes um conhecedor, contendo-se ao máximo o ímpeto de gargalhar de tanto rir da ingenuidade e petulância dos presentes naquelas assembleias de imensa pequenez.

Atravessando a fileira de mesas, deu-se o encontro ao ponto final de seu prévio percurso, o núcleo de seus planos notívagos. Perante o tampo nivelado, o rosto de Riko, a segunda consigliere, se ergue em direção à dupla, detendo um semblante pouco brando, as labaredas do candelabro centralizado na mesa servindo para acentuar as feições nimbosas.

"Está gracinha esta noite." Referiu-se a Riko, em um tom semi assobiado, e com malícia já adicionava "Esses contornos pretos e grossos nas suas pálpebras são uma nova moda?"

"Sinto-me... lisonjeada." Desconsiderando a falta de delicadeza no comentário que caiu nas saudações, replicou, esforçando-se para reprimir a fadiga.

"Não a subestime assim, Mari, lembre-se que a aura de alma penada, vítima de atropelamento, é o que concebe o je ne sais quoi* dessa beleza." Pairou as mãos airosamente, em uma gesticulação reverencial.

Ode aos ErrosOnde histórias criam vida. Descubra agora