QUATRO CAÇADORES NUM CARRO PRETO
Não sabia como, mas Alyssa havia conseguido ficar sóbria e terminar de arrumar as malas minutos antes de João chegar.
O cheiro de Malbec a atingiu antes mesmo que o senhor saísse do carro. A loira deu a última olhada no que fora o seu quarto nos últimos anos, sentindo que uma parte dela também ficaria ali, assim como ficara na sua antiga casa e na sua antiga vida.
Não era, afinal, algo que ela não conseguiria lidar. Já estava se acostumando com o fato de que a dor no seu peito apenas aumentava no lugar de diminuir, e que a cada segundo ficava mais difícil aceitar no que a sua vida estava se tornando. Ainda achava que, no final do dia, ela acordaria na sua cama, arfando, e logo Giovanna, sua irmã mais nova, apareceria correndo para confortá-la e dizer que aquilo fora apenas mais um dos seus pesadelos.
Quando a pandemia havia começado, anos antes, Alyssa também achava que acordaria de um pesadelo – esse que estava sendo vivido por todos do mundo e não apenas ela. Achou que, no final, aquilo tudo se assemelhava mais à um dos seus livros favoritos que à vida real, mas não era assim que as coisas funcionavam.
Pegou as fotos que tinha da família e escondeu dentro do travesseiro. Se João soubesse que ela as tinha, sem dúvida todos os seus pertences seriam queimados como garantia.
Jogou a bolsa no ombro, terminando de ajeitar alguns detalhes da maquiagem no grande espelho (que ela nunca mais veria). O seu nariz era levemente torto para a esquerda, e ela nunca teria reparado nisso se o seu médico não a tivesse dito cinco anos antes – agora, ela mesma sentia vontade de quebra-lo para ver se não conseguia arrumar a situação. Passou mais blush para dar uma sensação de vida.
Ironicamente.......
A vontade era de fazer uma das suas maquiagens pesadas, mas João havia implorado para que ela desse o seu melhor para se misturar, o que envolvia não chamar atenção desnecessária (se possível, nem uma) e não deixar que ninguém descobrisse que ela estava morta.
Okay, tinham muito mais regras, mas essas eram as mais importantes e provavelmente as únicas das quais Alyssa havia se dado o trabalho de prestar atenção.
— Pronta? — João perguntou. O seu sorriso torto beirava o cinismo, mas também vinha carregado de uma preocupação necessária.
Ele usava a sua famosa jaqueta de couro marrom e chapéu preto. Era assim que ele se vestia quando estava indo se reunir com outros caçadores, caçar ou quando precisava fazer algo relacionado a isso – mas nunca, jamais, para se misturar na sociedade. Nesses casos ele usava o chapéu branco e camisas coloridas.
Ela sabia o que isso significava, mas não estava muito afim de falar sobre.
Mesmo assim, a sua curiosidade falava mais alto.
— Você acha que nós vamos ser atacados no caminho? — ela perguntou enquanto carregava as malas para a saveiro rebaixada do senhor.
João abriu um sorriso sincero. — Espero que sim.
Por mais que Alyssa odiasse admitir, até que seria divertido se fosse o caso. Fazia tempo que ela não caçava; por mais que a sua caça fosse diferente da de João, já que ele caçava seres como ela e ela se alimentava de pessoas como ele.
Depois de terminar as coisas e entrar na saveiro, Alyssa deu uma última olhada na casa antes de virar a esquina, indo direto para a sua nova vida.
Uma hora você vai precisar ter uma vida normal. João havia dito poucas semanas depois que eles se conheceram.
Bem, não era como se ela realmente fosse ter uma vida normal, mas sim algo próximo disso. Como caçador, João sabia melhor que muitos vampiros como se esconder no mundo humano e passar despercebidos, mas como humano, ele pouco sabia como controlar os instintos que ela tinha.
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TALVEZ AS ESTRELAS SEJAM FEITAS DE SANGUE
FantasyAlyssa tinha dezessete anos quando morreu misteriosamente num acidente em um parque. Ao acordar no hospital, ciente de que algo havia mudado, o seu primeiro instinto foi apenas fugir como se a sua vida dependesse disso - e realmente dependia. Três a...