Solidão

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Um soco certeiro em seu nariz.

— Seu grandalhão idiota! O que você está fazendo, pensando no namoradinho??? — sua mestra, Nana Shimura, gritou furiosa.

Toshinori reclamou, afinal os socos de sua mestra eram extremamente fortes.

— Sem reclamar, seu bunda mole!!!

O loiro se sentiu ofendido — Isso não é verdade, eu não estou malhando atoa! — defendeu sua dianteira com mau humor.

Nana só pôde revirar os olhos, pensando que seu aluno deveria ter um humor melhor. — Não dá para continuarmos com você nas nuvens, preciso que você esteja aqui na terra para treinarmos. Vai dizer o que está incomodando você?

— Não, não precisa se preocupar mestra, não é nada demais. — suspirou, sabia que essa desculpa não iria convencer ela.

— Tá bom, agora cai fora. — disse sorrindo.

O loiro ficou momentos com cara de paisagem, ele tinha entendido certo? — Você... Está me expulsando?

— Sim, volte aqui quando se resolver consigo mesmo. Bye bye. — acenou bem humorada e pegou uma garrafa d'água para se refrescar.

— Mas... — Toshinori estava embasbacado, sua mestra teria mesmo coragem de expulsa-lo?

Nana largou a garrafa e foi até seu discípulo. — Se não consegue treinar, não venha. E, quando vir, venha com um... — Ela posicionou a ponta de seus indicadores nos cantos dos lábios do adolescente, os esticando. — sorriso!

E foi assim que Toshinori Yagi foi expulso do galpão em que treinava com sua mestra, o galpão que antes era entulhado em lixo e ele mesmo o limpou na força bruta. "Tsc, eu levei tanto tempo para limpar esse lugar para no final ser expulso, nunca fui tão injustiçado!" Chorou em pensamentos. Yagi não queria voltar para casa cedo então resolveu que treinaria sozinho e assim começou uma sessão pesada de treino solitário, primeiro deu 100 voltas no bairro, apenas para se aquecer. Logo depois, em um canto isolado de um lindo parque florestal, começou com flexões e abdominais. E foi assim até deitar no chão exausto. Fechou seus olhos tentando regular sua respiração.

— Boa noite, jovem Yagi. — uma voz doce e acolhedora foi ouvida e, ao abrir seus olhos, viu uma fofa idosa olhando para si e sorrindo até seus olhos formarem apenas uma fina linha. — Está treinando tão duro, jovem Yagi. Por que não faz uma pausa enquanto toma um sorvete?

— É uma ótima ideia, senhora Ozu. — respondeu animado, era impossível não se animar quando se está com a simpática senhora Ozu e sorvete. Comprou um sorvete de morango com prazer e se esforçou em ser tão simpático quanto a senhora. O loiro gostava de idosos, eles eram tão sábios. Pensava em ser tão simpático e agradável quanto aquela senhora quando se aposentar.

Ao anoitecer, Toshinori resolve voltar para sua casa e, criando coragem, deu seu primeiro passo... Mas calma lá, o loiro viu um vulto familiar do outro lado do parque.

— Shouta? — perguntou para si mesmo, imediatamente se escondendo para não ser visto.

O que o moreno amante de camas estava fazendo fora de casa em uma tarde de quinta-feira? Shouta nunca saia de casa, apenas para comprar algo no mercadinho quando sua mãe mandava, mas ele estava sem sacolas. Isso é tão suspeito que ele não se aguentou e seguiu Shouta tentando ao máximo ser o mais discreto possível. Pena que ele era tudo, menos discreto.

"Ele ao menos suspeita, tão ingênuo." Pensou o loiro orgulhoso de si.

— Vou avisar a professora Rousseau que você precisa urgentemente de aulas de reforço para espionagem. — disse o moreno de repente.

Toshinori olhou em volta, só havia os dois ao redor então o menor só poderia estar falando com ele.

— Sai daí logo, idiota.

— Merda, você tem olhos na nuca? — o loiro não via sentido em continuar "escondido" então foi a vista de Shouta e caminhou até seu lado.

— Não, tenho ouvidos. — voltou a caminhar.

Toshinori o seguiu. — Desculpe, ok? Eu estava só passando, sabe como é.

— Passando atrás de postes e latas de lixos a quatro quadras?

— ... É...

Toshinori continuou seguindo Shouta, mas, dessa vez, ao seu lado. Ele mal cabia em si mesmo, querendo perguntar ao homem ao seu lado o que estava acontecendo, mas ele deveria ser compreensivo e esperar o momento para o moreno se expressar por conta própria, certo?

Não, errado.

— Então, vai falar o que está acontecendo? — perguntou como quem não quer nada, mas para Aizawa era óbvio que o outro estava se contorcendo em curiosidade.

— Não está acontecendo nada. — claro, Shouta estava mentindo porque era engraçado ver Toshinori assim, mas nunca admitiria.

Toshinori gritou mentalmente, mas não disse nada mais pois percebeu estar em frente a casa dos Aizawa. — Agora, pare de me seguir. Se quer minha companhia é só ligar, seu estranho.

— Eu já pedi desculpa. Boa noite para você também.

Ele ouviu um "boa noite" arrastado e se deu por satisfeito, por fim deixando a casa simples e andando pelas ruas desertas, de repente se sentindo solitário e desejando voltar a treinar até cair, talvez assim não se sentisse tão só. Um suspiro deixou seus lábios ressecados, ele definitivamente compraria um hidratante labial. Seus pensamentos fluíram até a treino falho com sua mestra, ele estava tão aéreo que foi expulso. Afinal, o que estava acontecendo consigo? Ele precisa treinar, ser forte e derrotar All For One. Ele não tinha tempo para coisas triviais como pensar em... Nele.

O loiro sacudiu sua cabeça. "Droga, por que logo ele?" se perguntou, sentindo-se miserável. O que Todoroki faria se soubesse o poder que tem sobre ele? Com certeza estaria fodido, disso tinha certeza. Um sorriso brotou em seus lábios, pensando se era algum tipo de masoquista. Logo o sorriso se desfez, quem ele queria enganar? Não poderia se dar ao luxo de fanficar uma vida ao lado de qualquer pessoa, além de herói era portador do One For All e consequentemente responsável por derrotar um dos -se não o maior- vilão que existe, ter um ponto fraco apenas colocaria em risco quem ele ama.

Não, definitivamente, com toda a certeza, não!

Estava decidido, não colocaria a vida de Enji em risco. Afinal, não era como se Todoroki nutrisse sentimentos por ele, não é mesmo? Não era saudável se iludir assim.

Com sua mais novo decisão, entrou em sua casa.

— Bem vindo de volta, irmão.

— I-Ichiro? — perguntou surpreso, não era sempre que poderia ver seu irmão mais velho assim. — Você está tão... Descontraído. — mencionou após observar a camiseta com estampa florida do outro loiro, ele estava no melhor estilo Havaí.

— Vou levar isso como um elogio, maninho.

Ichiro se aproximou do mais novo e deu fracos tapinhas no ombro dele enquanto ria. Toshinori o olhou admirado. Ichiro era, definitivamente, o homem mais forte que Toshinori conheceu, pensar em todas as coisas que seu irmão mais velho passou para dar conforto a sua família... Era de se admirar. Como único adulto capaz de trabalhar da casa, ele pegou toda a responsabilidade de os sustentar financeiramente para que sua familiar tenha uma vida tranquila. Ele ganhava bem por se destacar na empresa em que trabalha, por isso os Yagi não passavam dificuldades, mas mesmo assim Toshinori se sentia mal por não colaborar tanto quanto poderia, essa era a razão da casa estar sempre impecavelmente limpa.

— Ah, maninho! Quase me esqueci, um amigo seu veio te visitar.

— Amigo? — Toshinori não se recordava de ter dito seu endereço para alguém além de Shouta, além disso, ele havia se afastado de todos seus antigos amigos do colegial e colegas de classe.

— Ele não se apresentou, apenas saiu bufando quando disse que você não estava. 

Mosaico [Hiatus]Onde histórias criam vida. Descubra agora