Acordo com o barulho do despertador barulhento do meu quarto. Pisco, tentando ajustar meus olhos à claridade, quando os eventos da noite anterior invadem meus pensamentos como uma enxurrada de lembranças das quais não me orgulho. A claridade que vem da janela do meu quarto passa através das frestas da cortina e logo começo a me arrepender de ter aceitado o convite de ir à festa da Olivia em pleno domingo, em véspera de prova.
— Taylor! — Joseph se aproxima de mim com uma bebida na mão, me pegando desprevenida. - Seu irmão sabe que está aqui?
Quero responder que não é da conta dele, mas as consequências disso fazem presença em meus temores de ser dedurada por ter ido à festa sem permissão. Quando me viro para encará-lo, no entanto, minha cabeça deixa de assimilar qualquer medo que tenho do meu irmão descobrir que é assim que eu me divirto nos fins de semana. Os olhos hipnotizantes do garoto me fitam com uma curiosidade tão latente, que posso jurar que se estivesse só um pouco mais embriagada teria beijado ele ali mesmo, sem menção de negar isso.
— Ele não sabe. E você não foi convidado pra essa festa, Joseph — repreendo-o, na defensiva.Descabelada e sentindo uma dor de cabeça insuportável, meu corpo se arrasta preguiçosamente para o banheiro do corredor. Ouço um movimento incomum no andar de baixo e meus nervos reagem à voz que acompanha a do meu irmão em uma conversa descontraída e familiar.
Que merda...
Aquele sotaque acentuado inconfundível alarma os meus sentidos. Que diabos Joseph faz aqui em casa tão cedo?
Subitamente desperta, entro no banheiro com pressa e penteio meu cabelo para não passar vergonha quando eu tiver que descer as escadas e lidar com a sua desconcertante presença. Quando chego no andar de baixo, encontro os olhares dele e do meu irmão sobre mim e fico paralisada.
— Que bom que acordou — Liam levanta os braços, parecendo verdadeiramente bem-humorado. — Vou até a cozinha fazer o café da manhã.
Joseph balança a cabeça, agradecendo.
E meu irmão sai, deixando-me na companhia de seu colega de classe, completamente a sós. Nós nos encaramos, cúmplices, e estou cada vez mais convencida que ele não confidenciou a Liam meu segredo. Nosso segredo.
Mordendo o lábio inferior, ele diz:
— Bom dia, Taylor.
E sorri do jeito sedutor que já estou familiarizada.
Reviro os olhos, impaciente. Meu sobrenome, sempre pronunciado sugestivamente por aquele sotaque britânico impossível de ignorar, desperta uma sensação inoportuna na minha barriga. É conflitante encontrá-lo pela manhã e ter que lidar com isso tão cedo. Ele só quer ser casual antes de transformar-se na criatura desagradável de sempre.
— Bom dia... Bolton — respondo na mesma moeda, sem olhar diretamente em seus olhos. Aqueles lindos globos azuis me encaram sobre a bancada.
Joseph Bolton é o melhor amigo do meu irmão mais velho, Liam. E por isso está constantemente aqui em casa, como um inquilino impossível de se livrar. Seus cabelos negros e olhos claros, sempre motivo de suspiros aleatórios na universidade, fazem dele um indivíduo atraente e presunçoso.
— Dormiu bem? — Joseph provoca, já prevendo qual seria a minha reação.
Coro instantaneamente com a pergunta. Ele precisa ser sempre tão incoveniente?
— Muito bem, obrigada — finjo que não entendi a insinuação óbvia à minha noite de farra, e um sorriso irritante toma conta do seu rosto. Se ali tivesse um buraco para me esconder, com certeza é o que eu faria agora.