Parte Três

76 1 0
                                    

Ainda estou com os olhos fechados quando sinto a sua língua quente entrando na minha boca, seus braços enlaçando-me pela cintura e colando os nossos corpos em um perfeito déjà vú da noite passada. Não faço menção de me afastar ou tentar compreender os seus motivos, só penso em puxá-lo para mais perto e morder o seu lábio inferior em sinal de aprovação, me sentindo mais leve e entorpecida.

Céus, o que está acontecendo comigo?

Tomada por uma epifania, empurro seu peito com força para trás, fazendo-o gemer em surpresa. Ele me olha confuso, com a boca inchada e pupilas dilatadas, mas parece tão absorto em pensamentos quanto eu. Quero gritar minhas frustrações, xingá-lo de mil maneiras diferentes por conseguir me afetar dessa forma sem fazer nenhum esforço.

- O que você pensa que está fazendo? - Digo alto demais, subitamente me dando conta da situação.

- Eu poderia te perguntar a mesma coisa. - Ele passa as mãos pelo cabelo, fazendo-o ficar levemente bagunçado. - Qual é o problema, Taylor? Já fizemos isso antes!

Fica irritado apenas por um segundo e, sem perder a pose, volta com a sua típica expressão de quem não liga para nada daquilo. Arg!

- Estávamos bêbados ontem! - Respondo na defensiva. - Você não pode me beijar sempre que quiser!

Joseph começa a ponderar sobre o que eu disse, como se a minha permissão nunca tivesse sequer passado pela sua cabeça, e seu rosto, por um segundo, mostra uma vulnerabilidade que nunca antes consegui enxergar. Ele está inquieto e impaciente assim como eu.

- Então que merda eu preciso fazer para poder te beijar? - Ele pergunta, soando ligeiramente desesperado. Meus olhos se arregalam, divididos entre espanto e curiosidade.

- Ahn?

Sou incapaz de dizer algo coerente em resposta. Seus olhos azuis, de repente, não estão brilhantes de desejo e sim ofuscados pela rejeição, como se implorassem por permissividade.

Por um segundo, aquele não é o Joseph que conheço.

- Por que nós não... - Ele começa a dizer algo que parece deixá-lo desconfortável, então incentivo-o com o olhar, completamente a favor da sua mudança repentina de atitude. Seus traços de confiança se desfazem e voltam na mesma velocidade que se foram. - Saímos juntos?

Abro a boca, sem conseguir deixar de olhá-lo em busca de um sinal de que seja apenas uma brincadeira. Mas ele permanece impassível, fitando-me de volta com os olhos nublados em expectativa.

Levanto o dedo indicador, sinalizando que preciso assimilar as suas palavras.

- Você está me chamando para sair? - Digo isso em total incredulidade, sentindo uma vontade louca de gargalhar, e, caso ele esteja falando sério, de aceitar o maldito convite logo
em seguida. Afinal, não é exatamente isso o que eu quero? Quando torno a fitá-lo, no entanto, vejo a maneira como ele olha para mim e não consigo esboçar nem um meio sorriso. Sei muito bem que é imprudente sair com o amigo do meu irmão, e Joseph parece entender exatamente o que estou pensando.

- Já entendi, não precisa dizer mais nada. - Ele desconversa, voltando a ser o mestre da indiferença em questão de segundos. Eu odeio quando ele faz isso. Basta um só pensamento que pode ferir o seu ego, que ele logo volta a usar essa máscara que o impede de dizer o que realmente quer.

Talvez ele não se lembre que está falando comigo.

- Você é um idiota. - Não consigo deixar de ressaltar, fazendo-o engolir seco. - Se quer realmente ouvir um "sim" vindo daqui - aponto para a minha boca - você tem que merecer.

Fico satisfeita, sabendo que é exatamente o que Bolton precisa ouvir para deixar de ser tão imbecil.

- Ah, é? - Ele arqueia as sobrancelhas, com um belo sorriso instigador no rosto. - E o que eu devo fazer para atender os vossos desejos, Majestade?

Ele semicerra os olhos, desafiando-me, enquanto demonstra total confiança no roteiro que está seguindo. Agora sim estamos falando no mesmo idioma.

- Pois bem, - meus braços se cruzam em seriedade. - eu não gosto nem um pouco de relacionamentos indefinidos. Se você chega no meu quarto, na minha casa, e faz o que bem quiser comigo, eu quero saber exatamente que tipo de relação nós temos.

Abro o jogo, surpresa por ter sido tão direta. Não há mais volta e nem adianta me sentir envergonhada agora. Ele me olha como se já esperasse ouvir exatamente o que eu disse, e a julgar como sendo algo totalmente previsível vindo de mim, eu não duvido nada que ele já soubesse.

- Se você realmente me deixasse fazer o que eu quero fazer com você, eu talvez pudesse ter a resposta para essa questão. - Contrapõe com a língua afiada, como se soubesse exatamente como me convencer. - Se sair comigo amanhã, saiba que dizer "sim" para que eu a beije será apenas o primeiro "sim" que você vai me dizer. - Ele pisca, com sua fala cheia de segundas intenções, e meu joelho quase derrete com a ideia por trás daquelas palavras.

Com a aura de uma confiança inegável, ele deixa o meu quarto antes que meus neurônios voltem ao normal, e eu sequer consigo mover meus lábios para admitir que estou disposta a dizer qualquer coisa que ele queira ouvir de mim, e que nem seria preciso sair com ele para isso!

Agradecendo mentalmente por ter sido deixada sozinha antes de perder a minha dignidade, encaro a porta fechada a minha frente e tento entender o que ficou decidido entre nós. Tudo o que consigo pensar são em seus olhos azuis frágeis e apreensivos que vi na primeira vez em que me convidou para sair, e o que mudou nesses últimos momentos de nossa breve conversa quando suas temeridades foram rapidamente substituídas por uma certeza avassaladora do meu consentimento.

Será então que, mesmo depois de tantos anos, só agora sou capaz de entender que estou completamente viciada em Joseph Bolton? Em tê-lo sempre por perto? Em reclamar de sua má conduta? Amaldiçoa-lo por ser tão inconveniente? E recentemente, poder tocá-lo?

Desconfio que sim.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 08, 2015 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Night OutOnde histórias criam vida. Descubra agora