Parte Dois

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Quando chego no primeiro andar da Universidade, estou batendo os pés de raiva a caminho do refeitório, sem me importar com a passagem cheia de alunos que me impedem de avançar.

- Eu odeio cálculo! - Minha voz se sobressai na mesa onde Olivia conversa com uma garota que eu nunca vi, e as duas cessam o assunto. - Que merda de prova foi aquela?

Contrariada, não consigo pensar em nada que não seja ameaçar meu professor de morte em troca de uma nota mais alta. O que há de errado comigo? Quanto mais reflito sobre isso, mais me convenço de que o maldito beijo é o culpado. Fui pega desprevenida em um momento que estava vulnerável e alcoolizada, o que normalmente não é motivo para justificar essa distração, mas Joseph, de alguma maneira distorcida que só ele é capaz de fazer, consegue se impregnar na minha memória e sabotá-la, e fazer com que eu não consiga pensar em mais nada que não seja a sua língua se enfiando na minha boca. Se isso prejudica o meu desempenho em matemática de alguma forma, então a minha situação está pior do que sou capaz de julgar.

- Kate? - Vejo Olivia estalando os dedos, tirando-me de uma longa linha de raciocínio. - O que aconteceu?

- É que essa prova foi tão... - Começo a procurar pela palavra certa, mas sei que a prova não teve nada de errado e isso me deixa furiosa. - Quer saber? É tudo culpa do Bolton! - Desabafo em frustração, sabendo que estou sendo infantil. Será que existe homem mais impossível do que Joseph e seu charme?

Olivia tenta conter uma risada, sem sucesso. A garota que está ao seu lado parece desconfortável e permanece em silêncio ao me encarar com curiosidade.

- Essa é Sky. - Liv a apresenta, como se lesse meus pensamentos, e Sky sorri timidamente em cumprimento. Pisco, um pouco confusa ao me lembrar que Olivia conversava com ela no telefone mais cedo. - Estamos namorando. - Acrescenta, só para confirmar se tinha ficado óbvio.

O que?

Sorrio de volta para as duas e me sento na mesa, disposta a entender o que está acontecendo e a interagir com Sky, que mais tarde descubro ser uma caloura de Engenharia que Olivia conheceu na biblioteca do Campus.

No final do dia, a caminho de casa, volto a divagar com a lembrança do gosto de tequila na minha boca e do frio que senti no estômago quando Joseph tocou em mim. Não consigo deixar de pensar no quão pouco me recordo do momento que antecede o beijo e isso me incomoda, mas logo começo a me remoer pela prova de cálculo outra vez e o sentimento de raiva se sobrepõe aos outros. Como ele consegue me afetar desta maneira? É ridículo! Quero desesperadamente pensar em outra coisa.

- Está namorando garotas agora? - Pergunto de maneira invasiva, fitando Olivia dirigir ao meu lado.

- Você já sabe que eu sou bi. - Ela revira os olhos, distraída no volante. - Aonde quer chegar com isso?

- É a primeira vez que você namora uma mulher. - Observo, pensativa, e Olivia não estende o assunto.

Será que ela não percebe que só quero mudar o foco dos meus pensamentos?

- Sim, é verdade. - Concorda ela, colocando um ponto final na conversa.

E lá se vai a minha última chance de distração.

Assim que entro em casa, vejo Bolton sentado no sofá da sala e suspiro, culpando-o por todos os meus problemas.

- Você não tem casa, não?

Estou irremediavelmente irritada com ele. Quando se vira para mim, analisando minha expressão furiosa, morde o lábio distraído.

- Moro em uma república, então, não. - Ele responde tranquilamente, ignorando o fato de eu estar sendo sarcástica. Ou talvez não tenha notado. - Liam saiu em um encontro. - Explica brevemente, voltando a assistir o jornal na TV e a me ignorar.

Ah, entendi.

- E você se acha no direito de vir aqui sempre que quer?

Outra pergunta retórica. Ele mexe os ombros, como se não ligasse.
Seria muito mais fácil conversar com ele se não fosse um indivíduo tão insuportável. Reviro os olhos, subindo direto para o meu refúgio.

Temo que se ficar muito tempo perto dele, o universo decida que precisamos resolver nosso problema. Meu problema, na verdade.

Não se passam nem cinco minutos que me tranco no quarto quando ouço batidas frenéticas na porta. Que inferno! O que ele quer?

Fico em silêncio para dar a impressão de estar ocupada, torcendo para que ele vá embora e que eu não tenha que encará-lo. Olivia estava certa quando disse que seria difícil ignorar a sua presença constante.

Se eu continuar quieta, talvez ele pense que estou dormindo.

- Eu sei que você não está dormindo. - Diz do outro lado da porta, voltando a batê-la com força.

Porra, como ele fez isso?

- Estou trocando de roupa! - Grito de volta, convicta de que isso o mandaria embora. Em vez disso ele começa forçar a maçaneta, impaciente.

Que ótimo, eu só piorei a situação!

Respiro fundo, forçando meus pés a irem até a porta. Será como tirar um band-aid: rápido e indolor.

Abro a tranca e vejo-o franzir a testa ao pregar os olhos em mim.

- Você é uma mentirosa, sabe disso? - Suas feições atraentes fingem indignação, mas trazem um sorriso genuíno no rosto. - Eu secretamente esperava te encontrar de lingerie.

E muda o seu sorriso para a versão cafajeste de sempre, a minha preferida. Até usando o uniforme da Universidade ele consegue ser irresistível, e em breve não encontrarei mais defeitos para listar além do seu humor instável e seu temperamento irritante.

- O que você quer, Bolton? - Pergunto rispidamente, tentando expulsar essa sensação familiar no meu ventre. Ele olha para os lados, pensativo. E por um momento parece...ressentido? Mas algo em seus olhos azuis me prende hipnotizada, ansiosa para saber que motivos o trazem ao meu quarto quando Liam não está em casa. E, céus, eu só consigo pensar em uma justificativa.

- Seu irmão chega em alguns minutos. - Ele anuncia, vigiando o corredor. - Precisamos ser rápidos. - E antes que eu entenda o que ele quer dizer, Bolton fecha a porta atrás de si e me beija.

Night OutOnde histórias criam vida. Descubra agora