Corações Perdidos

Capítulo 24

 Na manhã seguinte, Mayson me deixou em casa, para a minha surpresa, Ryana estava à minha espera, na frente da mesma.

— Oi! Aconteceu alguma coisa? – Pergunto e ela sorri sem jeito.
— Samy, tem uma coisa! Não sei como fazer isso! Mas, isso é seu! – Ryana fala me entregando o casaco de Louis que eu acreditava ter perdido ou ter deixado no hospital.
— Foi você que me encontrou? O que estava fazendo no cemitério naquela hora? – Pergunto e ela respira fundo.
— Samy, só me escuta! Eu conhecia Louis Clark! – Ryana fala e eu paraliso.
— Melhor entrarmos! – Falo e ela concorda.
Entramos em casa e sentamos no sofá, uma de frente para a outra.
— Bem, agora, pode me contar! – Falo e ela respira fundo.
— Conheci Louis no jardim de infância, eu tinha acabado de me mudar e ele, bom, você sabe, sempre foi legal. Éramos melhores amigos, até que um dia eu surtei, achei que ele estava me deixando de lado por conta dos treinos, dos novos amigos e também, da nova paquera! – Ryana fala e eu sinto a tristeza em suas palavras.
— Eu! – Falo quase em um sussurro.
— Sim. Bom, eu fiz algo terrível. Duas noites antes de você viajarem para a classificatória do mundial, briguei feio com Louis, disse que, queria que ele morresse. Eu fui a pior amiga do mundo! E ele morreu! – Ryana fala chorando.
— Por isso a raiva de mim? – Pergunto.
— Nunca foi raiva Samy. Eu senti inveja. Louis passou suas últimas horas com você. Eu, queria te culpar por isso, até te ver no tumulo dele, na chuva, quase morrendo. Ali eu percebi que, Louis poderia me perdoar por todas as coisas cruéis que eu falei, mas jamais iria querer te ver assim, sofrendo. Olha, me perdoa. – Ryana fala e eu respiro fundo.
— Eu tenho uma coisa para você! – Falo e vou até o meu quarto e pego a carta interessada a ela.
— Louis escreveu isso antes de morrer, essa é a sua! – Falo e ela chora ainda mais. Abraço a mesma.

Depois de conversar com Ryana, eu entendi uma coisa, nada é o que parece ser.
Eu, perdi meu namorado, mas ela perdeu o melhor amigo, Ryana não é a vilã da história, é apenas uma pessoa muito ferida, tentando sobreviver as próprias cicatrizes e dores.

Recomeçar. Recomeçar nem sempre é uma decisão fácil, ainda mais quando se é preciso recomeçar de dentro para fora, aceitando que, não é porque se perdeu uma pessoa que se irá perder todas que se aproximarem, acreditar nisso, leva tempo.
Semanas depois da conversa com Ryana, pedi desculpa para Nico, que apenas me abraçou.

— Sei que menti para você, mas, te devo desculpas também. – Nico fala e eu sorrio.
— Vamos? – Pergunto.
— Vamos! – Nico fala.
— Finalmente! – Sensei Klaus fala rindo.
Alguns dias depois, fizemos uma festa de despedida para Mayson, o fiz prometer que manteria contato e que voltaria vivo, ele riu, mas prometeu.
Depois que Mayson partiu, as coisas ficaram calmas, Nico e eu, começamos a namorar no dia em que vencemos o campeonato estadual de Karatê. Desde então, nossa equipe continuou conquistando títulos e troféus, sensei Klaus aumentou nosso ritmo de treino pois, novamente, os convites para a classificatória para o mundial chegaram.
Claro, estar prestes a ir novamente para a competição onde recebi a pior notícia da minha vida, até hoje, foi doloroso, eu achei que jamais chegaria novamente onde cheguei aos dezesseis anos, agora, com dezenove.
Algo em Louis, quando escreveu aquela carta, quis falar para mim, seguir em frente, sem pensar na dor que foi perde-lo, ou em como nunca deixarei de amar ele, mesmo que possa amar outra pessoa, Louis foi e sempre será o homem que me ensinou como amar, de uma forma leve, sem dores.
Existiram dores apenas depois da partida dele, mas a morte, é algo que ninguém, pode controlar, nem mesmo quem tinha, o coração cheio de amor e uma história linda para viver. Talvez, o fim de uma história signifique o começo de outra, e por isso, se chama, vida.

Nico está se esforçando para ficar na minha vida e devo admitir, que desde que ele chegou, está sendo mais fácil, mesmo que eu ainda sinta medo de precisar dizer adeus, novamente a alguém.
— Samy, acelera! – Sensei Klaus fala enquanto faço o Kata que estou treinando para a classificatória pela quinta vez.
Uma das coisas que aprendi treinando karatê, é que você não precisa responder a tudo que falam, dentro e fora do tatame, as vezes o silêncio e a obediência, são as melhores coisas que você pode oferecer para alguém.
Louis era quem fazia esse Kata com perfeição, aprendi com ele, ele revirava os olhos toda vez que eu errava alguma coisa, isso me fazia querer fazer os movimentos cada vez melhor.
Sensei Klaus me olha atentamente, assim que termino o Kata, ele confirma com a cabeça, e me libera para sentar, deixando Ivi ir apresentar seu Kata.
Um Kata nada mais é do que uma sequência de golpes em um adversário imaginário, por isso se torna tão difícil expressar e fazer os movimentos com precisão, você precisa quebrar os próprios limites e mostrar isso a quem está te julgando.
Todos temos limites a serem quebrados, historias para deixarmos no passado, saudade para lidarmos, recomeços para vivermos, mas, também temos a dura escolha de não querer nada disso, para os que fazem a escolha difícil, eu desejaria sorte, para os que escolhem seguir, eu desejaria tempo.