Nos banheiros

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A dupla de medrosos do grupo caminhava apreensiva pelos corredores desertos da escola. Não podiam fazer barulhos, muito menos usar mais luz que o necessário para iluminar o caminho ou chamariam muita atenção, e por isso apenas mantinham apenas uma lanterna em mãos que iluminava pobremente o corredor tornando-o ainda mais assombroso aos olhos dos conhecedores de filmes e histórias de terror – como meio de precaução, é claro.

Todavia a cada passos que davam se assustavam com os sons dos próprios pés e soltavam grunhidos de susto, assustando novamente um ao outro, que mantinham uma distância segura entre seus corpos, embora quisessem desesperadamente se agarrarem um ao outro, tanto pela falsa sensação de segurança que a companhia os traria quanto pelos sentimentos estranhos que haviam surgido recentemente entre eles.

Os corações de ambos estavam acelerados, mas agora não sabiam se era pela adrenalina do medo ou pela presença um do outro após as últimas descobertas e certos momentos constrangedores, esses que ainda não haviam conversado sobre.

– Usopp. - Após engolir seu orgulho e vergonha a ruiva o chamou em um sussurro, fazendo o mesmo parar – já que estava com a única lanterna que possuíam – e a encarar nervoso. – Eu-

Mas antes que conseguisse terminar, a fala da ruiva foi cortada de repente por sons semelhante aos de unhas contra o chão, o que atraiu a atenção de ambos que trocaram um olhar apreensivo. Até onde sabiam não havia animais nem mesmo ao redor da escola, quem dirá um com tamanho o suficiente para fazer aquele som de atrito no piso liso.

– AAAAAAAH! - Os dois estavam tão concentrados e com o medo a produzir ilusões em suas mentes, que quando um estrondo alto provindo da passagem de ar no teto da escola ecoou em seguida ambos gritaram pavorosos se agarrando um ao outro em desespero.

Lamentos por suas vidas e pedidos para os poupassem eram reproduzidos de forma alternada pela dupla até que após um período em silêncio perceberam que não havia nada – ao menos que fossem capaz de ver – ao redor, tampouco sons além dos produzidos por seus corpos e suspiraram aliviados. Porém ao notar a proximidade que estavam se afastaram bruscamente constrangidos e desviaram o olhar.

O que acontecia com eles era algo corriqueiro em muitas amizades: possuírem sentimentos confusos em relação um ao outro, sem saber se era real ou apenas estavam confundindo a amizade, e, claro, o que deveriam fazer em qualquer um dos casos.

O grupo de amigos em que pertenciam era bastante incomum e diversificado, todos eram muito diferentes uns dos outros, porém havia certa identificação entre alguns deles, que era o caso de Nami e Usopp. Eles se identificavam em alguns gostos, questões de prioridade e até mesmo atitudes, o que rapidamente os tornou amigos próximos. Mas como todo bom caso de amizade, sentimentos para além dela surgiram entre ambos e em meio a algumas conversas e desabafos com os dois alterados, um beijo aconteceu e agora os amigos quase não se falavam sem saberem ao certo o que dizerem sobre o assunto, o que os levou a fazer aquilo ou qualquer outro tema por mais banal que fosse. Querendo ou não eram jovens que sabiam quase nada sobre sentimentos e relacionamentos complicados, e melhores amigos, ainda por cima, logo vinha o receio de magoarem o outro ou a si mesmos.

– V-Vamos logo. - Nami foi a primeira a tentar se recompor e recuperar uma pose indiferente, mesmo que não tão eficiente. – Eu já disse para você parar de fazer escândalo ou vamos ser pegos, seu medroso!

A ruiva furtou a lanterna das mãos do moreno e saiu andando irritada em direção aos banheiros da escola, onde ficaram encarregados de pregar uma peça para o dia seguinte, enquanto ele encarava as costas da garota indignado por aquela fala – como se ela não fosse igual ou pior que ele –, mas não por muito tempo já que jamais permaneceria sozinho naquele corredor assustador.
– Nami, me espera! Não me deixa sozinho aqui!

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