Punições

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Quando assumiu o cargo de direção Crocodile jamais se imaginou, nem nas piores e mais absurdas hipóteses, envolvido em uma situação como aquela.

Obviamente ele sabia que jovens e crianças eram uma praga da pior espécie existente na face da terra e, mesmo dirigindo um prestigiado colégio com uma ótima equipe de funcionários e excelentes índices de resultados, não confiava que aquelas criaturas fossem valorizar toda a boa estrutura que tinham, os caros profissionais que contratava, tampouco o dinheiro que seus responsáveis investiam ali. Como sempre dizia: eram seres imundos que deveria queimar no fogo e enxofre, pois nem mesmo a terra merecia receber tamanho castigo sob suas camadas.

Por essa razão, o homem de quarenta e poucos anos se deu ao trabalho, que já sabia da infeliz necessidade e a aliviante eficácia, de criar uma imagem rígida e inflexível de si, sem demonstrar compaixão ou fazer vista grossa para qualquer aluno que fosse que ousasse enfrentá-lo e desrespeitá-lo ou que quebrassem as regras da sua estimada escola. Por anos se fez ser temido e se orgulhava disso até os dias atuais onde mantinham todos nas palmas de suas mãos e controlava tudo conforme sua vontade e mais alto rigor, isto é, com exceção daquele grupo de alunos problemáticos – ou seu pior e mais penoso castigo enviado direto do submundo – que a cada dia o faziam ter uma síncope – e uma psicótica vontade de cometer uma dúzia de assassinatos bárbaros.

Desde que os alunos infernais e seus bandos entraram para a instituição tudo que havia construído havia se desmanchado, como um castelo de areia muito bem moldado sendo devastado por uma onda quilométrica. Eram alunos insolentes e baderneiros que não sabiam o significado de regras ou respeito, que não se davam a mínima decência de ouvi-lo e que não tinham nenhuma disciplina ou agiam como os demais alunos; eram a fonte do seu mais puro e intenso ódio – e com razão.

Como se não bastasse todos, sem exceções, renderem inúmeros problemas, dores de cabeças e doces sonhos com homicídios e torturas terapêuticas, até mesmo seus responsáveis eram desequilibrados reclamando dos problemas causados por suas crias como se a responsabilidade fosse da sua conduta "desregrada e sem firmeza"; como se ele fosse o culpado dos filhos, netos e irmãos daqueles loucos serem possuídos por sete entidades demoníacas cada um!

Ainda por cima não podia mais tomar as mesmas resoluções de antes, nem sequer podia castigá-los como queria ou então seria um inferno na terra e seu túmulo já estaria mais que escavado com caixão a postos. Não sabia como ou por que a situação havia chegado naquele ponto onde se encontrava impedido de expulsar todos eles, muito possivelmente fosse para evitar processos e escândalos, consequentemente gerando uma desnecessária perda de clientes, e dinheiro, principalmente.

Mas ocorria que esse era um fato, que, infelizmente para eles, já estava disposto – mesmo com o estresse extra e perda de dinheiro – desintegrar até virar areia e se livrar de uma vez por todos das razões de sua cólera. Porque ele odiava todos eles, odiava os responsáveis deles e se arrependia amargamente de ter aceitado aqueles seres em sua escola.

Pelos céus! Eram mais de três da manhã! Três horas da madrugada. E ele estava sendo obrigado a deixar o conforto da sua casa e dos braços de seu demônio particular – que estranhamente parecia um anjo celestial dormindo – para resolver problemas causados por aquelas crias de Satã, uma delas, inclusive, também sendo responsabilidade de loiro esparramado por sua cama.
– Eu vou degolar cada um daqueles filhos da puta! - Vociferou entredentes enquanto acendia um charuto e entrava em seu carro rumo à escola.

[...]

A sala da direção no momento era preenchida unicamente pelos sons do processo respiratório dos presentes. Nas duas cadeiras em frente a mesa arrumada – por Trafalgar antes de deixarem o recinto – estavam os dois morenos baderneiros, que agora possuíam machucados em suas faces, e no sofá ao lado os cinco restantes participantes da brincadeira.

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