Capítulo 2: Temos que continuar

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Eu estava triste pelo meu “termino” com o Bruno mais não podia ficar chorando o dia todo pois ainda ia encontra-lo na escola no dia seguinte e precisava me manter forte para enfrentar ele e a aula de matemática da professora Odete.

Acordei ás seis da manhã como todos os dias, tomei meu café e conversei um pouco com os meus pais, mesmo que eles apenas fingem me ouvir. Passei na casa da Isadora para irmos juntas a escola e era incrível como seus cabelos ruivos ficam lindos mesmo que ela tenha acabado de acordar.

A Isadora é a melhor pessoa que eu conheço e olha que a conheço desde os nossos quatro anos. Ela estava comendo um sanduiche de presunto e queijo porque tinha acordado atrasada e enquanto mastigava um pedaço perguntou:

-E aí como você está?

-Estou bem. Porque?

-Porque você levou um fora ontem?

A Isa sabia o que tinha acontecido pois logo depois de umas duas horas chorando no parque mandei mensagem para ela contando tudo mais não sei se foi uma boa ideia.
-Eu não levei um fora. Nós dois decidimos que era o melhor a fazer.
Falei tentando justificar o fora que eu levei.

-Olha, para mim tanto faz porque nunca gostei do Bruno mesmo.

Ela não gostava muito dele apesar de ele nunca ter dado um bom motivo para isso mais ela fazia questão de deixar claro que se um dia nós terminássemos a última coisa que ela iria sentir era tristeza. Às vezes acho que ela não é muito boa em sentir coisas mesmo.

-E você ainda vai ver que eu estou certa por não gostar dele.
Ela continuou.
Andamos em silencio um pouco pois ela estava terminando o sanduiche mais quando ela terminou voltou a falar.

-O Eduardo está sabendo?

-Não.

-Como assim não!?

-Ué eu não contei.

-Pois a senhorita trate de contar porque o Edu que fez questão de apresentar vocês dois e ele precisa saber que isso foi um erro.

-Meu Deus! Eu não entendo essa sua cisma com o Bruno.

-Que merda Elisa! Será que você não enxerga!?

-Enxergar o que?

-Nada.

A minha segunda-feira já não estava muito boa e não precisava piorar então eu apenas a ignorei e continuei andando. Fomos em silencio até a escola e antes de entrarmos encontramos o Eduardo que também era um dos meus amigos mais fiéis.

-Santa Lady Gaga! Que caras são essas?

-Nada.

Falamos em coro.

-Ah não meninas. A minha segunda feira está ótima e vocês não precisam estragar.

-Que bom que a sua segunda-feira está ótima Eduardo.

Falei.

-Aí gente o que que foi?

-Elisa levou um fora daquele bosta do Bruno mais não quer aceitar que ele não presta.

-Como isso aconteceu?

O Edu falou indignado.

-Acontecendo ué.

Respondi.

-Me conta vai.

-Ah cansei! A Isa te conta.

Eu sabia que a Isadora Iria aumentar dez vezes mais a história, mas eu estava cansada de mais de tudo aquilo então não liguei. Fui para a aula de geografia que era a primeira do dia e logo depois entraram a Isa e o Edu, eles se sentaram do meu lado e não demorou muito para a aula começar.
Juro que tentei prestar atenção, mas o sono falou mais alto, acabei dormindo a meio mapas e coordenadas.

Acordei pouco tempo depois com o Eduardo cutucando meu ombro.

-O que foi?

Falei baixo para a professora não escutar.

-Olha isso!

Ele cochichou de volta.

Ele virou a tela do celular que estava quebrada em uma conversa e quando vi demorei um pouco para entender mais era uma mensagem do Bruno para o Edu que dizia “Edu pede para a Lisa me encontrar no refeitório por favor, ela não recebeu minhas mensagens”

-Como ele tem meu número!?

Perguntou o Edu sem entender nada.

-Eu sei lá.

Voltamos a prestar atenção na aula, bem o Edu voltou, eu só pensava no que ele queria falar comigo e porque ter que mandar mensagem para o Eduardo para chamar minha atenção.

Peguei meu celular para ver se havia alguma mensagem quando lembrei.

-Merda!

-O que?

-Esqueci que eu tinha bloqueado o Bruno ontem à noite.

- Porque você fez isso Elisa?

-Eu estava magoada Eduardo.

-Querem compartilhar a conversa com a turma?

Ouvi a professora dizer enquanto largava o livro na mesa.

-Desculpa professora.

Falei.

Os professores odiavam o nosso trio e digamos que eles tinham alguns motivos e eu não precisava de outra advertência então preferi ficar quieta até o fim da aula.

O sinal havia tocado e agora eu iria para a aula de história, confesso que é uma das minhas matérias preferidas então eu participava mais do que qualquer um. Só que dessa vez eu não estava ouvindo uma palavra, parecia que o relógio estava parado e aqui tudo se tornou uma eternidade, comecei a ficar agoniada naquela cadeira e finalmente o segundo sinal toca e é hora do intervalo, quinze minutos para que os adolescentes do ensino médio comam, bebam agua e sintam-se relaxados. O problema é que ninguém fica relaxado quando está no ensino médio por dois simples motivos, 1 é o ensino médio e 2 é um bando de adolescente cheio de hormônio que não sabe o que quer da vida.

Sai da sala e guardei os livros no armário, logo em seguida fui para o refeitório, pensei algumas vezes se devia encontrar o Bruno e no fim acabei indo por impulso.

Ele estava encostado na parede com aqueles ombros magrelos e seus braços nem um pouco fortes cruzados, aquele seu cabelo escuro um pouco bagunçado que contrastava com sua pele morena caia na sua testa. Ele me viu chegar e soltou um sorriso tímido, diferente daquele sorriso que ele costumava ter quando estávamos bem.

-Oi.

Ele disse desencostando da parede.

-Oi.

Respondi.

-Você não recebeu minhas mensagens.

- É que meu celular está sem bateria.

Menti.

Ele concordou com a cabeça e continuou.

-Como você está?

-Estou bem.

Menti novamente. Eu estava péssima.

-E você?

-Não sei. Ás vezes parece que foi o certo a fazer e as vezes parece que foi um erro.

O Bruno tirou o celular do bolso e disse:

-Eu não consigo nem abrir a tela do meu celular sem pensar em você Lisa.

E foi aí que lembrei, o fundo de tela dele era uma foto minha que ele tirou quando estávamos no parque, eu nem vi quando ele tirou a foto mais lembro quem foi bem no começo do nosso namoro e naquele momento eu me senti mal, muito mal.

Odiava vê-lo assim, de coração partido, ele era e é tão bom para mim. Ele tem um coração tão bom que dá dó te quebra-lo, o problema é que não me importei de fazer isso há algumas semanas atrás.

-Olha, também tenho pensado muito nisso e nunca quis que isso acontecesse.

Ele abaixou a cabeça, respirou fundo e falou:

-Eu quero muito que dê certo e acho que não precisava acabar assim.

Estávamos perto o suficiente para nos olharmos nos olhos e concordarmos que valia a pena tentar. Ele se aproximou mais um pouco para me abraçar e me envolver com seus braços, ele era alto e minha cabeça ficava em seu peito fazendo com que mesmo a meio todo o barulho do intervalo eu pudesse ouvir seus batimentos. O sinal toca novamente anunciando o fim dos quinze minutos e ele se afasta e pergunta:

- Te vejo na saída?

E eu concordo que sim.

Vou para a minha última aula do dia e enquanto ando no corredor penso como tudo isso aconteceu, como mais uma vez me sinto mal por uma coisa que mal sei o que é, como posso dizer que quebrei o coração do Bruno sendo que o meu coração está em pedaços há dias, para falar a verdade, nem sei mais porque estamos discutindo.

Tiro rapidamente esses pensamentos quando encontro a Isa e o Edu no corredor rindo muito.

-O que eu perdi?

Perguntei.

-Você...não...vai...acreditar!!!

A Isa disse meio a várias pausas para rir.

-Oque!?

-A Odete está vestindo um decote super provocante e quando fui na sala dela falei brincando “ Nossa professora, a senhora está linda com essa roupa, deu até uma rejuvenescida” e ela falou “É mesmo Eduardo, obrigada” isso enquanto ela levantava os peitos com as mãos.

Falou o Edu caindo na gargalhada como todos nós e eu fiquei imaginando a professora Odete de 63 anos com um decote e levantando seus peitos consideravelmente caídos. Quando entramos na sua sala o Edu se virou e deu uma piscadinha e ela sorriu, nós três rimos sem limite até o fim da aula toda vez que ela abaixava para mostrar seu decote e pela primeira vez houve diversão na aula de matemática da Odete e infelizmente não demorou muito para que os outros alunos percebessem e começassem a rir também.

Por alguns minutos tudo aquilo me distraiu de tudo o que eu estava pensando e sentindo apesar de eu não entender o que eu estava sentindo.
Comecei a me forçar a entender como tudo aquilo tinha começado e foi quando lembrei vagamente do início desse ano, estávamos na minha casa assistindo algo que não lembro o que era e estávamos falando sobre algo em que os dois pensavam diferente.

Talvez toda essa memória seja um borrão mais há uma frase que me lembro perfeitamente em que ele disse “você diz que te magoei mais a única pessoa magoada aqui sou eu e você devia perceber isso Elisa”
Não me lembro do que falei depois, acho que não falei nada e talvez esse tenha sido o erro não dizer nada. A partir desse dia nunca mais quis magoa-lo, bom, tenho tentado, mas apesar de tudo o que faço sempre acabo com cacos no peito.

O último sinal do dia toca anunciando o fim das aulas e apesar de eu não ter prestado atenção em nada anotei algumas coisas. Nós três saímos juntos e decidimos ir para a casa do Edu que não era muito longe da escola, nós íamos algumas vezes para lá e talvez a mãe dele não nos aguentasse mais mas confesso que o almoço da tia Adrià era ótimo.

Ficamos conversando no quarto do Edu.

-Então, você está num navio e ele está afundando mais tem três possibilidades,1 você pega uma boia e se joga na agua,2 você toca violino e 3 você entra num bote salva vida que só cabem três pessoas e você é a quarta. Qual vocês escolhem?

Dizia a Isa sentada no pufe rodeado de roupa no chão.

-Escolho a boia

Falei.

-Já eu escolho o violino.

Falou o Edu em seguida.

-Tipo Titanic?

Perguntei.

-Sim, seria muito legal.

-A Elisa escolheu a opção errada.

A Isa disse se deitando no pufe.

-Como assim eu escolhi errado?

-Você não sabia que o mar estava cheio de tubarões famintos e você foi comida e o Edu que estava tocando violino teve tempo suficiente no navio para descobrir que logo depois haviam conseguido apoio aéreo, levando ele e os outros violinistas seguros a margem.

-O que!? Isso não faz o menor sentido.

-Elisa, aceita que você morreu.

-Você cala sua boca Eduardo, violinista de merda.

Todos rimos e então a Isa se levantou, foi até a porta e disse:

-Vou lá dar um oi para a tia Adrià.

E saiu.

O Edu olhou para mim e perguntou com a voz baixa

-Como foi sua conversa com o Bruno?

-O mesmo de sempre, eu estou magoada e ele está magoado, nós dois estamos magoados.

-E o que você vai fazer?

-Eu não sei. O problema é que eu o amo.

E ele olhou bem para mim e falou:

-Dizer que o ama não significa que ele te faz bem.
















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