my time --jjk

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But is it too fast? Traces of what I've missed
Don't know what to do with
Am I livin' this right?
Why am I alone in a different time and space?

(Jeon Jungkook, My time)

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Agosto de 2022, Seul

Namjoon se joga no sofá assim que entramos em casa. As mãos cobrindo o rosto pintado de vermelho-frustração, a mente impedida de formular qualquer consolo. Tae se perde na meia luz da cozinha e Yoongi, ao invés de subir correndo para o seu quarto, permanece mais alguns minutos compartilhando conosco da atmosfera gelada da sala. Há desconforto emaranhado entre as partículas das nossas respirações e ele se alastra pelo ambiente infiltrando-se nos nossos julgamentos. Ninguém quer ser o primeiro a tocar no assunto, como se fazê-lo tornasse-o real, mesmo que ele já o seja, estampado no formato da âncora e da estrela na carta propositalmente esquecida em cima da mesa.

No caminho até ali, ouviu-se apenas o ruído tosco das palhetas limpadoras do para-brisa lutando contra a chuva que castigava o carro do lado de fora. A reunião de emergência no meio do nosso único sábado de folga instaurou entre os sete um clima de insegurança similar ao que vivíamos em nossos primeiros anos pré-debut. Um medo rondando nossas histórias, sombras indesejadas prolongando-se por debaixo das portas.

Jin suspira alto e coça os olhos vermelhos de sono. Ele bocejaria umas duas vezes e diria que ficaria tudo bem, mesmo que soubéssemos que durante os próximos dias ele almoçaria sozinho em seu quarto e jogaria golfe em silêncio no terraço. Apesar de se comportar como uma criança na frente das câmeras, Kim Seokjin acredita ser sua obrigação, como o mais velho, servir de exemplo para todos nós. Ele é como a criança que cai no parquinho, mas se recusa a chorar. E sem que se dê conta dos efeitos que nos causa, tornou-se espelho de nossas decisões. A leveza de Seokjin ao lidar com a vida me preencheu de paz enquanto eu crescia rodeado por caos.

Minha mãe costuma dizer que eu não cresci, simplesmente me fiz homem da noite para o dia. Ela repete essas palavras enquanto afaga meus cabelos, o timbre da sua voz pendendo entre a euforia e o arrependimento. Ela entregou a criação do filho mais novo à uma agência quase falida e acreditou que ele sairia dali diferente, mas quando nossos olhos se encontram, há certa dose de pena em seu semblante e eu sei, sem que ela precise dizer nada, que ela ainda não se decidiu se está feliz ou triste por mim.

Eu não cresci como a natureza pede, eu chutei as paredes do casulo e me expulsei antes da hora. Esfolei os joelhos no processo, forcei meu coração. Reprimi a dor da queda brusca e as queimaduras de sol depois de tanto tempo enclausurado. Pulei de treino em treino. Corri contra os mandamentos da juventude e desrespeitei algumas passagens do tempo. Era dez da noite quando tudo começou, mas na manhã do dia seguinte eu já não poderia mais ter apenas quinze anos. Quando pisquei os olhos uma segunda vez, as cartinhas enfeitadas de corações coloridos trocadas com a namoradinha do ensino médio haviam sido substituídas por contratos com letras minúsculas e cláusulas secretas que, basicamente, proibiam que eu agisse como uma pessoa normal.

— Precisamos conversar sobre isso. — anuncia Namjoon. Os cabelos bagunçados indicavam que enquanto eu divagava pelo passado, nosso líder calculava com precisão seus próximos passos.

— Não tem sobre o que conversar, Namjoon. — adianta-se Seokjin. Ainda de pé ao lado do sofá, as mãos escondidas nos bolsos da jaqueta jeans e o cabelo comprido caindo abaixo das sobrancelhas. — Já está feito. — Não sei distinguir se ele balançou a cabeça para afastar a franja sem corte ou a intenção de Namjoon de entrar em campo tão delicado.

noon-chi|눈치 ∘ btsOnde histórias criam vida. Descubra agora