Eu nunca imaginei que um dia seria mãe. Na verdade, eu achava que eu não poderia ser, pois não me daria bem nessa função. Lembrar de alimentar um filho parece algo insano quando nem um cacto sobrevive em minhas mãos.
Agora aqui estou eu na fila da farmácia para comprar um teste de gravidez. Ninguém deveria passar esse momento sozinha, mas estou aqui. A mulher mais solitária que poderia existir.
— Próximo. — diz a recepcionista.
Dou um passo à frente e sorrio, simpática, mesmo no meio do caos que acontecia dentro de mim.
— Um teste de gravidez, por favor. — minha voz sai embargada.
— Você deseja o teste simples, o digital ou os hipersensíveis?
— Qualquer um que mostre se estou grávida ou não, moça. — digo, me sentindo cada vez mais agoniada.
— Todos têm essa função, senhora.
Passo a mão no rosto.
— O mais barato, então.
A mulher pega o teste simples e registra em seu computador. Após pagar, saio correndo da farmácia e passo a caminhar rumo a minha casa. Entretanto, passo na frente de um parque e decido caminhar um pouco.
Sento-me no primeiro banco que vejo e fecho os olhos, sentindo a brisa da primavera quente beijar meu rosto. Se eu estiver grávida, não sei o que será de mim. Eu tenho um bom emprego, minha casa própria, mas não tenho ninguém na minha vida. Até o pai de meu possível filho foi uma diversão de uma noite e eu não faço a mínima ideia de onde ele está. Como eu posso criar um ser humano tendo tantos defeitos e não ter ninguém ao meu lado?
— Boa tarde. — uma senhora senta ao meu lado e interrompe minha enxurrada de pensamentos.
— Boa tarde. — enxugo uma lágrima e lhe dou um sorriso triste.
— Você está bem, querida? — pergunta-me, preocupada e estica sua mão enrugada para tocar a minha.
— Estou sim. — digo, mas logo contradigo eu mesma, pois começo a ter uma crise de choro.
— Venha cá, meu doce. — a idosa me envolve em seus braços e me deixa chorar como se o mundo estivesse acabado, afinal, estava mesmo.
Quando consigo me acalmar, eu me sento e respiro fundo.
— Quer me contar o que aconteceu? — ela pergunta.
— Eu acho que estou grávida e estou apavorada.
— Acha?
— Sim. Não fiz o teste ainda. — mostro a sacola da farmácia. — Eu estou com medo.
— Mas querida, e se você não estiver grávida mesmo? Já está sofrendo?
— Sim...Eu não posso ser mãe. Eu sou sozinha.
A senhora de cabelos grisalhos sorri para mim docemente.
— Eu engravidei com 18 anos, ainda mais nova que você. Suponho que você tenha 25…
— 26. — corrijo.
— Meu marido havia sido assassinado em uma briga de bar e eu me vi totalmente sozinha. Ter o meu filho foi o que me deu propósito na vida. Naquele momento, eu não queria viver, mas escolhi viver por ele. Agora ele está casado com filhos também e eu não poderia ser mais feliz de tê-lo em minha vida. Por isso, acho que você deveria ir para casa, fazer o teste para não sofrer com antecedência.
Assinto com a cabeça.
— A senhora tem toda razão. — pego sua mão novamente. — Muito obrigada.
— Não há de quê, querida. Boa sorte.
Eu me levanto e forço minhas pernas a caminhar até minha casa. Chegando em meu lar, corro para o banheiro e faço meu exame.
Sento na privada e espero os minutos indicados no rótulo do teste. Sinto meu coração batendo descompassado no peito. Respiro fundo e foco nas palavras da senhora no parque. Um filho pode ser um novo começo para mim.
Minha mãe já faleceu há tempo o suficiente para que eu sentisse a amargura da solidão. Com o tempo aprendi a gostar da minha própria companhia, mas a ideia de ter uma família começa a fazer sentido em minha mente e me causa até um frio gostoso na barriga.
Vejo que passou os minutos e pego o teste. Dois risquinhos. Estou grávida.
Encosto na parede e escorrego até o chão. Coloco a mão em minha barriga e sorrio ao meio as lágrimas que caem de meus olhos como uma cachoeira.
— Um dia, eu vou te contar que eu pensei em não tê-lo, mas vou te contar também o dia em que eu virei mãe. O dia que eu descobri que você estava prestes a chegar em minha vida. Eu posso não ser a mãe perfeita para você, mas eu te prometo que vou cuidar e proteger você.
Coloco as mãos no rosto e choro. Dessa vez um choro de felicidade e não de tristeza ou aflição. Feliz por ter conhecido aquela senhora que a fez, finalmente, perceber que uma família era o que faltava em sua vida. Será apenas eu e meu filho contra o mundo.
O dia de hoje ficará conhecido como o dia em que me tornei mãe de corpo e alma.
Por: Gabi Manzato
VOCÊ ESTÁ LENDO
Contos para se emocionar: porque amor de mãe é infinito
Short StoryAmor de mãe é delicado, singelo, doce e infinito. O Projeto Flor de Lótus reune vários contos de autores diferentes para essa linda forma de mostrar o sentimento que nos faz emocionar. Confira esses contos que demonstram o amor materno de inumeras m...