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"Das lembranças que eu trago na vida
Você é a saudade que eu gosto de ter

Só assim sinto você bem perto de mim."

-Roberto Carlos

Bom, acho que de certa forma meu pai estava errado. Não sei ao certo se aconteceu mas não sinto que seja nada daquilo que ele me falou. Quer dizer, eu amo minha namorada, amo mesmo. Ela se tornou parte essencial para o meu crescimento e é a pessoa que estava ali por mim independente do que acontecesse. Por mais que eu a ame e seja capaz de muita coisa por ela, ainda não sei dizer  se meu pai se referia a isso, se essa é a sensação ou se eu estou apenas tentando forçá-la.

Depois que eu e meu pai fizemos aquele acordo ele não entrou tanto no assunto de como relacionamentos são bons e que eu precisava de alguém comigo. Na verdade nos meses seguintes esses assuntos foram substituídos por uma espécie de "aula".

Pela minha total falta de interesse em amor meu pai percebeu que eu não conseguiria manter o acordo, afinal eu não fazia ideia de como tratar uma mulher, principalmente tentar conquistá-la durante dez meses. Para mim parecia tão impossível que meu pai passou a me ensinar como eu deveria tratar quem quer que eu me apaixonasse.

Meu pai sempre soube da minha sexualidade, eu e ele nunca precisamos entrar nesse assunto, então por mais que eu fosse nova e ele tivesse uma visão conservadora sobre algumas coisas, ele sabia que não conseguiria mudar isso então apenas se adaptou a me dizer como tratar uma mulher ao invés de dizer sobre homens. Quando ficou claro já não era mais tanta surpresa, então não consigo dizer ao certo se teve algum ponto em especial sobre isso. 

Durante um tempo eu passei a ter que analisar o tratamento do meu pai com minha mãe, não enxergar certas coisas pelo lado negativo e tentar me imaginar fazendo aquelas coisas. Obviamente eu não conseguia. Não que eu não tentasse, é só difícil de me imaginar sendo carinhosa, elogiando, dando presentes e fazendo qualquer coisa que até hoje mesmo estando com a mulher que eu amo eu não consigo fazer da forma que meu pai fazia. Porém, ele me fazia tentar de qualquer forma.

Obviamente depois do acordo eu tive alguns relacionamentos, alguns sérios e outros não. Infelizmente meu pai não viveu o suficiente para me ver tendo o primeiro relacionamento, nem me formando, nem crescendo. Infelizmente o universo ou qualquer coisa do tipo não me deu a oportunidade de ter tempo o suficiente com ele para mostrar que eu podia ser como ele. A cerca de oito anos eu fui brutalmente obrigada a crescer por minha conta sem o meu melhor amigo. Eu podia até deixar esse acordo de lado mas eu jurei que faria o que fosse para cumprir todas as promessas que fiz a ele. O que não foram muitas, apenas que eu cuidaria da minha mãe da forma que ele cuidava, seria o que ele foi profissionalmente e manteria o nosso acordo, mesmo que agora eu acredito nisso bem menos que antes.

Eu evito de entrar no assunto com minha mãe porque eu sei que desde que meu pai se foi tudo em relação a ele se tornou uma ferida aberta, qualquer coisa a machuca e a última coisa que eu quero é vê-la sofrer. Então considero que finalmente encontrei o que eu procurava, sinto que cumpri nosso acordo mesmo que eu não tenha nenhum modo de descobrir se era isso mesmo que eu deveria estar sentindo. Eu amo minha namorada e ela me ama, eu sou o que ela precisa e ela é o que eu preciso. Acho que isso é o suficiente, mesmo que as vezes eu tenha minhas dúvidas.

- O que está fazendo? - Hailee perguntou enquanto se sentava ao meu lado na cama.

- Deixando algumas coisas prontas, amanhã eu começo a trabalhar e não quero causar uma má impressão.

- Ainda não sei porque você faz isso. Tipo, você é Perrie Edwards, uma das maiores empresárias de Londres, dona de um dos maiores impérios no ramo da moda, e você vai trabalhar em um lugar normal. Você já é rica meu amor, sabe que não precisa desse emprego.

The Deal - (Jerrie)Onde histórias criam vida. Descubra agora