Thomas
Era domingo de manhã e assim como todos os outros, eu havia acordado cedo. Levantei e abri a porta, para que Aika entrasse em meu quarto. E no momento eu que eu abri, ela entrou como um furacão e pulou em minha cama.
Aika é minha cachorra há um ano e meio. Ela é da raça Golden, a encontrei na adoção pois ela estava com um tipo de alergia e os antigos donos, se negaram a ficar com um cachorro que estivesse problemas e simplesmente a descartam. Eu a peguei e levei-a em um veterinário, dois meses depois ela estava completamente curada. Aika tem sido uma ótima companheira desde então, já que não tenho muito contato com a maioria da minha família.— Bom dia, Aika — falei fazendo um carinho em seu rosto e recebi um latido como resposta — hoje vou checar alguns e-mails, vamos no correio, hoje vamos almoçar na casa da dona Jade e depois dar um passei ao parque. O que achar? — ela latiu e pulou em mim — vou entender como um sim.
Levantei e fui direto para o chuveiro tomar uma ducha. Passando isso, fui me trocar, vestindo uma clássica calça de moletom cinza, uma camiseta preta e um tênis, que também era preto. Depois de tudo, tomei o meu café da manhã e logo fui trabalhar, chegando alguns e-mails, fazendo anotações e realizando alguns telefonemas.
Olho o relógio e percebo que está quase na hora do almoço. Se eu atrasasse para o almoço de novo, minha mãe tinha mais um motivo para me advertir. Fechei meu notebook, fui escovar os dedes e logo eu e Aika, já estávamos na rua.
Não demorou muito para que eu chegasse ao correio e assim que eu cheguei, avistei algumas crianças escrevendo, o que provavelmente eram suas cartinhas. E confesso, que apenas de olhar aquelas crianças, meu coração se encheu.
Eu como alguns homens, sonho em construir uma família. Mas apenas sonho mesmo, já que a maioria das mulheres, estão apenas de olho em minha conta bancária. Às vezes me pego imaginando acordar com alguém me chamando de papai. Aposto que deve ser uma das melhores sensações do mundo.— Bom dia, Tom! – John, me cumprimentou, assim que me viu. Ele trabalha aqui desde que me conheço por gente, inclusive, foi ele que me deu o meu primeiro emprego.
Sim. Eu trabalhei em um correio antes de abrir minha própria marca de lojas e filiais de minhas lojas.
— Bom dia, John! Como vai?
— Vou bem filho. E você? Alguma moça no pedaço? – ele gesticulou e riu e eu o acompanhei. Adorava quando ele tentava usar gírias.
— Não, John. Acho que serei apenas eu e Aika.
— Filho, uma hora vai aparecer a certa. Mas deixa eu adivinhar o que lhe trouxe aqui...cartas de papai noel.
— Isso mesmo. Você sabe, desde que comecei a realizar os desejos dessas crianças eu nunca mais parei.
— Bem sei. Tenho uma carta de uma menina e um menino, eles são irmãos. Acho que seria legal você apadrinhar eles.
— Pois me dê as cartas, John. Adoraria vê-los felizes.
John logo entrou e voltou com dois envelopes brancos na mão. O agradeci e lembrei que ele ainda estava me devendo uma tarde de golf e logo me despedi. Assim que cheguei no carro, imediatamente abri os envelopes. Até parecia que eu ganharia os presentes e que, aqueles eram os meus presentes. O nome das crianças eram Antonella Bittencourt e Hector Bittencourt. Nomes bem bonitos, por sinal. A primeira carta que abri, foi a da mocinha chamada Antonella.
Confesso que ri com a carta. Não pelo pedido da menina mas sim pelo modo em que a mãe se explicou "Ela tem apenas dois anos e ainda não sabe escrever nada, por isso estarei escrevendo para ela. Mas lhe garanto que o que ela me pedir, eu irei transcrever para esse papel!" mas não posso mentir dizendo que achei o pedido da menina comum. Era um pedido do qual eu nunca havia recebido. Normalmente as crianças pediam brinquedos, sapatos, roupas mas um cachorro, com certeza era uma novidade. Se ela queria um cachorro, ela teria esse cachorro.
Abri a segunda carta, a carta de Hector e meu queixo caiu. O menino havia pedido um pai. Um pai! Deus, como eu vou realizar isso? De todos os pedidos que eu já li nas cartinhas, com certeza esse foi o pedido mais insano. Diferentão.— Aika, como vou realizar isso? — perguntei como se ela fosse me responder. Na verdade ela respondeu, mas com um latido não com palavras. — Jesus, terei que pedir ajuda de minha mãe.
Guardei-as novamente no envelope e segui para a casa da minha mãe. Hoje o dia em Londres estava ensolarado, o que era normal para esse época do ano. Quando cheguei a casa dos meus pais, eles também estavam chegando.
— Lisa, que saudade! – digo assim que vejo minha sobrinha descendo do carro.
— Titio Tom! – correu em minha direção – cadê a Aika? Estou com saudade dela!
— Ei, eu estou com saudade de você. Você não está com saudade de mim?
— Deus está com saudade de você, Tom – alfineta minha mãe.
— Na próxima eu vou, mãe.
— Ah pelo amor de Deus. Sabe quantas vezes eu ouvi isso? Muitas e de todas, nenhuma foi comprida.
— Ok. Ok. Me perdoe. Prometo que vou tentar cumprir dessa vez, mas por favor, não vamos discutir.
— Tudo bem-
— Titio, vamos entrar. Eu quero brincar com a Aika no quintal.
— Vamos, Lisa.
Entramos e a mesa já estava posta. Conversamos diversos assuntos, enquanto almoçávamos. Em determinado tempo, quando estávamos quase acabando, decidi pedir ajuda da minha mãe.
— Ei, mãe. A senhora sabe que todo ano eu apadrinho algumas crianças e esse ano não foi diferente.
— Eu adoro isso, sabia? Acho tão lindo esse ação que você faz.
— Obrigada, mãe. Mas não faço para mim e sim para ver essas crianças felizes. Enfim, esse ano acabei apadrinhando dois irmãos, uma menina chamada Antonella e um menino chamado Hector. Quando eu li a carta da pequena Antonella, eu fiquei um pouco chocado porque ela me pediu um cachorro.
— Meu Deus, um cachorro? – meu pai perguntou, indignado.
— Calma, isso nem é o mais chocantes. O mais chocante é do irmão, ele me pediu um pai. Um pai! O que eu faço?
— Thomas, ele pediu um pai?
— Sim, um pai.
— Tom... já parou para pensar que, talvez isso possa ser para você? – minha mãe indagou.
— Para mim? Como assim?
— Filho...você sempre quis uma família mas nunca achou uma pessoa certa. Talvez, a mãe dessas crianças possa ser a certa. Pense. Você pode tentar realizar esse sonho, e olha, o combo já vem pronto. Você e Aika.
— É, talvez. Por falar em Aika, vou passear com ela no parque, acho que já vou.
Chamei Aika, me despedi de toda a minha família que ali estava presente e parti para o parque. Talvez minha mãe esteja viajando ou talvez não. Não vou mentir dizendo que não gostaria de ter uma família assim, mas eu também não sei. Talvez eu tente.
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Um papai de Natal
RomanceBeatriz Bittencourt é uma grande arquiteta viúva, que dedica sua vida exclusivamente para seus filhos, Hector, de seis anos e Antonella, de dois anos. Eles são os sua força desde que um trágico acidente de carro custou a vida de seu marido. Na épo...