Capítulo 3

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Era impossível não se apegar pelo menos um pouco com cada criança no qual se convivia em abrigos.

Era inevitável e qualquer pessoa que tivesse o mínimo de amor se apegaria pelo menos um pouco.
E não era diferente com Sophie, ela amava cada uma das crianças no qual ela já teve contato e amava de forma extrema Elizabeth. E ler o cartão que recebeu com as letras tão desengonçadas, mas tão claras a fez dar um sorriso que logo foi acompanhado de lágrimas.

"Eu queria que você fosse minha mamãe. Te amo"
Sophie só queria a abraçar e dizer que em breve ela seria. Era tudo que ela mais queria.

***
Um conjunto de crianças pulando alegres e cantando "a roda do ônibus roda, roda" enquanto Justin tocava o violão sendo contagiado pela animação das crianças fazia qualquer adulto naquela sala sentir seu dia um pouco mais feliz. Sophie precisou gravar um trecho, ela estava extremamente feliz em ver a sala tão animada. Havia juntado com outra turma de música que contava com as crianças entre cinco e oito anos.

_ Roda e roda pela ci-da-a-de! - Justin finalizou a música erguendo um braço fazendo as crianças gritarem animadas e alguns baterem palmas para ele - alguém tem algum pedido especial? - perguntou sorrindo. Nunca sentiu-se tão feliz como naquele momento.

Viu uma mão levantar e logo a dona dos olhos quase dourados e cabelos em cachos abertos, quase da mesma cor, pedir para falar.

_ Pode cantar yellow? É a favorita da tia Soph - colocou as mãos na boca em uma visível vergonha encarando o homem que parecia estar hipnotizado por ela. Deu um sorriso fraco assentindo.
_ Coldplay, hum?! - falou olhando para a mulher que estava quase de desmanchando de lágrimas por Elizabeth se importar tanto com ela e saber desses detalhes que ela falou uma vez muito tempo antes - acho que é hora de todo mundo sentar e descansar um pouco - Justin sugeriu e logo as crianças estavam se acomodando no chão.

Justin começou a tocar a música tão calmo quanto deveria ser. Soph se surpreendeu com algumas crianças cantarolando um trecho ou outro. Ela percebia os rostos felizes e isso a deixava extremamente feliz também.

Olhou para baixo quando sentiu alguém abraçar sua perna e ela logo se colocou de joelhos recebendo o abraço de Elizabeth.

_ Você ficou feliz com meu cartão? - a menina perguntou se afastando da mulher que tinha um sorriso no rosto tentando segurar as lágrimas o máximo possível.
_ Muito feliz, meu amor - sorriu alisando o rosto da menina que agora tinha um sorriso - A música que você escolheu é linda. Minha favorita.
_ Eu sei. Eu aprendo tudinho que você fala, tia Soph - sorriu contente sendo acompanhada pela mulher, mas logo tirou o sorriso do rosto - eu queria que você me levasse para casa.

Sophie deu um sorriso fraco. Queria tanto que fosse mais fácil, sem tudo isso de advogados, procurações, exames, análises, checagem e um milhão de coisas burocráticas que a fazia pensar que todo aquele processo era um teste de paciência.

_ Não é tão fácil assim, Liza... mas eu prometo que em breve você vai estar em uma casa linda e ter seu próprio quarto. Só precisa ter um pouco mais de paciência.
_ Eu espero, tia Soph.

A mulher recebeu um beijo na bochecha e viu a menina se afastar voltando para perto de seus colegas. Justin já cantava outra música um pouco mais calma e foi daquela forma até a aula se encerrar.

_ As crianças ficaram muito felizes, Justin. Obrigada - A mulher falou terminando de escrever o relatório da aula.
_ Eu nunca me senti tão cheio de energia. As crianças são incríveis - Sophie só concordou. Também achava as crianças incríveis. Tinha um carinho especial por cada uma delas - se hoje eu te chamar para sair, você aceita?
_ Para que você que sair comigo? - Sophie perguntou com o cenho franzido, fazendo Justin arquear o próprio.
_ Precisa ter uma justificativa? - perguntou com sarcasmo fazendo a mulher o encarar - eu só quero sair com você. Jantamos, conversamos e depois vamos para casa. Cada um para a sua, no caso.
_ Eu posso escolher o lugar?
_ Claro!

...

Justin observava a mulher falar, sorrir e gesticular incansavelmente sobre os anos de trabalho no abrigo. Justin não parava de sorrir sendo contagiado por ela. Ele tinha muitas perguntas, mas não tinha espaço para nenhuma por que ela não parava de falar um segundo. Não era algo que Justin estava reprovando, estava sendo interessante. Ela não parecia querer impressionar ele, apenas conversar como o proposto. E aquilo sim o impressionava.

_ Então, você já ouviu muito sobre mim. Quer falar alguma coisa sobre você? - Sophie perguntou colocando duas batatas fritas na boca
_ Eu trabalho em um escritório de contabilidade. Bem, estou de férias no momento. E eu não estava achando ruim, você falar. Você parece ser apaixonada pelo seu trabalho.
_ Eu sou - respondeu com um sorriso - eu não consigo me imaginar trabalhando eu outro lugar.
_ E como você administra seus sentimentos para não se apegar a ninguém? Você e Elizabeth parecem ser bem apegadas - Começou o assunto que ele mais tinha curiosidade em relação à mulher
_ Eu não me privo de me apegar às crianças. Sou uma psicóloga, não um robô. E acho que elas se sentem mais confortáveis em compartilhar coisas comigo se eu for amiga delas - deu de ombros - e com Elizabeth é diferente. Somos realmente muito apegadas uma à outra, ela chegou no orfanato há três anos e desde então somos muito próximas.
_ Interessante. Ela parece gostar muito de você. Tanto que pediu uma música de Coldplay por que era sua favorita - Justin lembrou dando uma risada
_ Eu me surpreendi com isso. E com o negócio da cor também. Não sabia que ela prestava tanta atenção assim. Ela sempre foi muito quieta e tímida. - deu um sorriso fraco e logo suspirou bebendo um gole da sua limonada - eu só queria que as coisas fossem mais rápidas e não tivesse tanta burocracia.
_ O que você quer dizer com isso? - Justin franziu o cenho sentindo um gelo em seu estômago quando viu o sorriso de Sophie se abrir
_ Eu tenho um processo pra adotá-la. Tem sido demorado e algo surgiu deixando as coisas um pouco mais complicadas, mas meu advogado está tomando conta disso.
_ E... você sabe o que é isso que está impedindo? - Justin perguntou sentindo um aperto no peito.

Justin Bieber, ela vai te odiar.

_ Não. Eu não estou muito preocupada com isso, poucas coisas poderiam me impedir de adotar Elizabeth, ou Liza como eu a chamo as vezes. E eu saber que ela quer estar comigo me deixa mais tranquila.

Justin assentiu bebendo três goles seguidos de sua água. Justin Bieber, ela vai querer te matar.

_ Ahn, legal - deu um sorriso nervoso - qual seu filme favorito? - decidiu mudar de assunto antes que ele mostrasse mais nervosismo do que estava mostrando.

Ele não queria estragar todas as suas chances com a mulher - que ele realmente se interessou no primeiro momento. Ele se sentia culpado em não poder realmente falar naquele exato momento o que ele estava fazendo no abrigo, mas também deveria ser honesto e confessar que não sabia se falaria mesmo se pudesse.

Ela era uma mulher interessante. Muito mais do que a maioria que já passou pela vida dele de alguma forma. E se ele se sentiu atraído pela personalidade dela no primeiro momento, não faria mal eles se conhecerem um pouco mais além.

Talvez quando eles tivessem envolvidos e ela tivesse o conhecido um pouco mais, ela o perdoaria por estar tirando a criança, que ela estava lutando para ter, dela. Talvez ela entendesse que tudo que ele queria era dar uma boa vida para a filha que um mês atrás ele não sabia que existia.

Ela definitivamente iria o odiar. Talvez ele só precisasse a conhecer melhor a ponto de saber uma maneira de contar e ela não o odiar para sempre.

Continua...

—x—

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