Olhares

81 5 0
                                    

E ele me observa como se tentasse enxergar minha alma...

Começo

Toco a campainha diversas vezes até que ele me atenda.

- Estressadinho , hein?

- Você está no caminho.- Digo apontando para o interior da casa. Ele abre caminho me deixando entrar, olho ao meu redor, ele toca me ombro.

- Seu quarto é lá em cima. Vamos?

Ele sobe a escada na minha frente, sigo ele, passamos por dois quartos de portas fechadas, escuto um barulho vindo do quarto à esquerda, deve ser minha imaginação.
Meu irmão, o gênio que estou seguindo, mora sozinho, mas não digo nada e ele igualmente continua calado até chegarmos à um quarto com a parede azul. Adentro o quarto para ver seu interior. É um quarto simples mas, mickey.... mickey não cara... MICKEY NÃO!!

- É todo seu. Aproveite. - Ele esta encostado na porta. Como ele consegue ser tão calmo e cínico? Alguem me segure!

- Você está de brincadeira comigo, né? Não tudo menos isso!!

- Bom nesse caso, tem um sofá de madeira ótimo te esperando na sala. - Ele diz tentando me tirar do sério. Conseguiu

Parto pra cima dele com raiva puxo sua camisa trago seu rosto para bem perto do meu e digo:

- Não... Não me faça..! - Ates que eu tivesse oportunidade de terminar a frase vejo tudo girar, minhas costas doem por causa da força com que ele me jogou no chão, ele me levantou pelo braço que o sufocava e me levantou acima da sua cabeça e me jogou do outro lado com toda força com um sorriso nos lábios e disse:

- Você só é mais alto que eu, não mais forte, maninho. Desfaça as malas a partir de hoje esse é seu quarto. - disse sentando na cama no canto do quarto. - Bom não precisa me dizer o motivo de você ter caído aqui de paraquedas, titia me contou que você conseguiu ser expulso de todas as escolas militares de lá, meus parabéns, seu grande cabeça dura - Ele me deixou jogado até que eu voltasse ao normal. Levantei e sentei ao lado dele na cama.

- Obrigado. Eu sei que mereço, não foi à toa que briguei com a gangue do norte inteira, mas no fim não me deram nenhum trabalho.

- Você tem o que na cabeça?! Você sabe muito bem das regras! - Ele pega minha cabeça e faz com que eu encoste minha testa na dele. Me olha com raiva e diz - Se você quiser se matar faça isso sozinho, não envolva a família nisso!

- Fica tranquilo, se vierem pra cima eu acabo com eles, maninho.

- Quantos eram?

- O que?

- Contra quantos você brigou?

- Ah! Acho que eram treze mas, não eram tão fortes, por quê? -ele me soltou. -  Arrumei meu cabelo e olhei pela janela. Tudo branco, o inverno daqui é realmente cruel.

- Que aparência tinham?

- Eu não lembro.

- Algum deles tinha o cabelo loiro?

- Não nenhum.

-Você teve sorte. Essa gangue é suja, usa armas de verdade. Bom, pelo menos o líder deles usa. Não se meta mais com eles, me ouviu? - disse ele olhando fixamente pra mim. - Arrume suas coisas e desça para a sala. - disse ele saindo do quarto.

A primeira coisa que eu fiz foi obviamente colar algo na parede para cobrir a imagem ridiculamente infantil do mickey que me enojava. O poster que ganhei da titia teve finalmente uma utilidade.
Escuto novamente um barulho vindo do quarto misterioso. Tomo coragem e deixo minhas coisas por um tempo, vou até o corredor e sigo até a entrada do quarto. Com um pouco de receio abro a porta. Dois olhos amarelos me olham fixamente.
Ascendo a luz e vejo um pequeno gato preto sentado sobre uma cama. Quando me aproximo ele fica de pé.
E ele me observa como se tentasse enxergar minha alma...
Depois de algum tempo ele se distraí com algo e me esquece. Paro de dar atenção para o gato e olho ao meu redor.
É um quarto simples, há algumas flores, tulipas, rosas, margaridas e outras que não conheço, abrigadas do impetuoso inverno dessa região. Vejo uma estante com alguns livros e papéis sobre ela, todos muito bem organizados. Há uma escrivaninha na parte de baixo da cama, com alguns papéis espalhados nela e no chão, obra do vento gelado ou do pequeno bixano preto. Me aproximo para juntar as folhas e me espanto um pouco.
Desenhos, desenhos e mais desenhos. Em todos os lugares uma folha solta com rabiscos. Flores, animais, pessoas, roupas ou até mesmo objetos sem sentido. Meu irmão nunca soube desenhar, ele não fez esses desenhos.

- De quem é esse quarto? - disse a mim mesmo.

- Meu.

ClarisseOnde histórias criam vida. Descubra agora