Sonhos

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Ela observava ele com tanta atenção, parecia querer ver cada detalhe...

Começo

Demorou algum tempo mas finalmente adormeci, acomodado dentre lençóis e corbertas quentinhos e uma cama e travesseiro macios como esses ninguém resistiria à uma boa soneca.
Mas mesmo estando em tal lugar aconchegante e loge de problemas, eles me atormentaram novamente, pesadelos, pesadelos e mais pesadelos. Um pior do que o outro.
Como de costume, todos eram embaçados, sem sentido e divididos em frames de imagens distorcidas. Sem sentido, mas eram suficientemente amendrotadores pra deixar até mesmo Hitler chorando como um bebê recém nascido.
Desde que minha mãe se foi tenho tido esses pesadelos, noite após noite. Mesmo sendo pesadelos repetidos, com as mesmas imagens, dos mesmos ângulos, com a mesma falta de sentido é impossível não se assustar como se fosse a primeira vez. É muito importante dizer que todos eles tem algum tipo de ligação com situações que eu vivi, pensei, vi ou ouvi. Tendo cada uma dessas imagens seu significado, alguns claros, outros enevoados e outros indecifráveis. O significados diversos que podem ser atribuidos de acordo com a pessoa, pesadelo, noite e as imagens que vem em sequência.
Me lembro de quando eles começaram, eu era pequeno demais pra tentar entender o que se passava neles, pra falar a verdade eu não queria entender, só queria que eles terminassem, mas nunca terminam, não até me fazer relembrar tudo o que aconteceu à muito tempo.
No natal, quando ao invés de ganhar um presente como de costume, como toda criança ingênua que acredita no papai noel espera, eu perdi algo insubstituível. A pessoa que eu mais amava no mundo, minha mãe. Tão gentil, tão delicada e compreensiva comigo, uma fada que eu perdi em meio ao fogo.
Uma das cenas mais comuns em todos os meus sonhos é a em que eu à perco de vista, sendo carregado por um bombeiro, esperneio para ele me soltar, mas ele não o faz. Pelo contrário me segura com ainda mais força até que eu não mais resista e me acalme, no exato momento em que a casa cede, com minha mãe ainda dentro.
A última vez que eu à vi ela não estava chorando ou buscando por socorro, ela estava calma e cantando para eu dormir. Quando os bombeiros chegaram eu estava ao lado da minha mãe segurando a mão dela, ela, estava com as pernas presas embaixo de uma parte da parede que cedeu, antes que a parede nos atingisse ela me jogou para longe, ficando sem tepo para se salvar da queda.
Eles nem sequer tentaram salvar ela, eles simplesmente não quiseram salvar ela.
Depois do ritual de tortura que todos os sonho me fazem passar acabou eu acordei. Minha cama estava toda bagunçada, eu estava encharcado de suor e lágrimas nos olhos, tremendo de medo.
Me levanto para lavar o rosto, abro a porta, vou até o banheiro e lavo o rosto. Quando levanto o rosto e me vejo refletido no espelho, vejo um bichinho assustado, um coelho medroso, com olheiras enormes e lágrimas nos olhos. Me recordo de todas as imagens retratadas no pesadelo e tenho uma pequena e controlada crise de pânico, instantaneamente sinto uma imensa vontade de vomitar, não consigo segurar. Aquela comida deliciosa e provavelmente cheia de amor que a garota fez, agora não passa de sujeira que vai ser descartada ao esgoto.
Saio do banheiro e quando estou indo ao meu quarto vejo que uma das luzes do andar de baixo esta acesa. Desço a escada cautelosamante pois as luzes estão apagadas, não vou ascendelas porque não quero acordar ninguém.
Finalmente chego ao andar de baixo, vejo finalmente que é a luz da cozinha que está acesa. Me aproximo para ver o que está acontecendo e vejo a garota, ela estão sentada em uma cadeira na mesa com fones de ouvido e de olhos fechados. Não aparentava estar dormindo, parecia estar pensando.
Me aproximo ainda mais dela e a observo por uma tempo. Seus cílios são realmente longos, suas bochechas naturalmente rosadas pelo frio são tão fofas, o seu cabelo ondulado preso em um coque acima da cabeça, a pulsera dourada no pulso esquerdo, a pele branca a mostra pelo pijama; ela é realmente muito branca.
Ela finalmente abre os olhos - impressão minha ou eles estão mais azuis do que antes? - e se assusta com a minha presença. Levanta os braço sem querer, e vejo um caderno de desenho em suas mãos, ela estava desenhando.... mas...como?
Por que?

ClarisseOnde histórias criam vida. Descubra agora