Os Camphebel

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       Até meus cinco anos de idade eu morava com meus pais, eramos uma família feliz como outra qualquer. Meu pai era comerciante e minha mãe dona de casa. Apesar de sermos bem pobres tinhamos uma vida boa. Nesse período o nosso país estava em crise, ou seja, as coisas não estavam fáceis para ninguém, pessoas perdendo suas casas para estrangeiros, famílias sem comida, entre outras coisas.

       Em nossa casa não foi diferente. Era uma noite sombria e fria, estavamos nós três na sala quando o som de batidas bruscas na porta soaram. Meu pai foi à porta para averiguar, minha mãe por instinto faz sinal para eu ir para meu quarto, assim eu fiz. Meu quarto era minúsculo e frio, pois tinha frestas enormes próximas a janela.

       Poucos minutos depois de eu entrar no quarto eu ouvi o som da porta sendo arrombada aos gritos, homens gritando em uma lingua estranha, coisas quebrando com violência e então... siêncio. Pela fresta da porta eu vi meus pais deitados imóveis sobre o piso, naquele momento meu primeiro pensamento foi fugir. Olhei para a janela, por sorte a janela não era alta, mas ainda assim dificultava a passagem. Quando estava quase passando senti uma dor forte em meu braço, antes mesmo de pensar bem nela percebi que meu tempo era curto, pois ouvia as vozes estranhas vindo. 

       Quando finalmente atravessei olhei para a casa mais próxima e corri o mais rápido que uma criança consegue correr. Aos prantos bati na porta. Uma mulher loira de feição amável atendeu dizendo:

       - Meu Deus!Oque houve com você?

       - Tem uns homens lá em casa... eles machucaram meus pais.- disse eu entre soluços.

       - Entre querida, irei cuidar de você.

        Ela me conduziu para dentro. Quando entrei porta a dentro vi um homem sério sentado, olhando atentamente ao redor e seus filhos todos próximos a lareira. A senhora fez sinal para eu me sentar em uma cadeira perto de seus filhos enquanto conversava desesperadamente com seu marido. O esposo correu porta a fora chamando os vizinhos por perto para ajudar. A bondosa mulher sentou ao meu lado e começou a falar calmamente ao enquanto cuidava do meu braço ferido.

       - Vai ficar tudo bem, não se preocupe. O Sr. Camphebel foi até sua casa para ajudar. Qual é seu nome?

       - Meu nome é Zaya, Zaya Lewis.-respondi entre lágrimas.

        - Que nome lindo! Esses são os meus filhos-ela apontou para cada um dos três-Briam, Antony e Christopher. 

       Briam era o mais velho, parecia ter uns dez anos, era alto para a idade e corpulento. Antony tinha aparentemente oito anos, tinha o mesmo ar bondoso da mãe. Christopher o caçula, aparentava possuir sete anos e mesmo com medo não deixava de ter uma feição alegre no rosto. Todos eram loiros de olhos castanhos assim como a mãe. Os três se apresentaram com um aceno tímido.

        - O papai irá voltar logo? O que aconteceu?-perguntou Antony depois de um tempo.

       - Ele voltará logo. Quando voltar tenho certeza que explicará tudo para nós... até lá iremos ficar junto a lareira nos aquecendo.-disse a mãe com tom de preucupação enquanto terminava a atadura de meu braço.

       Alguns infinitos minutos se passaram quando o Sr. Camphebel entrou. Ele estava com uma respiração ofegante e olhos tristes. A Sra. Camphebel foi até ele. Eles ficaram algum tempo conversando quando a senhora veio até mim.

       - Vou leva-la para o quarto de visitas e lá iremos conversar, querida.

       Concordei afirmativamente com a cabeça. Ela me conduziu até chegarmos no último quarto da casa, onde tinha um papel de parede floral, moveis bonitos e algumas pinturas de família. A senhora fez sinal para eu me sentar na cama, eu obedeci. Após sentar do outro lado da cama eu disse:

       - Onde estão meus pais? Eles vão chegar logo, não é?

       - Sinto dizer Zaya, mas você não mais verá seus pais... eles estão em um lugar melhor agora.-disse ela com pena nos olhos.

       Naquele momento eu percebi o que tinha acontecido, meus pais morreram. Eu não tinha mais ninguém. Então senti as lágrimas quentes escorrendo em meu rosto, não me dei o trabalho de seca-las. Estava tão envolta em meus pensamentos que nem percebi que a Sra. Camphebel estava me abraçando.

       - Vai ficar tudo bem, você vai ver. Por enquanto vamos arrumar a cama para você dormir e amanhã veremos o que podemos fazer. 

       No outro dia foi o velório de meus pais. tinha poucas pessoas, apenas vizinhos e alguns conhecidos. Algum tempo depois do velório chegar ao fim vi os Srs. Camphebel conversando com alguns vizinhos. Eu estava em um canto não muito longe da conversa quando os flilhos dos Srs. vieram até mim.   

        - Sobre o que eles estão falando?

       - Estão decidindo em que casa você irá ficar. Acho que será na nossa.-respondeu Antony com doçura.

       Briam concordou com a cabeça.

       - Espero que você fique conosco... gostei de você.-disse Christopher. 

Depois daquele dia foi decidido que eu iria ficar na casa dos Camphebel, pois ninguém conhecia parente algum meu. Não foi uma coisa ruim, todos pareciam gostar muito de mim. Depois de alguns dias eu já estava acostumada com a casa, o meu quarto e a família. Um certo dia a Sra.  Camphebel e eu fomos até minha antiga casa para pegar o que restou (já que o restante foi tudo roubado) e caido entre as frestas no chão encontrei o anel preferido da minha mãe. O guardei como meu tesouro paricular, porque ele ainda não cabia em meu dedo.

       Eu sempre ficava dentro de casa ajudando a Sra. Camphebel nos afazeres domésticos, mas também aprendia a ler, escrever e bordar com a mesma. Bordar para mim era a parte mais tediosa, nunca vi nada de especial nisso, mas sengundo a Sra. Camphebel "toda mulher precisa saber bordar desde cedo". Ao contrário, os meninos ficavam quase o dia inteiro fora com o pai. Tinha dias que eles apareciam apenas para o jantar.

       Em alguns dias da semana os Rogers fazem uma visita a casa dos Camphebel e sempre trazem sua filha Briene, ela é um ano mais velha que eu e uma menina muito agradável (depois da primeira visita nos tornamos amigas). Os Rogers são gentis na maior parte do tempo, mas infelizmente sempre tem um momento em sua visita que eles insistem em relembrar a morte de meus pais e como sentem pena de mim.

      Eu sempre sinto a falta de meus pais, mas a minha vida agora é muito boa. Aqui sinto-me bem acolhida e adoro conversar com meus "irmãos" (foi ideia de Antony de apartir de agora chama-los de irmãos) eles são sempre legais comigo. 



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