Marina
Encarava o espelho com medo do que iria encontrar, com medo de ver uma Marina que eu não conseguia enxergar há muitos anos. Tinha medo do que o futuro estava me reservando, mas não podia negar que também havia uma pitada de ansiedade para conhecer o mundo que me esperava.
Tinha sido muito difícil caminhar até a sala da madre superiora há alguns dias e comunicar a ela o que estava em minha mente. Não vou dizer que ela ficou feliz com a minha fala, só que também não me impediu de seguir o que o meu coração gritava para que eu fizesse.
E naquele momento seria a hora de eu tirar meu hábito depois de cinco anos para seguir uma jornada completamente diferente da que almejei durante muitos anos. Já que daqui a uma hora eu sairia do convento e iria pegar o ônibus que me levaria para a cidade vizinha, para que pudesse começar minha nova jornada que ainda era uma incógnita pra mim.
E era exatamente por aquele motivo, que estava em frente ao espelho, me encarando e realmente com medo de tudo o que viria.
Respirei fundo algumas vezes, antes de tomar a coragem que tinha que tirar do meu coração para seguir minha jornada. Levei uma de minhas mãos até o meu véu e o desci lentamente, olhando a cor meio avermelhada dos meus cabelos. Quantos anos eu não me via com os cabelos daquele jeito.
Até quando tomava banho, evitava olhar para os espelhos, enquanto não cobria meus cabelos. Meus olhos se encheram de lágrimas e foi inevitável não deixar que elas escorressem por minhas bochechas.
Era algo que eu não pensava que aconteceria em meu caminho e naquele instante estava desistindo de tudo que sonhei. Deixei que mais lágrimas escorressem por meu rosto e continuei chorando, enquanto tirava todo o meu hábito.
Assim que vesti uma das minhas roupas que havia levado para o convento — um vestido completamente simples — percebi que aquele era o momento de sair do quarto que não seria mais "o" meu.
Enxuguei as lágrimas, peguei a pequena mala de mão, bem gasta que eu tinha e caminhei para fora do lugar. Desci as escadas que levavam para a saída e lá encontrei todas as irmãs e noviças que fizeram parte da minha vida naqueles anos.
Algumas choravam, outras estavam com um sorriso doce em seus lábios. A madre superiora também estava presente, e só ela que não demonstrava nenhum tipo de emoção.
— Espero que nessa nova jornada, você seja muito feliz, Marina — irmã Dulce comentou.
— Obrigada, irmã!
Outras vieram se despedir de mim e foi impossível controlar novamente as lágrimas. Estava muito emotiva naquele dia, já que desistiria do meu maior sonho, para ajudar minha mãe. Eu não queria ficar lembrando daquele motivo, pois fazia parecer que minha mãe era um monstro que não me permitia sonhar e era totalmente ao contrário.
Assim que me despedi de todas, chegou a vez da madre superiora. Ela sempre foi uma pessoa muito séria, mas nunca uma mulher grossa. Quando direcionou um sorriso em minha direção, sabia que não estava completamente decepcionada comigo.
— Espero que a sua nova jornada seja iluminada por Deus, Marina.
— Obrigada, madre!
Também lhe dei um longo abraço e depois que me afastei joguei um beijinho no ar para todas, peguei minha mala que havia deixado no chão e saí do convento, caminhando para o táxi que já me esperava na porta do lugar.
Eu iria para a rodoviária, encarar uma viagem de mais ou menos quatro horas e começaria minha nova jornada. Esperava que Deus me abençoasse com aquele novo caminho.
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A Noviça, o CEO e o Bebê - Degustação
RomanceEle era um viúvo cobiçado, mas que não deixava seu coração ser preenchido por outra pessoa, a não ser seu filho. Ela era uma mulher inocente, virgem e que teve de desistir dos seus sonhos, enquanto noviça para ajudar sua mãe com os trabalhos da cas...