Cap. I - Os morcegos e a chegada do terror

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[O pesadelo e o amanhecer de mais uma batalha no tempo]

"Eu era um gigante e me segurava com todas as minhas forças na corrente de um forte e imenso gato. Esse gato me protegia de qualquer perigo. Minha mãe não aceitava eu e meu gato. Montei em meu gato e me virei para conquistar o mundo. Minha mãe atravessou-me com uma espada de ouro maciço e disse em voz de trovão ao me matar: através do meu ventre você não vai. - a Terra ainda vai ser minha. Mais uma vez não lhe dou a honra de andar pela Terra. - E aquele mundo colorido e ameaçado de mares de sangue se fechou mais uma vez circularmente aos meus olhos".

A porta batendo umas três vezes já estava levando o restinho do meu sono embora. Chegando, despertando de um leve e estranho pesadelo, acordei meio assustado. Não só pelo barulho da porta abrindo e fechando mas por não lembrar qual era o motivo do quarto estar todo pintado de preto e pichado, com muita coisa escrita, desenhos e o caramba. Aquilo tudo estava muito estranho. Tinha de tudo escrito pelas paredes. Latinhas de cerveja ao meu redor. O videogame ainda estava ligado. Lá estava eu - deitado ainda com um fino cobertor, prestes a levantar.. é sábado, pouco antes de onze horas. Começando já a lembrar do dia de ontem - e entra o Vitor correndo pela porta, jogando a mochila na cama e dizendo afobado: - Gugu, levanta e vamos lá embaixo nas colunas dos morcegos, o Santi já está indo pra lá. Eu estou indo com a Luisa, da minha turma. Vamos lá, o Santi conseguiu um baseado pra gente.

[O sensitivo Nicolau já sabia abrir a torneira sozinho]

Daí que eu lembrei, daí que eu comecei a acessar os registros de ontem, lembrei do Vitor falando que ia trazer uma amiga aqui hoje, uma mina bem gente boa.. meio doida etc! E o Vitor gritou enquanto batia a porta - To descendo, estamos indo lá embaixo, não demora muito, Gugu, bora lá duma vez! Ainda deitado na cama mas já bem desperto, por um segundo tive um flash de lembrança - me veio ao pensamento - o conselho daquele bruxo que riu quando me viu e disse que estava tudo certo. Mais uma vez me veio a certeza de estar dando os passos na direção certa. Eu precisava ir atrás do Vitor o mais rápido possível.

Me levantei da cama. Segui pelo corredor, alongando a coluna e fui até a varanda colocar água pro Nicolau e dar uma respirada de ar puro.. ar profético e estranhamente sedutor, um ar de sangue seco, secado há séculos acorrentados, sei lá.. um ar diferente... O Nicolau abraçou-me como faz com todos que entram na varanda. Mas de repente ele começou a uivar. Chorou para o céu e ficou uivando na varanda. Achei que estava com alguma dor, alguma ferida, sei lá. Enchi o potinho de água dele, fechei a torneira que já estava um pouco aberta e coloquei no chão e encostei a porta da varanda.

Sentei à mesa, tomei um bom gole de café preto e quentinho e me dei conta do seguinte: - Era pra eu estar hoje cedinho na produtora, tinha uma edição pra adiantar até segunda-feira... Mas tudo bem, vou domingo à tarde, com doces, salgados e Coca-Cola e está tudo certo...

E dei o segundo gole.

[Um calafrio, uma fantasia]

Com o café ainda descendo pela goela, refleti: "Até então, a natureza dos dias e as portas premiadas não faziam parte de nenhuma das minhas listas, e mesmo depois nunca vieram a fazer, exceto a natureza dos dias, que fedendo ao asco empírico da causa e efeito, tenho dito e feito, as portas são energias mentais com todos os reflexos, que da luz da tua alma possa transparecer" - e me veio um arrepio extremamente diferente, sustentando a espinha alongada e - se eu fosse um gato estava com o pelo todo arrepiado - me deu uma forte vontade de ir ao encontro dos três, lá embaixo. Imediatamente. Com um toque até de desconhecida comoção.

Dei mais um grande gole e só sobrou um pouquinho de café preto no fundo da bela xícara branca, que refletia a água da imensa lagoa disparando rajadas de luz do sol ao ondular da superfície.

O Demônio da SacopãOnde histórias criam vida. Descubra agora