Minha primeira reação foi um certo pânico. Foi um temor instintivo, um temor físico. Aquela jovem menina correndo de um lado para o outro como um felino em caça, a princípio me parecia impossível superar sua força e velocidade. Quando eu me deparei com a Luiza passando em minha frente, circulando a árvore próxima a nós, dando duas, três voltas ao redor da árvore enquanto eu tentava dar os primeiros passos desbastando aquele mato denso e selvagem, eu tive certeza que algo sobrenatural estava em curso.
Eu não sabia porque ela estava correndo daquele jeito, parecia um animal em pânico buscando a saída. Minha intuição me sugeria parar ela, segurar pelo braço, pela cintura, sei lá. Eu não tinha muitas opções. Então eu pude perceber que ela estava buscando uma saída. Eu vi que ela corria pelo local buscando uma abertura na mata ou um caminho abandonado, eu não sabia exatamente ainda.
A sensação que eu tive nesse momento, foi a sensação de estar rodeado por uma ciranda gigante de pessoas. Uma imensa ciranda que se expandia e se fechava. Era uma espécie de cerimônia fúnebre, uma celebração de algum tipo de conquista ou anunciação.. parecia que um pouco eu podia ouvir.
O Vitor e o Santiago não paravam de gritar lá de cima. - Gugu! O quê está acontecendo aí em baixo? - gritou o Vitor com a voz já meio derrotada. - Que barulho é esse, irmão? Que barulheira é essa no mato? Que porra é essa? Gugu! Cadê vocês? - gritou também o Santiago. Eu confesso que mais urgente que respondê-los era decidir como reagir e o quê fazer naquele momento assustador. Em uma das passadas da Luisa ao meu lado eu ameacei segurá-la e projetei o corpo em direção a ela - Mais uma vez aqueles olhos negros e assustadores me olharam profundamente. Pensei que eu seria atacado naquele exato instante.
O momento ficou tenso. Eu percebi que haveria resistência caso tentasse contê-la. Mas eu não podia esperar. O tempo estava passando e aquela força bruta de origem desconhecida precisava ser controlada. A cada vez que ela desbravava a mata densa buscando sei lá o quê, era o seu rosto que abria o caminho, galhos, cipós e todo tipo de folhagens, eu pude perceber os arranhões que já se acumulavam em sua pele, no pescoço, nos braços.
- Gugu! Cadê vocês? Cadê a Luiza? - gritou o Vitor. Nesse momento a Luisa passou novamente como um monstro selvagem ao meu lado, eu não podia perder mais tempo, aquilo estava ficando desgastante e a tarde ia passando. Foi aí que eu tomei a decisão de tentar pará-la. Como um goleiro eu saltei quase uns dois metros para alcançá-la e pude segurar um de seus braços. Assim que eu me posicionei mais firme na frente dela segurando um de seus braços, ela se contraiu como se estivesse reunindo forças e num golpe de filme de ação, com a sola do tênis em meu peito me arremessou bem longe. Eu quase não pude acreditar! Ela conseguiu me arremessar para longe! Eu realmente saí do chão, passei por cima de um arbusto e caí depois de bater com as costas em outra árvore. Foi inacreditável. Minha pele se arrepiou em modo de alerta e o susto misturado com a noção de dever tomou conta.
- Vitoooor! Santiagooo!!! Desçam aqui imediatamente! Os dois! Venham aqui agora! - gritei em certo desespero! Me dei conta que eu iria precisar de todo o apoio naquele momento. A Luisa parecia estar sob controle de forças que eu não conseguia entender e muito menos conter sozinho! O que eu sabia é que só eu não ia dar conta. Por mais que eu tentasse.
- Caralhooo! Vitooor! Santiagoooo! Desçam aqui, porra! Caralho, venham aqui me ajudar! - gritei com toda a força e vigor que a situação exigia. - Mas o quê aconteceu, Gugu? Cadê a Luisa? - falou o Vitor lá de cima. Os dois estavam a uns dez metros acima do mato. - Puta que o pariu, caralho! Desçam agora pra me ajudar aqui porra! - Eu já estava rouco e não iria explicar nada, eu precisava deles aqui em baixo pra me ajudar a segurar ela imediatamente.
- Mas como que a gente vai descer? - falou o Vitor com a voz meio trêmula. - Porra! Joguem um pouco dessa terra aí em cima da canaleta, sentem nos pés e venham escorregando até aqui em baixo! - gritei eu. - Tá bom a gente vai descer. Vem Santi... - disse o Vitor em uma decisão corajosa.
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O Demônio da Sacopã
Paranormal1997. Verão quente do Rio. Na mesma rua em que morava Tim Maia, vivia um grupo de adolescentes que curtiam muito a natureza em um dos mais belos e tropicais condomínios da rua Sacopã, na Lagoa Rodrigo de Freitas, bem em frente ao acolhedor Redentor...