Só mais cinco minutos de tortura. Abigail está atentamente a olhar para as suas unhas com resto de verniz. Olho em redor, e reparo que na verdade, ninguém presta atenção ao que o professor Anderson diz. Os sortudos que se sentam perto da janela já só estão de corpo na sala de aula, porque a alma já dança e festeja lá fora o inicio das férias de Natal. Outros, olham atentamente para as suas canetas, como se estas lhes dissessem as maiores verdades das suas vidas. Ainda há aqueles que decidem atirar pequenas bolinhas de papel para os colegas de frente. E depois há Rosemary.
Tal como eu, Rosemary está atenta a cada detalhe que os lábios do professor Anderson desenham. Há só uma pequena diferença. Rosemay está estonteante, com o seu cabelo cor do trigo encacheado e brilhante, com a pele suave, batom provocante e umas pestanas bem abertas para o mundo. Pelo contrário, já devem imaginar como eu estou. Cansada, com olheiras, lábios gretados do frio, cabelo desgrunhado da ventania que teima em não parar. Ainda bem que é o último dia de aulas deste período, preciso de reunir forças (mas sei que nunca vou chegar ao patamar de Rosemary. Como é possivel ela estar sempre tão arranjada? Eu mal tenho tempo para dormir!).
- Meninos, meninas e outros - não sei a que é que o professor Anderson se refere, mas ele tenta sempre ter algum humor no que diz. Mostra sempre uma expressão séria, e é muito basicamente isso que lhe dá a piada. - creio que seja a vossa última aula de fisico-quimica deste período...
- E crê bem! - aparece um grito proveniente do fundo da sala, interrompendo Anderson, que se irrita ligeiramente, plantando uma expressão confusa na face ao mesmo tempo, enquanto que, com os olhos, percorre a sala à pocura de uma cara que encaixe com a voz que acabara de ouvir.
- Continuando, - desiste de tentar apanhar o autor daquele grito - espero que continuem a estudar nas vossa férias. Antes de saírem eu ainda queria acrescentar qualquer coisa - de repente leva a sua mão ao queixo e olha de relance para cima, como que o teto da sala o lembrasse do que quer que se tivesse esquecido. - O que era? - murmura para si, o suficientemente alto para ser ouvido e despertar alguns risos da audiência. - Silêncio ! Acabei de me lembrar ! No próximo período vão receber um novo aluno na vossa turma. Young. Jonathan, penso eu. Jonathan Young !
Jonathan. Young.
Não tentem imaginar a forma que o meu rosto tomou, porque não vão conseguir. À minha volta todos arrumavam os seus materiais com normalidade, quase ignorando o que tinham acabado de ouvir. Na verdade não lhes fez diferença, as suas vidas continuariam. Mas a minha tinha acabado de parar. Quando pousei os meus olhos em Rosemary, vi que ela tinha decidido pousar os seus sobre mim. A diferença é que ela estava animada, e mostrava um sorriso maquiavélico. Juro, não estou a exagerar. Aquele sorriso dizia que ela ia tramar algo.
- Evelyn?! - Só lhe faltava amarrar os meus ombros e abanar. - Não me ouves ? Já te chamei umas três vezes ! Arruma as tuas coisas, quero ir embora desta espelunca, estamos de férias ! Que se passa contigo?
Viro o olhar para o local onde Rosemary estava, mas já lá não se encontrava ninguém. Comecei então a pegar nas minhas coisas, e a empurra-las rapidamente para a mochila.
- Nada, não se passa nada. - foi um erro mentir? Limitei-me a omitir o simples facto de que 'já conheço o tal Jonathan, que vai entrar na nossa turma, sabes Abi? . Ele foi o meu melhor amigo, o único rapaz que realmente mostrou algum interesse em ser meu amigo, foi a companhia das minhas tardes, e o meu primeiro, e Rosemary também o conhece e agora posso jurar por tudo que ela me lançou o olhar: Agora fico eu com ele, sua desgarrada. Mas não me achas muito maluca pois não, Abi?'. Ela ia achar-me maluca, e pode ser que ele nem se lembre de mim, nós mudamos, crescemos. Abigail não precisa de saber desta confusão, porque esta confusão ficou trancada na minha infância.
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Para te encontrar
General FictionNinguém esquece o seu primeiro amor. Evelyn Miller e Jonathan Young não são a exceção. O amor de ambos ficara enterrado, pensavam eles, quando Jonathan é obrigado a mudar de cidade. Anos mais tarde, este volta, e Evelyn não sabe como lidar com a su...