Amor, algo que os mortais são abençoados com. Se torna fácil para eles, porém para nós não foi assim. Vimos o céu se tornar um inferno para que pudéssemos continuar juntos... porém, nada é para sempre. Não para nós.
Horas se tornaram dias, semanas...
Seu sorriso viperino se espalhava, borrando minha visão, assim como seus olhos negros tão escuros que davam a impressão de estarem engolindo toda e qualquer luz que viesse brilhar. Meu corpo estava sendo perfurado por milhares de estacas feitas de gelo. Meus gritos não passavam de combustível para aquela aberração, que enterrava ainda mais aqueles pregos congelados em mim. Suas garras me dilaceravam em todos os pontos enquanto seus dentes afiados como serras arrancavam pedaços meus.
Mesmo que gritasse e esperneasse, ele não me deixaria ir. O gelo me prenderia ali, imóvel e com dor por toda a eternidade.
Eu lutava contra minhas amarras de aço, grunia e berrava e sibilava ameaças à ele, mas nada adiantava, seu sorriso apenas aumentava como se seu rosto estivesse se rasgando para dar espaço as fileiras de dentes a mostra. Sem dó, misericórdia e muito menos pena. Era isso que eu merecia, após meu pecado. Eu deveria apodrecer ali. Eu não era nada, apenas um pedaço de alma sendo torturado por eras, sendo torturada por amar.
ILLYRA! VAMOS ACORDE!
As mãos dele agora me sacudiam. Não, não toque em mim! Saia!
Em um piscar de olhos eu estava de pé, pressionando o pescoço daquela aberração contra a superfície lisa do gelo adormecido, eu enterrava minhas unhas em sua pele com gosto. Lucifer era quem deveria sangrar por entre meus dedos.
— I-Illyra. Sou eu, Salatiel! — de forma rápida e brusca o gelo sumiu e as estacas, as amarras se foram junto também. Meus olhos se abriram e eu vi meu amigo, seu cabelo castanho curto e seus olhos marrom-avermelhados traspassando dor genuína. Mesmo que sua feição estivesse tranquila, seus olhos não mentiam.
Vi minhas unhas em seu pescoço e seu sangue negro e viscoso escorrendo em minhas mãos. Olhei ao redor buscando algo familiar mas tudo estava destruído, o quarto fora queimado e os móveis estavam jogados pelo lugar, como se tivessem sido arremessados. Meu olhar recaiu no espelho quebrado que estava apoiado no que restou da cômoda, meu olhar sanguinário, o sorriso amplo e cruel, o vermelho vibrante de meus olhos que engoliam a luz e a cor violeta deles. Meus cabelos pretos – agora pretos – flutuavam ao meu redor tão negros quanto a noite.
— Desculpa... e-eu sinto muito — gemi as palavras repletas de culpa, meus joelhos falharam ao olhar nos olhos agora suaves de meu companheiro, na compreensão ali presente. Fui ao chão com as mãos em minha cabeça, de novo... eu machuquei ele por conta de meus pesadelos, destruí tudo de novo. Eu reparei em minhas lágrimas apenas quando uma delas caiu em minha coxa, eu soluçava como um bebê e tremia feito um também.
— Calma. Respira, você está em casa. Está livre, já passou — ele dizia calmamente enquanto afagava meus cabelos, agora sujos com seu sangue. Eu sou a pior, o fiz se acostumar a isso ao ponto dele não reagir mais. Eu o fiz se acostumar a isso... A mim.
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