Capítulo 08

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Bem, você só precisa da luz quando está escurecendo
Só sente falta do sol quando começa a nevar
Só sabe que a ama quando a deixa ir

Let her go- Passenger


Connor Rhodes

-Hey, o que acha de irmos aquela exposição hoje? -a voz de Robin chegou até e eu sorri para a mulher a minha frente, todo esse tempo tinha feito bem a ela, e eu não podia negar que estava feliz por tê-la por perto novamente, mas algo em mim dizia que as coisas agora eram diferentes, olhei ao redor me perguntando onde Ava poderia estar, era quase meio dia e eu ainda não havia visto ela por aqui.

- Acho uma ótima ideia- concordei sorrindo enquanto analisava um dos prontuários- A's oito? – ela sorriu.

- A's oito- concordou- Deixe-me ir ver meu pai- eu a vi se afastar e olhei para a jovem na recepção.

- Sabe onde está a Dra. Bekker? -ela me direcionou seu olhar- Precisava falar com ela sobre algo.

- A Dra. Bekker está de licença- o choque me atingiu, algo teria acontecido e eu não sabia? -Pensei que soubesse- eu apenas neguei.

- Sabe por quantos dias? -eu voltei a questionar.

- Não sei, Dr. Rhodes, mas o Dr. Latham está vindo aí acho que ele saberia responder- eu apenas acenei, enquanto via o homem se aproximar.

- Dr. Rhodes- Dr. Latham me cumprimentou rapidamente, eu retribuí seu aceno enquanto seguia ao seu lado em passos lentos- Esqueci de avisa-lo ontem, mas nos próximos dias, seremos só nós dois, preciso que esteja comigo na cardiotorácica na maior parte do tempo- não evitei quando arqueei as sobrancelhas em uma clara confusão.

- Acabo de ser informado que Ava está de licença, algo aconteceu? – os olhos castanhos do homem ao lado recariam sobre mim.

- Não, Dr. Bekker viajou para visitar uma tia- eu concordei- Nada demais segundo ela- esclareceu ele- Posso contar com o Sr.?

- Claro- concordei.

- Ótimo- e então ele me deixou sozinho naquele corredor, ela tinha viajado, eu não sabia bem como pensar, mas não tinha bons pressentimentos quanto aquele fato, as coisas não iam bem depois que ouvi a versão do meu pai, eu vi a mágoa em seus olhos algumas vezes e acho que o fato de Robin estar de volta também não era algo confortável para ela, mas eu não sabia de outro modo para lidar com a situação, ela tinha dormido com meu pai, não tinha mais chances para nós, então porque eu continuava tentando achar outra forma? Era o que eu me perguntava todos os dias.

O dia foi cheiro como eram todos os outros, perdi uma paciente e aquele era o momento em que eu deveria dizer ao marido que ela não tinha resistido.

- Sr. Murphy- seus olhos alcançam os meus, parecem implorar por uma notícia que eu não posso dar – Eu sinto muito, fizemos todo o possível, mas sua esposa acaba de falecer- ele parece em choque, depois as lágrimas correm sem que ele faça questão de disfarça-las, um casal jovem, recém casados, agora com sonhos não realizados e uma trajetória que ele terá que seguir sozinho.

- Esse era nosso primeiro ano- declarou ele ainda entre o choque e a dor- Tínhamos brigado, algo bobo que agora parece fazer tão pouco sentido- ele deu de ombros e eu quis fazer algo que pudesse aliviar o desespero que eu via em seus olhos- Posso vê-la? – eu apenas concordei.

- Claro- o guiei até o quarto há poucos metros, ele beijou suas mãos carinhosamente, as enfermeiras deixaram o espaço para dar mais privacidade, ela teria que ser retirada em breve.

- A única coisa que consigo pensar é que a ela viu a raiva em meus olhos quando saiu essa manhã, que eu a ignorei quando saiu- ele volta a chorar- E tudo que eu queria ter dito era que a amava, tudo que eu queria agora é que ela pudesse saber disso- eu sentia que sua dor poderia ser tocada, respirei fundo eu sentia certa angústia, porque de algum modo aquelas palavras havia chegado a mim e me atingido.

No começo da noite eu deixei o hospital, Robin me esperava do lado de fora com um sorriso, eu adoraria ter retribuído como costumava fazer, mas não consegui.

- Você está bem? Podemos cancelar se preferir, vai ficar até a semana que vem, então- ela deu de ombros e eu neguei.

- Não, estou bem, só vi um paciente perder a esposa hoje- ela acenou compreendendo, os olhos do homem ainda estavam presos em minha mente, o modo como olhava culpado para a esposa, aquilo despertava algo em mim também.

Robin ainda era a mesma companhia agradável de antes, a mulher divertida e que tirava a tensão do ambiente ao redor, a exposição era mesmo fascinante e consegui me distrair por algum tempo, depois seguimos até um restaurante há apenas alguns metros, a comida era boa e uma música soava preenchendo o lugar, estávamos sentados próximos a janela, peguei meu celular para responder Claire, ela tinha uma mania de sempre mandar mensagens pelo Instagram, não importava quantas vezes eu reclamasse, lá estava a foto da loira ao lado da mulher que conclui ser sua tia, tinha um sorriso no rosto e percebi que há semanas eu não via aquele brilho ou mesmo um sorriso como aquele em seus lábios.

- Hey você está mesmo bem Connor? – a voz da mulher a minha frente me trouxe de volta aquele momento.

- Sim, só o dia que foi longo- ela sorri.

Eu analiso um pouco mais suas feições, estive apaixonado por ela até um tempo atrás, quis ir atrás quando partiu e dizer que a amava e pedir que ficasse comigo, e desejei isso pelos meses que vieram depois também, mas agora, algo tinha mudado e eu não sabia definir como ou quando, mas as coisas já não eram como antes, meus sentimentos por Robin ainda estavam ali, mas agora tinha uma diferença que eu ainda não sabia dizer exatamente qual era.

Eu estacionei em frente ao prédio onde Daniel Charles morava e ela me sorriu.

- Foi boa noite, obrigada Connor- eu retribuí seu sorriso.

- Fica até quando? – eu quis saber.

- Ainda não sei – ela deu de ombros- talvez o restante do mês- eu concordei, nos aproximamos, uma proximidade que não fiz questão de negar, mas então foi como se algo acendesse em meu cérebro, não era o perfume dela, não eram os lábios de Ava ali e outra vez eu ouvia a voz daquele marido a chorar pela esposa a me dizer as mesmas palavras, me afastei antes mesmo que me desse conta e quanto abri os olhos, Robin me encavara de um modo profundo, ela estava me analisando.

- Sinto muito- eu consegui sussurrar.

- Não se preocupe- ela esclareceu- Eu deveria saber que as coisas mudariam quando decidi ir embora- olhou a noite fria do lado de fora pelo para-brisa- É a Ava? – eu quis perguntar como ela sabia, mas ela sorriu- Eu vi nos olhos dela- engoli em seco.

- É complicado- foi só o que consegui dizer.

- De qualquer modo não deveria deixa-la escapar, soube que tem um pequeno fã-clube pelo hospital- ela brincou- De qualquer modo, boa noite Connor- ela se preparou para sair e segurei seu pulso.

- Amigos? -nunca me imaginaria dizendo algo assim para ela, mas eu não via outra opção agora.

- Amigos- ela me sorriu antes de sair, eu dirigi de volta para casa, com o sorriso de Ava mais uma vez em meus pensamentos, repassando tudo e me perguntando se não fui um idiota outra vez, durante esse tempo todo, eu a acusei de me denunciar e a mágoa que vi nos seus olhos naquela noite, eu não sabia se ainda tinha um caminho para nós dois.

Os outros dias passaram rapidamente, Robin e eu saímos para jantar outra vez, Dr. Latham e eu tivemos algumas cirurgias e eu não podia negar o quanto era estranho estar ali e não tê-la do outro lado, para debater minhas decisões e apresentar outras saídas, mesmo sabendo que eu faria do meu jeito.

- Hey, Rhodes já ficou sabendo? – a voz de Will me alcançou enquanto guardava minhas coisas no armário da sala dos médicos, ele encarava um prontuário sobre a mesa, lhe lancei um olhar confuso, não fazia a mínima ideia do que ele estava se referindo- Soube essa manhã que a Bekker pediu transferência- eu não soube como reagir diante daquela informação, ela iria embora? 

Meu Final (Chicago Med)Onde histórias criam vida. Descubra agora