I - Fátima

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O amor acaba? E o encanto? O desejo? O pra sempre se dissipa? Quando é que nós deixamos de ser a luz dos olhos de outra pessoa? Eu me lembro como se fosse ontem do dia que vi André pela primeira vez... o novato da escola, todo tímido, sem nenhum amigo e um monte de mistérios! Ninguém poderia prever o quanto ele era incrível, nem que ele fosse se tornar esse cara no futuro e muito menos que nós fossemos ficar juntos. Colocamos a regra dos opostos que se atraem em prática e estamos prestes a comemorar nosso décimo segundo aniversário de casamento, se ele voltar pra casa hoje...

Era o último ano da escola! "Só mais dez meses nesse buraco" eu dizia, pra mim mesma, todos os dias ao acordar e me preparar pra enfrentar aquele lugar. Era sempre a mesma coisa, um bando de adolescentes que, cada vez mais cedo, só se preocupava em descobrir o sexo e as drogas, além de desperdiçar o tempo em festinhas com bebida barata e comida gordurosa! Eu não era uma santa, só eu sei o quanto eu me diverti por aqueles tempos, mas algumas pessoas amadurecem mais rápido que as outras e eu era "um cisne no meio dos patos", como minha mãe dizia! Eu não era feia, ainda não sou! Estou no ponto máximo da minha vida, vivendo realizada profissionalmente, com dinheiro suficiente na conta, patroa de mim mesmo, um filho perfeito e um marido safado... Safado no mal sentido! 

Quando eu conheci o André, o primeiro semestre do ano letivo já estava chegando no meio e o outono tinha acabado de começar! Eu estava completamente saturada daquilo tudo, cansada dos problemas da Agatha que arrumava uma gravidez nova toda segunda feira (não sei qual era o problema dela com os caras, os finais de semana e as camisinhas), enjoada dos dilemas do Erick, meu irmão gêmeo, que estava descobrindo que ser gay ainda era um grande problema nos anos 90, com raiva dos meus pais que só estavam esperando o ano acabar pra se livrar da gente e deles mesmos... Eu só queria acordar e perceber que era outra pessoa, que a vida estava nos trilhos certos e que tudo ia bem, só que querer não é poder!

Nossa escola tinha um grande ginásio esportivo que nunca foi concluído, uma obra inacabada que acabou se tornando meu lugar preferido no mundo todo! Funcionava como um grande refúgio, o pessoal da administração não se importava com quem estivesse por lá, era uma área proibida para os alunos, mas mesmo assim o lugar era muito movimentado... Tinha a galera que matava aula pra beber e fumar, um grupo de maconheiros que não parava de crescer a cada dia, cinco ou seis meninas que formavam a gangue do boquete sem compromisso, enfim... um bando de gente que achava que a escola era um lugar pra qualquer coisa que não fosse estudar, qualquer coisa que você não faria na frente dos seus pais! Era repugnante, mesmo assim era meu lugar preferido!

Eu não costumava matar aulas, mas saia da sala antes que o sinal do intervalo soasse pra poder me esgueirar pra o ginásio, descolar um cigarro e esquecer do mundo por um tempo... Ninguém olhava na minha direção, ninguém falava comigo, eu conseguia descolar um cigarro muito fácil e me esconder num canto qualquer pra aproveitar dez minutos de paz e fumaça!

Eventualmente eu pedia cigarros pro George, um dos valentões da escola... um cara otário só que muito gato e que pegava meu irmão com uma certa frequência, eu não usava isso contra ele, mas ele entendia que nós tínhamos um acordo onde meu silencio garantia que ele faria qualquer coisa pra mim assim que eu pedisse... nunca pedi nada mais que um cigarro por dia! Naquele dia o André estava parado perto da entrada da obra.

— Se eu fosse você, trocava um desses por um conselho novato! — Disse apontando para os cigarros na mão dele.

— Se o conselho for bom de verdade, eu troco veterana!

— Eles fingem que o ginásio não existe, mas se você ficar aqui na entrada vai acabar tomando no cú, e vai ser o primeiro!

— Grande conselho veterana! Pode pegar um pra você... 

Desse dia em diante nós achamos o nosso canto, não era uma amizade! Eu chegava por ali, ele me dava um cigarro e a gente ficava fumando e vendo a vida daquelas pessoas se desenrolando da forma mais deprimente possível ali na nossa frente, era divino! Depois de um tempo nós começamos a conversar de verdade... Ele tinha uma vida fodida, trabalhava depois da aula até tarde da noite com o irmão mais velho pra sustentar a casa e a mãe drogada... Não sabia onde o pai andava, não sabia nem o nome do cara e ainda tinha que se virar pra proteger uma irmã mais nova que a mãe deixou deficiente com uma tentativa de aborto!

Apesar de tudo ele quase não reclamava de nada, não que ele fosse um cara feliz... dava pra ver que não era! Mas ele tentava neutralizar as coisas pra não se machucar muito.

— Eu tenho uma vida inteira pela frente! — Era o que ele sempre dizia.

Um dia a gente se pegou, eu já tinha transado com vários caras antes dele, mas ele realmente mandou muito bem... depois disso não eram só os cigarros do André que vinham parar na minha boca! Nós terminamos a escola e no dia da formatura eu tive o meu primeiro orgasmo múltiplo, que ele conseguiu me dar só com a língua e quatro doses de vodca!

— Eu vou embora André!

— Todo mundo vai Fatinha, ou você acha que vai morar aqui no ginásio!?

— Não cara... é sério! Eu vou pra sampa fazer faculdade...

— CARALHO FATINHAAAA! QUE FODA!!! Parabéns cara!

— Valeu! Valeu por não ficar estranho e todo sentimental com essa merda!

— Relaxa cara, vai ser foda isso! Vou lá visitar você quando os paulistas te enjoarem...

Se eu queria que ele ficasse sentimental e me pedisse pra desistir dessa ideia e ficar com ele pra sempre!? Sim, com todas as minhas forças, mas o André não era assim... ele neutralizava!

Eu me mudei, me formei e comecei a minha carreira como psicóloga aqui em São Paulo... com o tempo comecei a deixar a minha marca por aí, eu era jovem, bonita e fazia o que tinha que fazer como ninguém! Minha rede de clientes era cada vez mais rica e eu comecei a acumular zeros na conta bancária muito rápido!

O André virou enfermeiro e veio pra cá fazer medicina um tempo depois! Não demorou pra gente se cruzar e demorou menos ainda pra juntar as coisas... Dois anos depois da formatura dele, com a carreira bem construída nós nos casamos de verdade, numa festa imensa! E logo depois o Fabrício chegou! Meu filho não alterou muito minha rotina, quase não causou impacto na minha carreira que só melhorou com o lançamento dos livros nos últimos anos... mas acabou com o meu casamento!

Hoje é nosso 12º aniversário de casamento, fazem mais de vinte anos que eu dei o primeiro beijo nesse filho da puta... Eu desmarquei um monte de coisas pra poder chegar mais cedo em casa e cozinhar alguma coisa, deixei o Fabrício com a Agatha, comprei até um lubrificante novo e fiquei esperando ele... já são três horas da madrugada!

Eu não sei se você chegou aqui pelo blog, pelas redes sociais ou por indicação do whattpad, mas eu gostaria muito que você compartilhasse o "Fêmea" com as outras pessoas, amigos e familiares, colegas de escola, faculdade ou trabalho... Qualquer pessoa! É muito importante pra mim que o mundo conheça essa história e na internet é tão fácil compartilhar as coisas, nem dói! HAHAHA

Se você gostou da história, me ajude a fazer o mundo gostar também e pode comentar aqui, eu vou adorar interagir com você! Pra quem não me conhece, eu sou o Renan, de Campo Grande (MS), quero ser escritor e estou estudando comunicação social! Eu tenho um blog e um canal no youtube também, sobre livros e todo o resto, pra saber mais é só acessar www.blogreverso.com.br! Valeu, até o próximo capitulo! 



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