AUTOMATONOFOBIA

Doces

  Senhor Henry era sempre muito gentil com as pessoas, mesmo com as crianças mais birrentas que frequentavam sua loja. Mas, por algum motivo, ele não gostava de mim. Desde pequeno era um amante de doces, e passeava por suas prateleiras em busca do melhor doce, aquele que valeria todo dinheiro gasto, que faria os pensamentos ruins desaparecerem com um toque adocicado em minha língua.

  No entanto, o homem costumava me abordar com uma expressão irritada e dizia "Escolhe o que você quer de uma vez". Eu não me lembro de ter feito mal a ele, ou o que poderia tê-lo aborrecido, mas nada disso se compara com o que viria a seguir.

  Em uma tarde nublada, onde caminhava pulando nas poças de água abraçado com meu amigo Jack, adentrei a loja de doces despreocupadamente. Vi os olhos do homem se revirarem, se dirigindo rapidamente até nós, enfurecido. Ele disse para mim "Tire essa coisa daqui de dentro! Não quero as coisas do seu pai aqui de novo!". Henry me empurrava de volta para a porta, e eu tentei contestar, dizendo que apenas queria mais doces.

  O homem parou, ele se agachou frente a mim e com uma face triste me respondeu "Você não tem culpa menino, mas tente entender minha situação... Não volte mais aqui"

  Aquilo realmente me entristeceu... Não havia mais doces para entorpecer minha mente e aquietar meu coração despedaçado. Jack também parecia triste, amigos são assim afinal, não podem ser felizes com os outros mal.

  Naquela mesma noite, eu sai escondido de casa. Atravessei a escura cidade até a loja do senhor Henry, ele não me queria mais lá, mas precisava ir até lá. Ainda assim, talvez o mundo não quisesse mais ele lá, não eu...

  Havia sangue e balas pelo chão, e seus olhos vidrados estavam virados para meu rosto e o de Jack.

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