Capítulo 02

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POV MIA

A audiência foi suspensa por um mês e meio para que a juíza pudesse tomar sua decisão. Por enquanto, minha filha ficou com a guarda do pai, já que o mesmo reforçou a ideia de que, financeiramente falando, ele era mais apto a ficar com a criança, então, me restou um dia de visita por semana. Dinheiro realmente é a coisa mais importante para criar um filho? Tempo, amor e cuidado para mim valem muito mais, pena que é uma raridade encontrar alguém que pense assim como eu.

Decidi buscá-la na mansão no sábado, bem cedinho, para que pudéssemos aproveitar o dia no parquinho. Chego lá e Thiago me entrega a menina com cara de cu. Pouco me importei, foquei na minha menina que estava com um semblante triste, até que descobriu que hoje era o dia com a mamãe.

Saímos dali e fomos correndo para o parquinho à duas quadras de distância. No caminho senti a necessidade de perguntar o porquê daquela carinha triste que minha pequena custava disfarçar.

— Florzinha, porque você está tão tristinha? Tá faltando alguma coisa na casa do papai, amor? – pergunto preocupada

— Quelo ficar com você mamãe, não quelo molar com o papai. ㅡ minha filha diz triste.

Minha pequena Estela começa então a chorar e me abraçar, e eu com o coração partido, me segurei para não desabar ali com ela.

— Vai ficar tudo bem, florzinha. ㅡ eu disse à ela na tentativa de convence-la e lá no fundo de me convencer também.

A verdade era que eu estava desesperada com medo de perder minha estrelinha. Sequei as lágrimas dos olhinhos da minha menina e ela insistiu em ir no meu colo abraçadinha para o parquinho. Nessa hora eu soube que eu precisava ganhar aquela audiência.

Chegamos no parquinho e Estela era tão doce que onde ia arrumava dezenas de amiguinhos. Depois da primeira hora brincando, ela vem até mim.

— Mamãe, quelo sovete! ㅡ Estela diz com uma vozinha animada.

— Filhinha, não tá muito cedo não pra mocinha tomar sorvete? ㅡ digo à ela num tom de brincadeira.

— Mamãe, pufavô, o papai nunca sai comigo então eu nunca tomo sovete. ㅡ falou agora com uma vozinha triste.

Meu coração se parte novamente com essa fala dela. Thiago sempre foi ausente mesmo.

— Tá bom florzinha, a mamãe vai comprar o sorvete pra você e já volta, tá bom?

— Ebaaa! – minha menina diz animada.

No pequeno caminho, tento me convencer que se tudo der errado ela vai ficar bem com o pai. Sei que não vai, sinto que ela fica o dia inteiro sozinha com os empregados da casa enquanto o pai sai para farra. Compro o sorvete e volto para o parquinho. Ao chegar lá ouço o chorinho da minha pequena e me desespero, pois Estela bateu a cabeça em um dos brinquedos.

Correndo, largo o sorvete em qualquer canto, e decido ir ao hospital. Estela perdeu um pouco de sangue, pois se arranhou um pouco e cortou a cabeça de leve, então me preocupo mais ainda. Chegando no hospital, a médica me pede algumas informações básicas sobre a minha menina. Ao pedir o tipo sanguíneo, percebo que esqueci sua carteirinha. A doutora me informou que era necessário saber o tipo sanguíneo dela.

Minhas opções eram, ir na casa do pai atrás da carteirinha, que provavelmente usaria esse caso isolado contra mim no tribunal, ou fazer um novo exame ali mesmo. Decido que o melhor a se fazer era a testagem do tipo sanguíneo ali mesmo. A doutora então me pergunta mais alguns dados, como a minha tipagem sanguínea e a do pai. Por um milagre eu lembrava o tipo sanguíneo de Thiago, devido à campanha anual de doação da empresa que ele sempre participava pra agradar o pai. Ele sempre se exibia pois sua tipagem sanguínea é considerada doadora universal, ou seja, compatível com todos os outros tipos.

Informo à doutora o meu tipo sanguíneo A+ e o do pai O-, ela me informou então que após alguns minutos sairia com o resultado.

— Mãe, acredito que houve algum erro da tipagem informada. A senhora me informou que o pai é O- e a senhora é A, no entanto, a menina Estela é AB+, sendo assim, de duas uma, ou o pai na realidade é de outro tipo sanguíneo ou o pai da menina é outra pessoa. A senhora tem certeza dos dados que me informou?

— Tenho sim doutora... Como isso é possível????

— A tipagem sanguínea A + O só originaria A ou O. A menina é AB, ou seja, o pai da menina é AB ou B23.

— Entendi... Obrigada pela informação.

— Agora que sabemos a tipagem da menina poderemos prosseguir com os procedimentos com segurança... vou pedir uma tomografia somente para confirmar que está tudo bem e não há hemorragia cerebral.

Depois de um tempo, Estela foi liberada e fomos almoçar no nosso restaurante favorito. No fim, foi só um susto mesmo e minha pequenina estava ótima. No caminho, fico pensativa, quem será o pai dela? Como eu te odeio Mia de 22 anos... Eu era tão irresponsável... Se ao menos eu lembrasse, poderia recuperar a guarda dela judicialmente, isso se o seu verdadeiro pai colaborasse. Essa era a minha esperança.

Passo o dia com a minha menininha e depois volto para a casa dos meus pais, hoje ela dormiria aqui comigo, pois era o meu dia com ela, no dia seguinte, bem cedo, teria que devolvê-la naquela mansão de araque.

Minha mãe, na época da gravidez, como uma boa católica, me incentivou a casar com Thiago. Hoje ela vê o erro que cometeu anos atrás. Enfim, moro aqui, já que meu salário tem servido para o pagamento de honorários do advogado e o restante estou guardando.

— Amorzinho, tá na hora de dormir, já são 21h e bebê tem que dormir cedo. – digo à minha pequena.

— Anão mamain quelo ficar acodada com você! – diz com uma voz manhosa que derrete qualquer um.

— Florzinha, colabora com a mamãe... – digo já cobrindo ela com seu cobertorzinho de estrelinhas.

Já indo para o meu quarto, a pequena me chama novamente.

— Mamain, dorme comigu eu sinto saudade de você. – diz novamente com aquela entonação de cortar o coração, jamais poderia negá-la este pedido.

— Claro, meu amor. – digo deitando ao lado dela que me abraça já sonolenta.

Mesmo sem sono, fico ali observando minha menina dormir e liberto as lágrimas insistentes. Como eu queria que tudo fosse mais fácil... Então me lembro da notícia do consultório. O problema é que eu era muito jovem e louca e não lembro ao certo onde conheci o suposto pai da minha filha. Decido investigar no dia seguinte, contando que minha melhor amiga e madrinha de Estela, Sabrina, pudesse lembrar-se de algo.

Depois de alguns minutos adormeço, um pouquinho mais esperançosa.

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