Memórias da Meia Noite

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BHRUM

O barulho de alguma coisa caindo forte no chão, no meio da noite,  fez o corpo de Mary se levantar como reflexo daquele susto. Sua cabeça estava girando e sua visão estava turva. Quando seu olhar se ajustou a uma linha, ela levou os olhos em direção ao relógio, que marcava exatamente três da manhã. Mary até considerou voltar a dormir, mas no momento em que seu cérebro acordou, surgiu uma enorme vontade de ir ao banheiro.

Tudo estava muito escuro, e as paredes pretas e cinzas  não ajudavam nem um pouco o seu campo de visão. Mary se arrastou da porta do quarto até o banheiro, se apoiando na parede e seguindo o corredor. Metade da sua mente estava acordada e metade estava dormindo. E ela continuou nesse estado mental enquanto fazia suas necessidades e lavava as suas mãos.

Tentando se encorajar, ela se olhou no espelho por cinco minutos até criar  forças para voltar ao quarto a fim de dormir. Dormir para acordar e ir para a escola. "Que doideira" ela pensou. A ideia de ir para uma escola nova com pessoas novas a assustava. Marilyn sempre estudou na mesma escola desde que era pequena, então, mesmo não sendo próxima de ninguém, conhecia todo mundo. Por um lado, em Londres, ela já tinha Gemma como companhia, mas isso não tirava o fato dela ser a novata no local. A novata bolsista.

Enquanto vagava pelos seus pensamentos, ela  tentava achar a porta do seu quarto em meio a escuridão. Porém, era impossível ver alguma coisa, ainda mais com os olhos quase fechados.

Depois de alguns segundos de angústia, ela finalmente achou a maçaneta da porta e a abriu em um sopro, se virando e a fechando suavemente para não acordar ninguém.

— Tudo bem?

Todos os mínimos pedaços do corpo de Mary acordaram ao ouvir a voz suave de Harry. Quando  se virou, ela o encontrou sentado sobre a cama, e para maior constrangimento, ele estava sem camisa. Seus olhos entregavam a sua confusão. Ela queria poder se enfiar em um grande e fundo buraco, que de preferência a levasse até o Japão. Mary manteve seus olhos distantes da figura de Harry quase nu, onde as únicas que se amostravam sobre seu torço eram as tatuagens. Chegava a doer de tentação. Ela vagou seus olhos pelas paredes do cômodo, e assim que suspirou, soltou um "porra" que só ela era capaz de ouvir. Ela havia entrado no quarto de Harry.

— M-Meus deus, me desculpa — disse com a voz arrastada, se matando mentalmente por ter gaguejado.

— Tudo bem. Você parece assustada, precisa de alguma coisa?

— Eu estava no banheiro e quando voltei, pensei que esse fosse meu quarto, meu deus, me desculpe — Mary se embolava, mantendo a cabeça abaixada para evitar contato visual. Ela sabia que estava parecendo patética. Ela era patética.

— Eu te acordei, não foi? Eu que peço desculpas.

— Não acordou não...

— Acordei sim — ele a interrompeu — não estava conseguindo dormir e quando fui pegar a porra de um livro para ler, derrubei uns cinco livros no chão. Suspeitei que tivesse acordado alguém. Sim, eu que peço desculpas.

Era a primeira vez que ela realmente escutava a voz de Harry. Que voz. Harry tinha aquele tipo de voz bem rouca, profunda e um pouco grosseira, como se seu sussurro fosse capaz de ocasionar as coisas mais obscenas em uma mulher. Mary era essa mulher.

Criando coragem para levantar a cabeça, ela observou atentamente o quarto de Harry. Era maior que o dela e mesmo sendo preto gelado, trazia um ar de conforto. A cama era cheia de travesseiros — travesseiro até demais — e tinha uma parede cheia de fotos com familiares e outras pessoas que aparentavam ser amigos. Também tinha uma tv enorme e uma estante recheada de livros, trazendo um ar culto, interessante. Também haviam prateleiras ao lado do armário, que exibiam grandes troféus e medalhas de ouro de algum esporte não identificado por ela. Ao encarar os livros no chão, ela se encaminhou a um específico e o pegou acariciando.

Me and Mrs Styles Onde histórias criam vida. Descubra agora