Tem calda?

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"Oh, querido, você não quer dançar comigo?
Deixando para trás meu nome e idade."

— I'm a slave 4 U, Britney Spears.

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OLIVER FERRI

Fico batendo a perna enquanto espero o momento certo para começar a tocar o solo de guitarra. O fone está cobrindo minha orelha esquerda e eu me divirto porque sou viciado em Guns N' Roses e, não importa quantas vezes eu toque Sweet Child O' Mine, nunca vou me enjoar. Quando a hora chega, meus dedos passeiam pelas cordas, sendo guiados pela memória motora.

É uma pena que eu não tenha investido mais nas aulas de música quando era mais novo, mas é tarde para mudar a minha vida. Isso não passa de um hobbie, minha válvula de escape quando eu não quero trabalhar.

Eu juro que amo meu trabalho, mas faria de tudo para não ter que lidar mais com nenhuma parte escrita. Ler ou escrever. Isso anda me deixando morto de estresse.

Balanço a cabeça enquanto toco, envolvido pelo som apaixonante. Não consigo ficar parado, por isso ando de um lado para o outro no meu escritório, ignorando a janela aberta e o fim de tarde que a toca. A vista é bonita, ainda que interrompida pela casa de minha vizinha e eterna rival, a senhora Tyler, que vive roubando as flores que minha mãe plantou no meu jardim há uns anos. Por um segundo, só por um segundo, penso em criar algum processo contra ela, no entanto, decido guardar essa arma no arsenal. Preciso de mais provas contra essa velha maldita e sei que devo a estar irritando o suficiente por causa da guitarra.

Fecho os olhos e deixo minha mente vagar.

Eu devia sair um pouco. Preciso beber e me divertir com os amigos, quem sabe até arranjar uma foda para sair da seca e das garras de tédio. Estou travado e com muito tesão acumulado desde que uma certa pessoa me provocou até meu limite e eu não pude fazer nada.

Ellen Clarke, o monstrinho de meu melhor amigo e as quatro posições que nós poderíamos ficar se eu pedisse com jeitinho. Ela fodeu com minha cabeça, mas não chegou a ser do jeito que eu gosto. Mordo a bochecha e aperto os olhos com força.

Eu sei que não devia pensar na filha do meu melhor amigo de tal forma, mas têm sido inevitável ela invadir meus pensamentos vez ou outra ao longo da semana que se passou desde nosso inesquecível último encontro e talvez o último de nossas vidas.

Penso no quanto ela estava linda naquele vestido, com suas curvas e sorriso perverso. Penso no quanto ela combina com o som que eu faço e acabo desistindo de tocar quando meus hormônios agem contra o meu senso. Bufando, coloco o fone nos ombros e desconecto a guitarra bruscamente, deixando os fios no chão.

Nada aconteceu entre nós e nem iria.

Não, eu não estava obcecado nem essas merdas, mas essa mulher plantou uma semente atrás da minha orelha que estava sendo difícil de me livrar, vez ou outra ela voltava e, nos meus sonhos, eu fazia o que queria com ela. Eu andava querendo ver ela naquele biquíni outra vez, eu andava querendo ver ela sem ele. Queria arrancar suas roupas e foder na cabine do banheiro.

Aquele garoto não sabia o que estava fazendo com ela. Eu poderia cuidar melhor dela.

A princípio, eu não entendi o que estava havendo nas cabines do banheiro do clube e nem me importei, porque sei o que é e não é da minha conta. Mas, enquanto eu fazia minhas necessidades, eu ouvi um gemido feminino, baixo e muito bom de se ouvir. Do tipo, muito bom mesmo.

Fiquei parado ali, desconcentrado, ouvindo a transa rápida e querendo deixar o local sem ser notado. Só que, claro, eles tinham que acabar antes de mim.

PAPI | degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora