A floresta, a garota e a vingança.

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- sentem-se meus filhos, vou continuar da onde parei. Disse Vovô Eliaz com uma garrafa de hidromel em uma das mãos, sentado numa poltrona em frente a lareira, com os seus netinhos prestando atenção e com brilho e admiração em seus olhos.

"Depois que fugi de casa, pulando a janela e correndo em direção a floresta escura, sombria e maligna. olhei para trás e a casa estava em chamas, foi a coisa mais bela e a mais aterrorizante que eu já vi...brilhava em roxo cintilante, a fumaça dançava rumo aos céus. corri mais ainda. eu estava condenado, não poderia voltar e não poderia abraçar os meus tios e nem comer um pão quentinho na padaria perto de casa. estava condenado a fuga eterna. Continuei correndo, adentrei a florestas escura, e entre tropeços e gritos, consegui escapar. mas não estava livre ainda. depois de estar a uma certa distância, olhei para trás, vi uma silhueta entre as arvores, iluminada apenas pelas tochas que a acompanhavam ao longe. ela estava correndo em minha direção, algo mais rápido que uma flecha. Corri mais ainda, estava em desespero...até que eu finalmente me rendi, parei de correr e aceitei a morte como um fraco. foi a chance para aquilo chegar bem perto de mim, segurar o meu braço, e me levar até uma caverna próxima, subindo uma colina e ficando acima das árvores. eu não tinha forças para lutar e quando ela me soltou, eu me joguei no chão, não aguentava mais ficar em pé. ela me arrastou para dentro da caverna. somente a lua iluminava o seu capuz negro, lá foi onde aquilo me mostrou o seu rosto, quem ela era. 

- Lorraine, muito prazer! vai me agradecer por te salvar ou vai ficar ai no chão com essa cara? - Disse a Garota num tom sínico. Tirando o capuz e sorrindo para o Eliaz - eu sei que vocês homens tem uma dificuldade em ser independentes. 

ah, aquela garota... uma garota com características únicas.  ágil, com cabelos cor de fogo e muito volumosos. olhos tão escuros quanto o próprio abismo, nariz longo e pontudo, tinha manchas negras por todo o seu corpo e rosto, ela parecia uma pintura renascentista. Naquela noite em lembro bem de suas vestes. Usava um vestido preto rasgado com um capuz, colocado lá depois do vestido estar pronto, era bem mal feito, e aparentemente era a única coisa que ela tinha, por baixo usava calças marrom onde guardava uma adaga com uma esmeralda no meio do cabo, parecia ser bem valioso. Ainda mais com aquele colar com uma chave enferrujada que tinha tons em vermelho e parecia ser bem antiga. Pensei que ela rica, possivelmente fazia parte das famílias ricas de Oxnorc."

- ei Vovô - interrompeu Thomas pressuroso e confuso. - agora que eu notei...você não contou como era nessa época, como o senhor era? Questionou Thomas.

- a meu filho, eu era como você. Somos sangue do mesmo sangue, eu tinha cabelos longos e negros, eu era alto. eu tinha, e ainda tenho, olhos verde claro.  a única diferença entre nós é o nariz. O meu nariz é redondo, o seu é mais afiado que agulha, Igual o da sua irmã. A minha roupa nesse dia era mesma de todos os outros, uma túnica verde esmeralda que era do meu pai, uma calça marrom velha e que por sinal tinha MUITOS bolsos, era o que tínhamos na época.- explicou Vovô Eliaz com paciência. - Agora, podemos voltar para história?

"Bom, e depois que ela me mostrou o seu rosto, e eu sendo um homem corajoso e forte, desmaiei na hora. Pois é. Enfim, acordei no dia seguinte, na alvorada. Estava frio e escuro, mas ela fez uma fogueira na porta da caverna. Ela é uma mulher forte, eu não sabia o que me esquentava, se era os seus cabelos flamejantes ou a fogueira ao lado da bela garota. Eu me aproximei com passos tímidos, não sabia quem ela era.

- Oi - Disse Eliaz enquanto se aproximava com cautela e curiosidade. - posso me sentar aqui? 

- Claro que pode, agora a gente tá junto nessa. - Disse Lorraine com um tom confiante, sentia uma nova esperança, um companheiro de batalha. - A gente tem que ficar juntos se não morremos.

- Desculpa, Juntos? - Perguntou Eliaz, que não entendeu o sentido das palavras, nem o que aquilo significava. - No que estamos "juntos"?

- A vingança, bobinho. - Respondeu Lorraine, com uma tranquilidade grotesca. Ela não sabia o peso que aquilo causaria. - Seus pais estão mortos, os meus também. Agora a gente tem que se juntar, né? pra foder com esse rei filho duma puta. 

- ... - Eliaz permaneceu em silêncio por alguns segundos, tudo veio a tona. Vozes em sua cabeça contando os fatos. Gritos e mais gritos, pedidos de ajuda, o gargalhar do Rei que ele nem conheceu. O demônio no olhar do soldado escarlate, foi ai que ele notou que nunca mais teria um lar, nunca mais...- que merda...QUE MERDA!

naquele momento eu perdi a cabeça. Corri para dentro da caverna, corri para o frio e para monotonia da vida, tudo cinza. Já perdeu alguém que vocês amam? pois é. A minha vontade foi de estar ali no lugar do meu pai, ou no da minha mãe...eu não merecia viver, sabe? eu não era especial.

Passou-se 2 horas e eu fiquei lá, olhando para o nada. Eu não sei para onde ela foi, mas ela voltou com um ar diferente, não sei o que deu nela, se era compaixão ou culpa. 

- Ei, Tá tudo bem? - Perguntou Lorraine enquanto entrava mais a fundo na caverna, a luz do sol perdendo força e a esperança morrendo aos poucos, ela tinha em mente que a pergunta que fez foi a mais estúpida para se fazer a alguém sem nada. - quer conversar? 

- Sobre o quê? a morte dos meus pais? Sobre o maldito que enfincou a lança no meio do peito minha mãe? Sobre o quê? Gênia. Você me salvou, mas eu não queria ser salvo. E agora? o que eu faço e para onde eu devo ir? não tenho mais nada, nem ninguém, - Respondeu Eliaz, falando tudo isso em questão de segundos, o ódio era a força predominante em seu ser. Tudo e todos a sua volta eram culpados, e o mais triste... A garota ouviu tudo e entendeu perfeitamente, embora não queria ter entendido. - É o fim...

- Ei garoto, a vida é assim...uma merda, eu não vou te julgar. Eu passei o mesmo - Respondeu Lorraine tentando consolar algo que não tinha cura, agachada para ficar no mesmo nível que o Eliaz. - Olhe para mim, consegue ver a minha alma? destroçada, amaldiçoada pelo universo. Pessoas como nós, a escória, os párias. sempre serão nada para os monarcas. Agora me responda, como devemos servir ao rei?

E ele respondeu com desgosto na fala e com raiva nos olhos "Sendo leais? é claro que temos que ser leais..."

- Ata ha - Lorraine soltou uma risadinha. - ser leais? nem fodendo meu fofo, nem fodendo. eu não vou ser leal a um rei estúpido e sem escrúpulos. Não devemos servir a ele, não vamos.

- e o quê você quer quer eu faça?. Perguntou Eliaz, se segurando para não surtar.

- me ajude a matar o maldito. me ajude a acabar com a desgraça de pessoas como nós, que passam fome diariamente - Lorraine começou a discursar, tinha tanta fé e determinação nas suas palavras que era quase impossível encontrar erros. - Se levante. Vamos nos vingar, você precisa disso, nós precisamos. pela glória, pelas enxadas e espadas que levantaram este reino. me ajude!


Depois de ouvir tudo aquilo, me veio na mente aquelas cenas de tortura e morte, eu sucumbi. Eu estava dominado pelo ódio, pela fúria. O meu pai não iria se orgulhar de mim...do que eu me tornei, eu me entreguei completamente a vingança. 

- Você tem razão, mas como vamos fazer isso? - perguntei cheio de duvidas, enquanto levantava do chão frio e áspero, indo em direção a saída. - não somos fortes, nem poderosos.

olhei para fora da caverna, via o mundo de outra forma. mesmo estando tudo brilhante e caloroso, para mim, estava frio e nublado. 

- Como não somos poderosos? você é mago! - Explicou Lorraine enquanto segurava a mão do Thomas, e a levantava até ficar próximo ao rosto dele. - Quem garante que você não é mago? a sua irmã, a sua mãe..."

- EI, MÁGIA? você disse que não era mago! - Confrontou Thomas com raiva, enquanto se levantava e apontava o dedo para o Eliaz, sentiu que foi enganado. - Mentiroso!

- A meu netinho, Apenas escute. Um dia você vai entender a verdade, apenas escute. - Explicou vovô Eliaz, dando o último gole na garrafa de Hidromel, estava pronto para ir dormir. - amanhã eu continuo. 

E assim, Eliaz se levantou da poltrona velha, colocou a garrafa de Hidromel quase vazia na mesinha ao lado da poltrona e se dirigiu as escadas. 

-Apaguem as velas, crianças. Seus pais já foram dormir! 

- Tá bom vovô - Responderam as Duas crianças em sincronia. - Boa noite!

- Ah, e mais uma coisinha. - Eliaz disse, olhando diretamente para os olhos do Thomas. - Se me desrespeitar novamente você ira conhecer um lado meu que não deveria ser mostrado a ninguém...nem para o seu pior inimigo, se coloque no seu lugar.

Deu uma risadinha, virou-se em direção as escadas e caminhou lentamente, aproveitando o momentos e a escuridão das escadas a noite.

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⏰ Última atualização: May 29, 2021 ⏰

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