Ato 7

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 Ato 7

Meu corpo estava pesado, não conseguia mover com facilidade as minhas pernas. Meus olhos lentamente se abrem e eu posso ver com dificuldade uma cadeira feita de madeira apodrecida. 

一 Gente? - Minha voz sai rouca e um pouco dolorida, parecia que a minha garganta estava rasgando a cada palavra que eu pronunciava.

Então eu me levanto com cautela, coço os olhos e saio da cama de madeira que rangia a cada movimento, assim como a madeira do chão, e a janela semi aberta que permitia uma brisa entrar. A porta destruída também aparentava ser velha. O lugar fedia a mofo e baratas, parecia que ninguém entrava aqui há muito tempo. 

一 Que merda eu estou fazendo aqui? 

Estava calçando botas de couro e vestindo um vestido que ia até os calcanhares, sua cor era marrom e ele estava empoeirado, assim como  o meu cabelo que parecia um grande emaranhado de teias de aranha. Decido sair da casa e procurar informação com outras pessoas. Eu nunca estive naquele lugar antes, era amedrontador e surpreendente o fato de eu estar ali. Alguns moradores passavam, todos caminhando em direção a um único local onde eu não tinha visão. 

一 Ei! Onde nós estamos? 

Tentei chamar a atenção de um senhor corcunda que passava de cabeça baixa, mas sem sucesso. Vejo outra pessoa, uma mulher que também andava de cabeça baixa.

一 Senhora? 

Tudo ali era muito silencioso, os únicos sons audíveis eram os leves passos das pessoas e suas respirações. Eu conseguia ouvir tão bem o ar chegando nos meus pulmões que me assustava de uma forma tremenda. Decido me aproximar da mulher e então toco em seu ombro, afastando rapidamente a minha mão por conta do susto.

一 Senhora!?

Sua pele era fria e muito áspera, parecia que iria cortar os meus dedos com um simples toque. Ela lentamente vira o seu rosto para mim e o meu corpo estremece com a cena. No lugar dos seus olhos residia um tipo de buraco profundo e obscuro, parecia que estavam sugando a luz do local para dentro deles. Eu dei alguns passos para trás e acabei me esbarrando em um homem alto que possuía a mesma característica marcante em seu rosto.

一 O que é isso? 

Afasto-me das pessoas e as vejo me ignorar, ficando paradas no lugar onde eu interagi com elas. O chão barrento dificultava a locomoção, meus pés afundavam conforme eu andava em direção a outra casa. Seu estado era deplorável, assim como todas as outras casas.

一 Ok! Respira! Calma! Calma, calma, calma, calma, calma!

Percebo que a minha tentativa de me acalmar só estava me deixando ainda mais histérica e então eu mordo o meu punho na intenção de despertar. Ganho apenas uma dor terrível e algumas gotas de sangue manchando o meu aparelho ortodôntico. 

一 Onde vocês estão indo?

Perguntei e mais uma vez não tive sucesso com uma resposta. Atrás de mim uma porta rapidamente se abre, de lá sai uma criança de pele cinza que andava de cabeça erguida. Seus olhos também não estavam lá, mas ele apresentava mais vida que os outros, decidi falar com ele.

一 Ei, menininho! Para onde todos estão indo?

一 A fogueira.

一 O que? Como assim? 

一 A fogueira.

一 Ok. Onde fica essa fogueira? Você vai pra lá, não vai?

一 Bruxa!

一 Hã? Não, amor… eu não sou nenhuma bruxa. Eu só queria saber onde fica a-

Sou interrompida com o garotinho voltando a andar como se eu não estivesse mais ali, ele havia falado de fogueira e bruxa, então eu estaria em Salém? Não. Não tem lógica. 

一 Como se alguma coisa fizesse lógica nesse lugar.

Decidi acompanhar todos ali até essa tal fogueira que a criança falava. 

O ar estava ficando cada vez mais frio. Sentia o gelo descendo pela minha laringe e rasgando os meus pulmões que lutavam para continuar funcionando. Minhas pernas e meus dentes batiam sem parar, ninguém estava usando roupa de frio, e isso era muito estranho. Em um certo ponto, várias pessoas estavam reunidas, havia um poste de madeira no meio e ao redor as chamas consumiam tudo o que alcançavam.

一 Onde está a bruxa? E você pode me dizer onde nós estamos?

Perguntei para o garotinho que havia conversado poucas palavras comigo, ele não me respondeu, mas aponta para a fogueira e então eu vejo uma figura feminina amarrada ao poste. Sua pele era negra, tinha cabelos cacheados e cheios, usava um colar uma pequena pedra da lua. O rosto e corpo eram extremamente familiares, mas o fogo dificultava a visão detalhada do rosto dela, mas aquilo estava me assombrando. Ela não demonstrava nenhum tipo de reação com o fogo subindo pelo seu corpo.

一 Nós? Não. Nós não estamos aqui, mas você está. 

Acabo me assustando com a voz do garoto que me dirigia aquelas palavras sem um aviso prévio.

一 Do que você está falando?

一 Você está em casa…

Ele se vira novamente para o corpo na fogueira, agora totalmente queimado, apenas o rosto estava intacto. Meu coração acelera e a minha língua treme em minha boca, meus olhos arregalados não conseguiam acreditar no que estavam vendo. Na fogueira, aquela pessoa, isso não podia fazer sentido. A bruxa era eu.

一 Nós iremos te buscar, Ártemis. 

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