3. Como sobreviver de pizza, flertes e humilhação

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Continuando com a minha lista de número indefinido de coisas que tornam Sasuke Uchiha um idiota e me fizeram odiá-lo, depois do nosso primeiro encontro, eu ainda estava me adaptando a todas as mudanças e naquela época tudo ainda era uma loucura.

Eu só saía de casa quando alguma pauta ou apuração exigia e, como o mundo todo estava isolado em quarentena, isso quase nunca acontecia.

Depois de tudo que rolou, eu não pretendia ver aquele entregador ridículo nunca mais. O único problema é que continuei a vê-lo o tempo inteiro.

Logo no dia seguinte, fiz um pedido na farmácia e quem entregou foi o Sasuke e pensei que era uma infeliz coincidência, mas tudo bem. Então Sasuke entregou também as minhas compras do mercado, depois as minhas encomendas da shopee e depois simplesmente não importava o que ou onde eu comprava, o entregador era SEMPRE o Sasuke. E quando perguntei como ele fazia isso, ele disse:

— Ué, como você acha? Que o porteiro do seu prédio estudou comigo e só se formou porque eu passei cola pra ele, aí agora, sempre que chega uma entrega pra você, ele me liga pra eu vir trazer pessoalmente? Que pergunta idiota.

Com certeza foi uma coisa muito específica de se dizer, mas é claro que ninguém faria uma coisa dessas.

Durante um mês nós quase não trocamos nenhuma palavra, às vezes eu nem abria a porta, ele só deixava o que quer que fosse em cima do meu tapetinho da entrada e ia embora.

Tudo mudou no trigésimo segundo dia.
Era uma noite como outra qualquer e pedi a minha pizza favorita do meu restaurante favorito. A campainha tocou e gritei pro Sasuke deixar na porta mesmo, mas a campainha continuou tocando insistentemente até eu abrir a porta.

— Até que enfim. Pensei que ia ter que arrombar a sua porta.

— Você não podia só deixar a pizza aqui? Qual é o seu problema?

— Tá vendo alguma caixa de pizza por acaso?

E só aí me dei conta que realmente não tinha pizza e Sasuke segurava uma garrafa térmica em uma mão e um saco de papel pardo na outra.

— Cadê a pizza?

— Eu não trouxe. Você só come essas porcarias que eu trago, quando foi a última vez que você comeu um legume?

— Pois fique sabendo que a minha última pizza foi de brócolis, então a última vez que comi legumes foi ontem!

— Claro que sabia, eu cuspi pessoalmente na sua pizza. — Ele disse como se falasse as horas.

— VOCÊ O QUE?

— Pega logo isso. Tem chá na garrafa e comida de verdade na sacola. Você não vê tudo que tem acontecido? Quer ficar doente? Você disse que não era irresponsável,  então que porra você tá fazendo, mulher?

Fiquei tão sem reação que só aceitei o que o Sasuke me entregou e ele já estava  indo embora quando me dei conta.

— Ei, se não tem pizza, então cadê o meu dinheiro?

— É o preço que você tem que pagar pela minha preocupação.

A partir daí, nunca sabia se o Sasuke ia trazer o que eu queria ou o que ele achava que eu precisava. No começo me irritei com isso, mas a comida que ele trazia era sempre muito gostosa e se tem uma regra que eu faço questão de seguir é: comida boa em primeiro lugar.

Por mais que, às vezes, o arroz fosse um pouco duro ou cozido demais e os legumes fossem cortados em tamanhos completamente diferentes uns dos outros, ainda assim era a melhor refeição que eu fazia. Tinha gosto de casa, sabe? Quando alguém se importa o suficiente com você pra transformar uma batata e uma cenoura na melhor comida do mundo?

Claro, foi um pouco irritante o fato do Sasuke ter uma crise de tosse quando pedi o contato do restaurante, só pra se negar a me dar logo em seguida. E tinha também a questão de todos os potes terem “propriedade de Sasuke Uchiha”, exceto um em que estava escrito “se você comer de novo, eu vou te matar Suigetsu”, o que era muito estranho.

Às vezes Sasuke trazia uma porção para ele e nós comíamos “juntos”, ou seja, ele sentava no chão do corredor com as costas apoiadas na parede oposta à minha porta e eu ficava no meu sofá, a porta aberta entre nós.

Esses dias eram os PIORES, porque ele ficava lá dando opiniões que eu não pedi, falando sobre assuntos que definitivamente não eram da conta dele.

Como quando marquei um date via Zoom com o meu ex-quase-namorado/atual chefe e perguntei ao Sasuke qual vestido ele achava mais bonito e ao invés dele escolher um, ele achou melhor dizer:

— Certeza que ele só quer ver o que tem embaixo do vestido e, pela quantidade de pizza que você come, é assustador o quanto você é gostosa.

Eu taquei minha escova de cabelo na cara dele e infelizmente errei.

— Que porra, Sakura? Eu to te elogiando aqui.

— Você é um idiota. Primeiro que não pedi uma opinião sobre meu corpo OU meus hábitos alimentares,  segundo que foi nojento. 

— Tem razão, foi errado dizer isso — ele disse levantando as mãos em sinal de rendição —, deixa eu corrigir. Independente do vestido que escolher, você vai ficar ótima.

— Oh então Sasuke Uchiha SABE se desculpar por ser grosseiro?

— Eu vou te ignorar. Mas falando sério, quando a quarentena acabar, você tem que ir na academia que eu trabalho.

E antes que pudesse dizer qualquer coisa ele continuou.

— E digo isso como professor de educação física que acha que todas as pessoas precisam se exercitar porque é saudável, não como um machista que acha que você tem algum defeito que precisa ser corrigido.

— Ok…? Mas como assim você é professor de educação física?

— Professor de educação física e entregador. Agora foca no assunto. Você devia ir a academia. Eu tenho a sensação que a gente podia fazer umas coisas legais lá.

Eu sabia que ia me arrepender de perguntar, mas perguntei mesmo assim.

— Que tipo de coisa?

Ele me olhou de cima a baixo de um jeito demorado, como se tivesse me vendo por baixo das roupas, e eu nunca odiei TANTO o fato dele estar de máscara. Naquela hora, acho que faria qualquer coisa pra ver o sorriso que eu sei que ele deu, porque depois de horas de chamadas de vídeo com alguém (sim, por algum motivo nós passamos um tempo maior do que eu gostaria de admitir em chamadas de vídeo) você conhece cada mínima expressão da outra pessoa. E eu sabia que aquele sorriso específico me fazia sentir coisas. Acho que era raiva, mas não tenho certeza.

— Ah, sei lá, Sakura. Mas acho que ver esse seu corpinho pequeno tremendo de esforço e coberto de suor, seu peito subindo e descendo cada vez mais rápido por causa do esforço e tal, pode me dar algumas ideias.

Definitivamente me fazia sentir coisas.

— Você ficaria impressionado de ver o que esse meu corpinho pequeno é capaz de fazer.

— Eu sou um cara muito difícil de impressionar, sabe. Teria que ser impressionante pra caralho.

— Você adoraria saber, não é mesmo?

Sasuke deu uma gargalhada que eu esperava que ele desse e se levantou pra ir embora. Tinha uma única velhinha dentro do elevador quando ele entrou e eu achei que era o momento perfeito pra dizer:

— Ei, Sasuke, você dá em cima de todas as clientes da pizzaria, ou você gostou de mim?

Ele levantou as sobrancelhas surpreso e riu antes de me responder em alto e bom som enquanto as portas do elevador se fechavam.

— Só das que compram maconha também.

— É MENTIRA DELE! — gritei para ninguém específico porque o elevador não estava mais lá.

Faltavam minutos para o meu encontro, eu ainda não tinha me vestido e só aí percebi que não terminei de pentear o meu cabelo porque o Sasuke nunca devolveu a escova.

Então eu odeio o Sasuke porque ele não é educado, me faz passar vergonha, tem tendências a sequestro de gato, dá opiniões que ninguém pediu e atrapalha os meus encontros, mas não é só isso.

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⏰ Última atualização: Mar 30 ⏰

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