1| amarelo e vermelho

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Faith Rosemore

A nicotina entra no meu organismo, quando eu revivo o pesadelo que tive minutos atrás, sentada na janela do meu quarto.

As batidas do meu coração já se acalmaram e eu respiro novamente num ritmo calmo e estável, mas os gritos, o vidro partido e por fim o sangue ainda assombram a minha mente quando trago o meu cigarro e liberto a fumaça para a noite silenciosa e escura á minha frente.

A lua brilha grande no céu escuro com pequenos pontos brilhantes criando um contraste bonito como um quadro vivo.

Ao olhar para as minhas mãos quase que posso jurar que vejo manchas vermelhas espalhadas por elas.

Quase que posso jurar que ainda tenho o sangue daquele monstro nas minhas mãos.

As vozes da minha mente fizeram me acreditar que eu ainda estava naquele lugar. Que o quarto que eu estava a dormir ainda era aquele rosa-claro horroroso. Que a minha porta ainda estava trancada enquanto dormia e que a pequena faca ainda estava ao meu lado na dentro de uma gaveta para caso de gritos chegassem até mim.

Mas eu não estou.

E foi só essa compreensão da realidade que me acalmou e trouxe outra vez o ar ao meus pulmões. Que me permitiu respirar fundo e levantar calmamente da cama e sentar-me na janela para fumar em uma camisola sem preocupação e sem estar atenta possíveis gritos do outro lado da porta.

Mas essa compreensão não me devolve o sono. Os fantasmas na minha mente podem já estar mortos, mas ainda estão lá presentes.

Ainda me assombram.

Então eu não consigo dormir o resto da noite, ficando a ver o dia começar para o resto das pessoas. Vendo, o mundo acordar da janela do meu quarto.

O sol nasce, em tons relaxantes e bonitos de laranja e os carros vão começando a ocupar as estradas.

Só me permito sair da janela quando o meu alarme toca e me arranjo para o dia fingindo que nada de anormal aconteceu.

E enquanto como com a minha mãe, eu continuo a fingir que nada aconteceu para não a preocupar.

Finjo que a minha garganta não está apertada de nojo pelas imagens pregadas na minha mente enquanto mastigo a comida. E que o meu estomago não se embrulha a cada alimento que empurro goela abaixo e que as minhas mãos não tremem levemente enquanto revivo o sangue naquele vestido amarelo que eu usava naquele maldito dia.

(•••)

Enquanto caminho pelos corredores da escola, ignoro todos aqueles que me olham com interesse, ou até medo e incompreensão.

Caminho, passo a passo até chegar à porta que leva à parte de trás da escola onde existem umas escadas de emergência pregadas na parede para o teto.

Subo cada degrau daquela escada metálica, com os fones enterrados nos meus ouvidos, ao som de No Grey dos The Neighbourhood.

A minha mão falha quando tento agarrar o próximo degrau e a imagem do rosto do monstro me vem à mente.

Vermelho, furioso, com as sobrancelhas franzidas e boca cerrada depois gritar coisas que toda a vizinhança conseguia ouvir devido ao seu tom de voz.

A música muda para Wires quando fecho os olhos com força e balanço um pouco a cabeça na intenção de afastar os meus demónios.

Depois do pesadelo que me acordou de madrugada as imagens continuam a surgir de repente e com força.

O meu subconsciente contra mim. Matando-me lentamente.

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⏰ Última atualização: Apr 06, 2022 ⏰

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