Comigo

Capítulo II - Coincidências

--- Sarah ---

São Paulo, 26 de janeiro de 2020, 00h23

Mais calma, deu uma ajeitada aos cabelos e retocou o batom vermelho antes de sair do banheiro. Quando saiu, os seus olhos cruzaram-se com o homem que a tinha convencido a não ir embora de imediato depois da discussão com o namorado. 

- E aí? Está melhor? - questionou ele, enquanto se levantava do sofá azul, com um sorriso simpático.

- Aham. Obrigada. - anuiu ela.

Nesse mesmo momento, o seu celular, que estava na pequena mesa branca junto ao sofá, tocou. Se aproximou e olhou para a tela. Quando viu que era "ele", silenciou na hora. Pegou nas chaves do carro, que também estavam na mesinha.

- Bem, então já 'tô liberada para ir embora? - perguntou ela, quando se virou novamente para o moço, suspirando fundo e forçando um riso seco no final.

- Ah, não sei, não. - retrocou ele, abanando a cabeça. - Acho que devia ficar mais um pouquinho e afogar as mágoas dançando na pista. - aconselhou, com um ar divertido, enquanto guardava umas roupas numa pequena mala ao seu lado.

- Pois... Se calhar esse seu plano até que era bom. - respondeu ela. - Às vezes, beber para esquecer e dançar até de manhã é o melhor que podemos fazer, né? Aquelas assim!!! Ai, mas hoje não dá, não! Hoje eu quero mesmo é ir embora agora. 

- Acho que já vou também. Amanhã tenho voo e o hotel ainda fica um pouco longe. - disse o homem. Ouvindo isto, Sarah ficou indecisa entre sair de uma vez ou esperar por ele mas não demorou nem 2 segundos até o homem já estar com a mala na mão e a abrir a porta. Deixou-a passar primeiro e fechou a sala. Afixado na porta, um cartaz balançou por instantes. "Camarim Israel & Rodolffo" leu a loira. Só aí é que se deu conta de quem era o simpático moço que estava ao seu lado. Era um dos cantores da dupla que tinha tocado hoje no bar. Só tinha conseguido ouvir com atenção a primeira música porque o namorado resolveu ter a DR, que ela tentou adiar o máximo que pôde, bem na hora do show.

- Israel... - arriscou Sarah, enquanto caminhavam lado a lado em direção à saída. - Mais uma vez obrigada pela simpatia.

- Ah, não tem de quê! Mas eu não sou o Israel, não. O compadre já deve estar dormindo a essas horas. -  respondeu ele, rindo pelo meio. - Eu sou o Rodolffo. E você?

- Me chamo Sarah. - devolveu a loira, já perto do seu Fiat branco. 

- Apesar de ter sido no meio desta confusão, foi um prazer te conhecer, Sarah. - disse ele, se aproximando mais dela. - Promete que vai dirigir devagarinho? 

- Sim, não se preocupe. 

- Bem, adeus então. - declarou ele, ao mesmo tempo que colocou o braço que tinha livre por cima dos ombros dela. O cheiro do perfume dele era intenso. - Fique bem. - desejou, depois de a soltar. 

- Adeus! - disse ela. 

Com passos certeiros, ele se afastou. Sarah abriu a porta de trás do carro, atirou para lá a bolsa, fechou-a rapidamente. Antes de entrar no carro, viu o seu olhar escapar novamente para o local para onde Rodolffo se tinha dirigido. Viu-o entrar no carro e, rapidamente, sair do parque de estacionamento. "Gente boa esse cara", pensou. 

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Já a caminho do hotel, depois de ter mudado de rádio mil e uma vezes, acabou por parar quando escutou "Fala aí, Velho Barreiroooo, Bebe que passa, usa uns negocin' ai que faz fumaçaaa...!". Um sorriso foi tomando conta do seu rosto sem que se apercebesse. Era em momentos como esse que pensava nas coincidências da vida. Nunca na vida se lembrava de ter escutado aquela música na rádio e, logo no dia em que tinha conhecido Rodolffo, é que ouve. "Ele pelo menos conseguiu que a minha noite terminasse menos mal", disse para consigo mesma, enquanto cantarolava a moda. 

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Saindo do elevador, abriu o fecho da mala com cuidado e tirou o cartão do quarto. Caminhou devagar, tentando fazer o mínimo barulho possível, até chegar ao número 104. Nem sequer teve tempo para passar o cartão no leitor quando ouviu baixinho:

- Ué? Mas você 'tá aqui também?

Afinal a música na rádio tinha sido só a primeira das coincidências...