Capítulo dez

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Abri os olhos numa manhã de terça. Odeio terças, mas nessa eu acordei inspirada. Levantei e peguei meu computador. Decidi escrever o que eu sinto. Não só em relação a ela e sua partida, mas em relação a tudo.
Comecei meio tímida mas depois me soltei...
"Oi, diário?
Minha vida desde pequena foi muito quarentenada. Eu não entendia muito, por isso também não dava muita importância. Hoje em dia eu sinto uma vontade ensurdecedora em viver. Viver sem isso aqui. "Isso" já me proibiu de tantas coisas... até de ficar com a menina que sou apaixonada. O nome dela é Malu, e nossos caminhos se encontraram quando eu estava afundada em tristeza. Ela e Felipe me salvaram. Literalmente. Desde então, eles são as luzes da minha vida. Ou era. Até que eu me apaixonei por Malu. Amava cada segundo ao seu lado, e eu não entendia nem me permitia entender o sentimento ainda. Até que, ela me manda uma carta dizendo que precisaria se afastar de mim, pois me amava muito (do mesmo jeito que eu a amava) e não queria viver um relacionamento com as minhas condições. Desde essa carta, ela é a única coisa que eu penso. Não sinto raiva, rancor, nem nada. Sinto tristeza. E raiva da minha cápsula e doença, talvez. Poderia viver com ela o que nunca vivi com ninguém. Mas não. Ok, superei. Sinto ódio muito grande de tudo (material). Ódio do meu traje. Ódio do cano sugador. Ódio da caixinha de remédio. Ódio da minha cama ruim. Ódio. Agora eu decidi que irei descontar meu ódio escrevendo. Me aguardem. Não posso dizer que não tenho esperanças, pois eu tenho. E é o que me motiva todo dia. Tenho esperança de me livrar disso e viver com ela. Fugir daqui e adotar cachorrinhos de rua. Com ela. Um dia"
Desabafei. Sinto-me leve agora. Tia Jane bateu na porta e me chamou para tomar café.

Um diaWhere stories live. Discover now