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A Arte não deve ser, para nós, um pesar

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A Arte não deve ser, para nós, um pesar. 
Ela é a brecha que temos para suspirar. 
Não se trata apenas de respirar: é mais,
Como um arrimo em meio aos temporais.

Infância.
Pré-adolescência.
Início da adolescência.

Acostumada a ser uma leitora altamente voraz e uma aluna bastante esforçada, durante cada um desses períodos de minha vida, a escrita sempre foi algo que fluía através do meu ser sem impedimentos. As ideias brotavam em minha mente inquieta, eram bombeadas para fora do meu corpo com o pulsar do meu coração e ganhavam forma com o auxílio das minhas mãos viciadas.

Não importava "como", "onde" ou "o quê", eu simplesmente escrevia. Os textos e poesias eram entalhados com invejável naturalidade e, por mais pedante que possa soar, sempre arrancavam grandes elogios quando eram lidos. 

Mas, (in)felizmente, a vida foi seguindo seu próprio fluxo caótico e desalinhou muito daquilo que sempre carreguei em meu coração como certeza. A adolescência foi se estendendo, a vida adulta me consumindo, a magia e o brilho do viver se exaurindo.

Talvez eu tenha sido muito inocente ao acreditar tanto no meu próprio poder de colocar em palavras cada uma das minhas verdades. Talvez os elogios que sempre recebi tenham deturpado minha percepção sobre a realidade. Talvez eu nunca tenha sido realmente tão boa assim...

Ou talvez eu simplesmente tenha deixado o medo devorar esse prazer que sempre acompanhou toda a minha existência.

Escrever costumava me trazer imensurável alegria, era meu porto seguro, um motivo de orgulho profundo. De repente, porém, tornou-se algo mais próximo de um sacrifício cruel. A necessidade de expressar sem falhas tornou-se uma doença que — gradativamente — podou minha criatividade, encaixotou qualquer ímpeto artístico que poderia correr por minhas veias e deixou-me paralisada diante de meus próprios sentimentos.

Meu amado hábito de escrever tornou-se uma dor, um problema, um drama. O desejo de nunca errar, de sempre atingir as mais elevadas expectativas e de buscar a perfeição a cada nova palavra corroeu minha alma. De tanto buscar aplausos, desmoronei quando as vaias vieram até meus ouvidos. 

Mas não quero que seja assim para sempre. Percebo, agora, que meu âmago agitado não merece ser silenciado. Não mais.

Não quero temer o vazio de uma página em branco. Não quero ser esmagada pelo peso de uma falha irrelevante. Não quero depender de aprovações alheias para que me sinta orgulhosa.

Quero recobrar o amor pela escrita sem desejar ou perseguir validações. Quero relembrar-me de que não existe palavra perfeita, mas que cada palavra pode ser perfeita quando manipulada de maneira ideal. Quero de volta as milhares de emoções que sempre habitaram meu coração e que transbordavam a cada nova sentença.

"[...] Eu não quero conforto. Quero Deus, quero a poesia, quero o perigo autêntico, quero a liberdade, quero a bondade. Quero o pecado. [...] Eu reclamo o direito de ser infeliz. [...]"

Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley.


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