• Prólogo •

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Prólogo

O azul e o negro daquelas orbes. Tão significativos e calorosos quando estavam próximos, porém vazios e gélidos quando separados. Narcissa e Snape tinham esse ponto em comum. Perante ao mundo aparentavam ser desprovidos de tudo aquilo que foge da racionalidade, mas o que os ligava não era nada lógico. Certamente ia além do físico, porque os prazeres carnais — por intensos que possam ser — não combinam com a longevidade.

E eles tinham um relacionamento de longa data.

Somente isso os permitia olhar para o que vinha acontecendo e não dizer que era uma completa desgraça — ainda que estivesse bem perto de ser uma.

As mudanças começaram quando o Lorde das Trevas decidiu que Snape seria o novo diretor de Hogwarts. A vontade de dizer que não o faria era grande, mas não era como se Voldemort estivesse em uma conversa casual querendo saber se Severus estava a fim de dar uma volta por aí. Ainda que estivesse — tratando-se do bruxo das trevas —, ele nunca sugeriria algo que devesse ser rejeitado. Não porque iria se tratar de uma boa oferta, mas sim porque o Lorde não era piedoso com quem recusasse suas sugestões. Ou melhor, suas ordens.

Mais uma vez era o tipo de tarefa que o comensal deveria sentir-se bem em estar realizando, porém não era assim tão simples. Causava-lhe um tipo específico de exaustão estar naquela cadeira assumindo o posto de Dumbledore como diretor. Ao menos não era tão terrível quanto aquela de tê-lo matado. Independente do Mestre de Poções estar experimentando desse mesmo cansaço ou não, ele não poderia simplesmente abandonar seu atual compromisso para punir-se na mal iluminada biblioteca de sua casa.

O sábio ancião — limitado pela moldura — tentava seu melhor por um Snape desconfortável por estar em um escritório que jamais poderia chamar de seu.

O gabinete era do homem do quadro.

Era de Dumbledore.

Nunca poderia ou seria de Severus.

O novo diretor não fez questão de dar sua personalidade à pequena sala. Ao invés disso, preferiu manter todos os toques de excentricidade que compunham a personalidade de Albus Dumbledore. Snape tinha grande apreço ao quadro. A pintura — ainda que esta representasse um verdadeiro manipulador que não o poupou, tudo sempre a favor do bem maior — representava o único amigo que Severus tinha e, depois de tê-lo matado, o único que olhava para o moreno com um olhar bondoso. Todos os outros, com exceção de Narcissa Malfoy, olhavam-no como se Snape fosse tão asqueroso quanto uma infecção ou os vermes que vivem no lixo. Até mesmo com escárnio o homem era visto, sentimento que aparentemente muitos resguardavam em relação ao taciturno professor ao longo de sua vida cinzenta.

Snape sentia que sua missão para com Lily Potter estava próxima do fim. A sensação recorrente e tão gélida quanto seus olhos negros de que a morte estava se aproximando por trás, tocando seus ombros com mãos compridas de unhas afiadas, planejando qual seria a melhor forma de fazer seu coração parar, mantinha-no em um estado em suma vazio. Não sabia direito o que pensar da morte, muito menos da sua própria. A próxima aventura, como dizia Alvo, não importava. E honestamente, Severus Snape não queria aventura alguma. Queria aquilo que nunca teve, paz.

Passou tantos anos enxergando-a como a única maneira de encontrar a paz que não era possível temer a morte. Já chegou a desejá-la, mas não queria deixar Narcissa para trás. Lamentava a possibilidade, quase certeza, de fazê-lo, mas a sensação era intensa o suficiente para impedir Snape de ignorá-la. Nessas horas o sonserino se sentia triste, Cissa era muito boa tocando piano e ele queria poder admirá-la mais vezes. O homem das vestes negras só a escutou uma vez e não era justo. No entanto ele sabia...

A vida não era justa.

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