Um Passado Morto
Sentia Lucius próximo de si, mas não passava de uma questão física e geográfica. A ideia de ainda dividirem a mesma cama era ridícula e anormal. Tanto o loiro quanto Narcissa não se viam mais como um casal e muito menos agiam como um. "Casal Malfoy" era apenas um termo usado pelos de fora para falar da família que um dia já teve mais popularidade. Há tempos contradiziam os documentos civis, pois além de não serem como casal, realmente não eram um — não mais.
Estarem sob os mesmos cobertores na cama espaçosa era o único momento no dia que apresentava leve semelhança ao passado. Era em si um passado morto, onde até essa hora tão simplória tinha valor, mesmo que não acontecesse nada. Agora, porém, Lucius estava ao seu lado, de costas para si, mas a companhia da mulher era a sua mente agitada, que não a permitia dormir revisando as mesmas memórias e julgamentos.
Era realmente uma pena seu Severus estar tão ocupado ultimamente, pensava Narcissa. Se fosse possível, passaria todos os dias como aquele em que ficou na pequena sala de Snape, sem se preocupar com outro fator que não fosse unicamente ficar ali com ele, sentindo-o próximo, ouvindo a voz aveludada tão característica e aquecendo-se com o calor do corpo dele enquanto enterrava suas mãos nos fios negros.
Não tinham deixado de se ver, mas estava sendo diferente neste ano. Apesar das ocupações de Snape, Narcissa também estava lidando com seus problemas — diga-se de passagem que eram muitos —, então se esgotavam as oportunidades para poderem passar mais do que poucas horas juntos.
A Sra. Malfoy passava a maior parte do tempo no breu e na solidão adornada pelos luxos que lhe eram permitidos ter. Combinava com a mulher aquele estilo de vida, não que ela tivesse vivenciado algum outro, mas seus gostos eram refletidos até no seu jeito de andar. No entanto, a riqueza não era tudo na vida de Narcissa Malfoy — algo que não foi descoberto da melhor forma possível. — Mas manteria a compostura, como a dama de gelo e pedra que era, e seguiria em frente.
A única diferença do ano anterior para este em sua vida pessoal era que com seu filho o laço havia sido reconstruído. Não, nunca seria como era antes de Draco se submeter aos comensais, mas a diferença não era sinônimo de uma fase pior. O garoto estava se tornando alguém melhor e Narcissa gostava do que via. Gostava principalmente de quando ele aparecia e ainda que não falasse nada simplesmente a abraçasse. A frequência baixa destes gestos espontâneos de carinho os tornava um tanto quanto inabituais. Isso, somado ao fato de que o garoto só estava em casa por poucas semanas graças às férias de natal, deixava-os mais raros ainda. Contudo, talvez fosse isso que tornasse esses gestos tão significativos para a mulher.
Como uma boa mãe, a bruxa se preocupava com o próprio filho. Apesar de sentir orgulho da pessoa que Draco estava se esforçando para ser, tinha plena consciência do que foi cobrado do garoto para gerar tal mudança. E do mesmo modo, muito custou a Narcissa para que ela visse que tudo que lhe foi indicado como certo e superior tinha o exato efeito reverso no seu âmago. Foram estes efeitos que a abriram os olhos para com o que compactuava. Ainda não era fã dos nascidos trouxas, todavia seria muito preferível deixá-los de lado ao invés de passar por este caos todo.
A matriarca vivia em um tempo de duas guerras paralelas. A primeira sendo aquela pela qual todo o mundo bruxo também enfrentava; a outra sendo dentro do que um dia foi seu lar. A mulher recusava-se a pensar em um recomeço ou qualquer outro assunto que envolvesse tal tópico. O motivo para esse tipo de raciocínio era simples, por mais que o cenário atual definitivamente não fizesse parte do ápice de sua vida, era a realidade. Obviamente tinha expectativas — como qualquer outro ser humano tem quando passa por dificuldades — em relação a Draco, a si própria, e claro… a Severus.
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Retravar
FanfictionAssim como todos os outros, Narcissa Malfoy e Severus Snape passaram por um ano turbulento. Amavam um ao outro, mas não se viam juntos depois da guerra por muitos outros motivos. Snape sequer imaginava que viveria para cogitar alguma coisa. Narcissa...