A Luz na Escuridão
Aquelas eram memórias que Narcissa não sabia ter. Tratavam-se de flashes conflituosos envolvendo os pais, que estavam mais jovens em algumas vezes do que em outras. As grosserias que eles trocavam pareciam tão distantes, como se fossem parte de outra realidade. Porém, a cada flash de uma das brigas que viu ou ouviu durante a infância ela tinha mais certeza de que aquilo era real. Parecia que aquela parte de sua vida esteve sempre perto, sendo efetivamente ignorada enquanto não havia a presença das ruínas para perturbá-la.
Não eram discussões exageradas, e também não era nada violento. Mas era o suficiente para que uma criança que as visse prometesse a si mesma que quando crescesse não ia passar por nada disso. Era o suficiente também para que esta criança não se lembrasse de seu voto íntimo e das brigas dos pais na vida adulta, pois seu cérebro decidira que assim seria mais saudável. O lado triste dessa história — que já não é feliz — é que depois a mulher seria capaz de acessar as lembranças, sentindo que fracassou com a promessa feita pela criança por estar vivendo uma situação pior do que esta tinha visto.
Desde aquele beijo com Lucius tinham se passado duas ou três semanas — a mulher não queria saber com exatidão —. O aniversário de Snape tinha passado há um bom tempo, disso ela tinha certeza… Não cumpriram com o combinado…
Não saber nem como ele estava doía… apesar da inconstância do relacionamento dos dois, nunca estiveram tão distantes.
Mas o que lhe aconteceria se ela se arriscasse a falar com Snape? Bem, ela não se atreveria a descobrir. Lucius era capaz de tudo aquilo que achasse conveniente para puni-la.
Narcissa estava presa — presa em si mesma —, fraca demais para fazer qualquer coisa a não ser se isolar, sentindo-se ainda pior a cada vez que replicava aquele beijo asqueroso contra sua vontade; em que ele fazia questão de deixar claro como ela era um nada vivendo às suas custas; uma vadia sem direito algum morando na casa dele.
Havia espaço apenas para sombras na mente de Narcissa...
꧁ঔৣ☬✞ † ✞☬ঔৣ꧂
O corte que Voldemort lhe inferiu no abdômen tinha se cicatrizado e as pontadas de dor já não apareciam para incomodá-lo em hora alguma. O cansaço de uma vida toda o afligia e ele sempre tinha muito o que fazer. Hogwarts sob sua direção era um lugar mais sombrio — tanto para os outros quanto para ele próprio — e, apesar de seus olhos de ônix não emitirem emoção para a maioria dos observadores, no fundo Snape se entristecia com aquele cenário. Assistia às catástrofes acontecerem no seu entorno e tentar impedi-las de ocorrerem era como tentar segurar areia com as suas mãos… nunca daria certo.
A frequência das reuniões com os comensais aumentou. A cada uma delas, Voldemort soava mais obsessivo em relação a Harry Potter. A guerra estava cada vez mais próxima, e muito provavelmente além da guerra estava próximo também o seu fim. Tentava ajudar Potter de um modo em que ele mesmo fosse invisível ou inexistente. Snape pensava que devia fazer parte do DNA de Potter ser tão irritante. Aquele episódio com a espada de Gryffindor o fez pensar em como o garoto era tolo. Quis interferir na situação sem poder, e o mais surpreendente era que Weasley — logo o mais patético dos Weasley — foi o responsável por fazer o que Snape não podia.
Mas os dias em que o maior problema de Snape estava relacionado ao Santo Potter e aos cabeças-ocas que era obrigado a ensinar alguma coisa sobre Poções ficaram para trás. Sua vida tomou outro rumo e direção, nem professor ele era mais.
Severus — que não era o diretor de Hogwarts, nem o assassino de Dumbledore, muito menos o braço direito do Lorde das Trevas —, seu verdadeiro eu, via sua vida como algo que não era dele. A faceta menos usada e praticamente esquecida de Snape. No entanto, era essa faceta que via o que as outras tão centradas em seus papéis essenciais para o mundo bruxo não podiam ver: a sua Cissa.
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Retravar
FanfictionAssim como todos os outros, Narcissa Malfoy e Severus Snape passaram por um ano turbulento. Amavam um ao outro, mas não se viam juntos depois da guerra por muitos outros motivos. Snape sequer imaginava que viveria para cogitar alguma coisa. Narcissa...