Um

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Eu não tinha um plano B. Não tinha nem um plano A para ser sincera, não esperava perder o emprego agora que se estabilizou no seu apartamento minúsculo com cheiro de naftalina. Era pequeno e mal cabia quatro pessoas em um cômodo mas era dela. Ela tinha conquistado finalmente a independência e saído do olho do furacão que era sua casa. Não queria ter que voltar. Não queria ter que pensar na possibilidade disso acontecer um dia, sua mão até tremia com a mínima chance.
Sabia que era burra em não ter guardado uma poupança para caso de uma emergência, e o que ela viu agora está no meio de uma. Mas estava tão empolgada em ter o próprio dinheiro e encher a casa com os maiores calhambeques que se interessava que...
Choraminguei.
Eu era ridícula.
Por isso estava alí, no pub de um conhecido com Nestha a tiracolo e a expressão mais chorosa que poderia colocar no rosto alvo.
_ isso não é lugar pra você Gwyn.
Rhysand praguejava e equilibrava lindamente uma bandeja com tantos copos que achou impossível a proeza acontecer.
Ela sabia que seu suéter verde surrado não se encaixava no meio daqueles corpos suados, mas ela não tinha medo de trabalhar e não se intimidaria por não estar no seu ambiente confortável. Ela precisava pagar suas contas afinal.
E eu não era um rato de biblioteca.
Não totalmente.
_ Claro que é! - forçou uma risada contente, nem ela mesma acreditava. _ um pub é super minha vibe, você sabe, adoro pessoas.
Nestha gargalhou com a expressão do cunhado.
_ olha Rhys, Gwyn é super responsável - a loira tomou minhas dores _ e consegue ser carismática quando quer.
Quis morrer.
_ E além disso, você está precisando de ajuda - completou. Era óbvio que o moreno precisava de socorro urgentemente, desde que foi inaugurado um
Ano atrás o bar nunca esteve tão cheio, e Feyre parecia não dar conta dos drinks que fazia e muito menos de servir às mesas. Estava um caos.
Ele suspirou, parecia tentar desistir de argumentar, porque nenhum argumento existente poderia esconder o óbvio, até ele mesmo precisava admitir.
_certo - ele rangeu os dentes e eu sorri_ mas temos um ponto aqui, não posso pagar um salário bom agora, as coisas estão difíceis.
Balancei a cabeça rapidamente. Eu sinceramente não me importava, desde que fosse suficiente pra pagar minhas dívidas e não morrer de fome.
De qualquer forma cavalo dado não se olha os dentes
_ E você começa agora - ele disse antes que eu pudesse questionar e colocou a bandeja com os copos empilhados nas minhas mãos.
Observamos o moreno bonito correr para ajudar sua namorada no balcão de bebidas. Nestha assobiou.
_ achei que ia precisar ameaçar ele, mas foi mais fácil do que eu esperava.
Ela riu e eu olhei pra torre em minhas mãos.
O que eu deveria fazer com aquilo?
•••
Não precisei mais que duas horas para conseguir equilíbrio sem derrubar tudo das mãos, o que era uma vitória para mim, não que eu fosse a imagem do desastre no mundo, mas eu claramente não tinha a graça de uma bailarina.
Nestha estava em algum canto com uma bebida em uma das mãos, sabia porque sentia seu olhar queimando minhas costas e ouvia sua risada sempre que quebrava alguma coisa. O que acontecia com frequência.
Rhys fingiu não ver mais os copos destruídos depois do sexto. E por mim tudo bem, desde que não descontasse do salário que eu nem recebi, Feyre me olhava divertida sempre que o companheiro me dirigia um rosnado de irritação.
_ não foi tão mal - ela sorria lindamente com todos os dentes _ ele está irritado porque você foi melhor que ele no primeiro dia, aquilo alí é só ego ferido. - ela riu. Feyre tinha uma graciosidade ferina, alta e magra como uma modelo da Victoria's Secret, quase como uma gêmea perdida da Barbara Palvin e seus olhos azuis acinzentados. Era linda de tirar o fôlego. Provavelmente um pré requisito das irmãs Archeron, já que cada uma das três provavelmente pararia o trânsito em uma avenida movimentada.
Empurrei algumas taças para a pia amontoada e me obriguei a lavar antes que a loira se prestasse ao papel, ela deveria estar exausta de toda a correria. Me compadeci da dupla dinâmica de namorados, seguir com aquilo todos os dias deveria ser absurdamente exaustivo.
Eu mal estava ali a três horas e estava prestes a ter um colapso.
_ você pode descansar agora- ela tirou a flanela de minhas mãos e me empurrou uma garrafinha d'água _ Nós vamos ter música ao vivo e as coisas sempre se acalmam um pouco, sente-se antes que desmaie.
Ela me deu um último sorriso antes de sair do meu lado e ir pra balbúrdia lá fora. Deixei a garrafa em uma mesinha e voltei pro amontoado de vidro cheio de sabão.
Eu iria, mas antes ia dar um jeito naquilo.
•••
Quando saiu da sala apertada onde estava a pia e as louças quase levou um choque térmico com a mudança de temperatura, alí estava absurdamente quente onde os corpos pulavam ao som da música eletrônica dois minutos atrás, estavam aos poucos se acomodando em seus lugares para dar atenção a apresentação. Um pequeno palco elevado estava no meio do salão, as mesas estavam em volta do que deveria ser o cantor de cabeça baixa preparando seu instrumento. Tinha se tornado em um lugar aconchegante em segundos.
O som de fundo tocava lamentavelmente até o rugido estridente do microfone sendo ligado ocupar todo o lugar, os burburinhos cessaram até que estivesse só aquela voz preenchendo o mundo.
Sem apresentação e sem nada o primeiro acorde do violão soou enquanto eu atravessava para onde meus amigos estavam, Feyre ainda estava do outro lado do balcão de bebidas, esperando o primeiro cliente com sede de álcool e Rhys tinha um sorriso lindo e satisfeito ao seu lado. Eram realmente o casal mais lindo que tinha visto nos seus vinte e um anos de idade. Nestha se permitiu dar um ar da graça e sentar em frente a irmã com sua bebida azul céu com uma careta azeda no rosto bonito, ao seu lado estava um homem alto de cabelo preso em um coque. Ele era grande, do tipo que chamava atenção, imponente e bonito de uma forma surreal, as tatuagens cobrindo seus braço era só o complemento daquela beleza violenta. Eu estava abobalhada e Nestha parecia irritada e eu entendi quando vi um sorriso brincalhão brilhando no moreno ao seu lado.
Ela tinha gostado do maldito e estava irritada por isso.
Eu ri.
Mas perdi o fôlego quando ouvi e virei o rosto naquela direção.
"Alabama, Arkansas, I do love my ma and pa
Not the way that I do love you
Well, holy moly, me oh my, you're the apple of my eye
Girl, I've never loved one like you"
A voz também, tinha sido a coisa mais bonita que eu já tinha ouvido.

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