Aniversário do "casamento"

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  — E você ainda me ama?!

  — V-você não pode dizer isso!

  — Tsk! Que seja, você já fez questão de estragar o bendito aniversario... E o casamento - a última frase soou como um sussurro, um desabafo, a cabeça do homem ja estava bagunçada, e principalmente estressada.

  - Espera, a-aonde você vai??!

  - Para o mesmo lugar de sempre - o homem se sentou no degrau da entrada para calçar as sua botas de inverno.

  - Olha... Desculpa amor é que-

  - Eu não preciso escutar novamente essas desculpas! - a voz um pouco alterada interrompeu a mulher, antes que a mesma voltasse a repetir as mesmas frases de antes,  " o tráfego estava horrível " ou " Estava procurando um presente ", nenhuma delas justificava o cheiro terrível de álcool e perfume masculino impregnado na mesma.

  - Você vai me deixar sozinha?!

  - Você não faz questão de estar aqui - o homem levantou-se puxando o seu sobretudo preto e suas chaves do aro de roupa - Nunca fez...

  - Espera! Levi! - o homem apenas abriu a porta ignorando a mulher - LEVI-

  Este era o quarto lamentável aniversário de casamento de Petra e Levi, um casal com um relacionamento questionável. Prometidos desde novos a esse tal casamento, os dois por algum longo tempo se forçaram a tentar criar sentimentos um pelo outro, que com o tempo pareceu ser impossível, e aos poucos foram desistindo, principalmente Petra, que se dava ao trabalho pelo menos de fingir.

  Para Levi, tudo aquilo não passava de um incomodo, como quase tudo em sua vida. Por mais que não sentisse nada por Petra, ainda eram casados, viviam na mesma casa, e de vez enquando dormiam na mesma cama, então, como homem, sentia obrigação de cuidar e respeitar Petra, por isso, mesmo sabendo que a mesma iria estragar suas supresas de alguma forma, todo ano ele preparava algo para sua "esposa".

  Andando em passos lentos, naquela rua silenciosa, que havia escolhido especialmente para a sua futura vida de casado, Levi observava a neve caindo, lembrando o quanto estranhamente gostava do inverno e principalmente a neve, era algo que sempre lhe acalmava quando Petra fazia suas " surpresas", depois da neve apenas seus amigos lhe faziam essa espécie calmante para a alma.

  — Eu amo a neve-

  A frase foi interrompida com o impacto pesado que Levi sentiu no ombro, que o fez cambalhear para trás.

  — M-me d-desculpe eu v-vou... - Levi ouviu a voz feminina, tremida de nervosismo.

  — Não, tudo bem... - como um cavalheiro Levi iria se desculpar, mas parou imediatamente quando observou melhor o rosto da mulher - está tudo bem?!

  O rosto pálido da mulher tinha uma grande marca avermelhada, com a silhueta de uma mão, por sinal masculina, além do seu olho roxo e inchado, observando o resto do corpo, os pulsos estavam feridos e marcas vermelhas em seu pescoço. Era perturbador, Levi podia sentir seu sangue ferver de ódio e desprezo, por qualquer que fosse o ser nojento que teria feito tudo aquilo.

  — E-esta t-udo bem... - a mulher estava ansiosa, com o olhar amedrontado, tentando esconder os pulsos com vergonha.

  — Eu posso ajudar, pode confiar em mim? - como uma reação imediata, Levi retirou o seu sobretudo, cobrindo os ombros da mulher, e logo abotoando todos os botões possível.

  — E- eu-

  — Está tudo bem! - Levi a puxou pelos ombros, colocando-a ao seu lado - Eu vou ficar ao seu lado o quanto for preciso, fique tranquila.

  — M-muito obrigada... - a mulher sussurrou encolhendo se nos braços de Levi, mesmo com a diferença de altura entre os dois era estranhamente confortável, e seguro...

  Os dois seguiram em linha reta, naquela rua com grandes árvores, era estranho para Levi, o quanto, era agradável aquele momento. Depois de andar um pouco a mulher parecia voltar aos poucos para si, suas mãos já não tremiam, e parecia menos tensa, agora era algo calmo, como Levi quando via a neve, isso lhe dava um sentimento estranho.

  — Podemos ir a algum lugar, para comer-

  — A um bar! - a mulher interrompeu Levi antes que terminasse sua sugestão.

  — O que?!

  — Eu preciso beber alguma coisa, e-eu posso confiar em você?

  — C-claro -  Levi confirmou mesmo ainda receoso, não era tão normal ir ao bar com um estranho que tombou na rua.

  — Olhando melhor agora, eu conheço essa rua! Tem um bom lugar aqui perto, o que acha?

  — Acho que não tem problema...

  Era estranho para Levi, como a mulher mudou de água para o vinho, mas ainda curioso. O raso sorriso nos lábios da mulher lhe dava uma sensação estranha, ele sentia que aquele raso sorriso era normalmente brilhante e exagerado.

  A mulher começou a falar de várias coisas, parecia até uma criança contando do seu dia para sua mãe, o quanto amava animais e os que cuidava em casa, piadas e coisas engraçadas do seu dia a dia, o seu conhecimento em plantas e remédio e mais por aí, Levi apenas escutou tudo calado como sempre fez com qualquer pessoa, mas diferente das outras, todas aquelas baboseiras pareciam interessantes.

  O seu quarto aniversário de casamento certamente seria bem único, conversando sobre furões com uma mulher que esbarrou na rua e por acaso precisava de ajuda, parecia o começo de algo novo para Levi...
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