A casinha amarela desbotou.
A torta de limão acabou
e perdi a receita.
O balanço da mangueira
emferrujou as correntes,
e agora toda vez
que o vento sopra
ele faz um barulho
esquisito.
O caminho de pedras
até a casinha amarela,
sumiu na grama alta.
Lembro da época
que eu precisava pular
a grama para
andar sobre ela.
As plantas ao redor
da casa estão
com uma cor
diferente.
O telhado está repleto
de folhas.
A vovó me contava
todas as vezes
a história de seu
casamento.
"Assim que o casório
acabou, o seu vô me colocou
sentada em um cavalo branco lindooooo, se chamava 'Pataca'.
Naquele dia o
cavalinho pataca
andou por horas,
como se o tempo
não passasse.
Andou tanto,
que cheguei a pensar
que estávamos
perdidos.
Ou que não sabíamos,
onde ir.
E então,
chegamos a uma
montanha que,
por causa do
sol sua grama
parecia fogo.
O cavalinho subiu
a montanha devagar...
A paisagem era linda!
Mas, no meio de tudo,
seu vô,
escolheu olhar
para mim.
Ele não tirava os
olhos de mim.
Seus olhos eram lindos!
claros como o sol.
Quando finalmente
o cavalinho parou,
no topo da
montanha,
o sol estava se pondo.
E parecia que tínhamos
chegado ao lugar certo, na
hora certa,
E que o cavalinho
Andou na velocidade
Exata."
Todos os dias
a mesma história.
Sem nenhum detalhe
diferente.
E com a mesma
empolgação.
Ela me ensinava
todos os dias
o mesmo ponto do tricô.
Todos os dias
eu me apresentava
para ela como
Helena Vante Vaz"
Sua neta do meio,
mas ela esquecia e me chama por
Heli, o nome de uma das
Suas bonecas de pano.
Mas nunca reclamei
por não lembrar do meu nome,
pois sendo Helena,
Sua neta do meio,
Ou Heli,
ela nunca esquecia
de me amar.
Hoje fazem 184 dias
que a vovó foi embora
sem avisar.
Sinto falta dela.
Hoje voltei até a casinha amarela,
agora desbotada.
Sentei na grama,
e esperei o sol se pôr.
A cor do céu hoje,
em particular,
estava diferente.
Quando caiu a noite,
deitei sob a grama
e suspirei aliviada.
Virei a cabeça para o lado,
encostando
minha bochecha na grama,
e foi como vê-la ali
novamente.
Deitada ao meu lado,
como se eu pudesse tocá-la.
Encarei novamente o céu,
e contei cada estrela que
podia ver.
Precisava dormir,
ou então iria me afogar
em mim mesma.
Olhei para a lua enquanto
minhas lágrimas escorriam
Pelas minhas bochechas
até os meus ouvidos.
E mesmo que inúmeras vezes,
pedi uma última vez:
- Plutão.
Cansei de desenhar
no vidro embaçado da
janela em dias de chuva.
A lua cansou de mim.
E não responde mais
minhas cartas.
Então
pela última vez,
por favor,
devolva meu passarinho
azul.
Mesmo que precise
ser noite para sempre.
Queria que chovesse sempre,
assim o passarinho azul
voltaria para abrigar-se
no meu guarda-chuvas
amarelo, e para desenhar
no vidro abafado
da minha janela."Plutão, descanse."
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Out Me
Puisi... Helena foi até onde sempre é noite para descobrir algo sobre si. Mandou cartas a sua vó, mas plutão não as entregou. ... O passarinho azul que sempre cuidava dela, errou a janela; e já não havia mais desenhos no vidro abafado quando chovia.