Capítulo 09

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A casinha amarela desbotou.​
A torta de limão acabou
e perdi a receita.​
O balanço da mangueira
emferrujou as correntes,
e​ agora toda vez
que o vento sopra
ele faz um barulho​
esquisito.​
O caminho de pedras
até a casinha amarela,
sumiu na grama​ alta.​
Lembro da época
que eu precisava pular
a grama para​
andar sobre ela.​
As plantas ao redor
da casa estão
com uma cor​
diferente.​
O telhado está repleto
de folhas.​
A vovó me contava
todas as vezes
a história de seu​
casamento.​
"Assim que o casório
acabou, o seu vô me colocou​
sentada em um cavalo branco lindooooo, se chamava​ 'Pataca'.​
Naquele dia o
cavalinho pataca
andou por horas,
como​ se o tempo
não passasse.​
Andou tanto,
que cheguei a pensar
que estávamos​
perdidos.​
Ou que não sabíamos,
onde ir.
E então,
chegamos a uma
montanha que,
por causa do​
sol sua grama
parecia fogo.​
O cavalinho subiu
a montanha devagar...
A paisagem era linda!
Mas, no meio de tudo,
seu vô,​
escolheu olhar
para mim.​
Ele não tirava os
olhos de mim.​
Seus olhos eram lindos!
claros como o sol.
Quando finalmente
o cavalinho parou,
no topo da​
montanha,
o sol estava se pondo.​
E parecia que tínhamos
chegado ao lugar certo, na​
hora certa,
E que o cavalinho
Andou na velocidade
Exata."​
Todos os dias
a mesma história.
Sem nenhum detalhe​
diferente.
E com a mesma
empolgação.​
Ela me ensinava
todos os dias
o mesmo ponto do tricô.​
Todos os dias
eu me apresentava
para ela como​
Helena Vante Vaz"
Sua neta do meio,
mas ela esquecia e me chama por​
Heli, o nome de uma das
Suas bonecas de pano.​
Mas nunca reclamei
por não lembrar do meu nome,​
pois sendo Helena,
Sua neta do meio,
Ou Heli,
ela nunca esquecia
de me amar.​
Hoje fazem 184 dias
que a vovó foi embora
sem avisar.​
Sinto falta dela.
Hoje voltei até a casinha amarela,
agora desbotada.​
Sentei na grama,
e esperei o sol se pôr.​
A cor do céu hoje,
em particular,
estava diferente.​
Quando caiu a noite,
deitei sob a grama
e suspirei​ aliviada.
Virei a cabeça para o lado,
encostando​
minha bochecha na grama,
e foi como vê-la ali​
novamente.​
Deitada ao meu lado,
como se eu pudesse tocá-la.​
Encarei novamente o céu,
e contei cada estrela que​
podia ver.
Precisava dormir,
ou então iria me afogar​
em mim mesma.​
Olhei para a lua enquanto
minhas lágrimas escorriam​
Pelas minhas bochechas
até os meus ouvidos.
E mesmo que inúmeras vezes,​
pedi uma última vez:​
- Plutão.
Cansei de desenhar
no vidro embaçado da​
janela em dias de chuva.
A lua cansou de mim.
E não responde mais
minhas cartas.
Então​
pela última vez,
por favor,
devolva meu passarinho​
azul.
Mesmo que precise
ser noite para sempre.​
Queria que chovesse sempre,
assim o passarinho azul​
voltaria para abrigar-se
no meu guarda-chuvas​
amarelo, e para desenhar
no vidro abafado
da minha​ janela.

"Plutão, descanse."

"

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